É sob fogo que as pessoas demonstram a sua coragem e os seus princípios.
Fotografia: Tiago Petinga, Lusa
A deputada madeirense eleita pelo PS, Júlia Caré, como aqui já tivemos a oportunidade de salientar, nas anteriores votações da suspensão da avaliação na AR, tem sido um dos rostos dessa coragem.
Júlia Caré acredita que é preciso encontrar um «modelo de avaliação consensual» em alternativa ao actual modelo de avaliação do desempenho docente. Como disse ainda ao Diário há uns dias, «não se pode ignorar as manifestações e as contestações, é preciso ouvir os professores.»
Não é fácil ser dissidente na bancada parlamentar, com maioria absoluta, do partido socialista. Demonstra o apego a valores mais altos do que o passageiro apego ao lugar de deputado. Não há preço para a independência a a liberdade. Sem um centro de valores, sem uma antropologia, sem uma constituição pessoal, o ser humano verga consoante a direcção do vento.
A deputada madeirense recebeu por cá muitas críticas, desde o início do mandato, por não fazer isto e não fazer aquilo. Como se a solução fosse demitir-se ou ir para a comunicação social bater no governo. Internamente, no momento e locais certos, tomou posição. Assim a sua acção tem peso e repercução.
Atente-se à reacção do primeiro-ministro (“não gostou” de ver deputados do PS a votar ao lado da Oposição) após a votação favorável do grupo dos cinco - Manuel Alegre, Teresa Portugal, Júlia Caré, Eugénia Alho, Matilde Sousa Franco -, deputados socialistas à proposta do CDS-PP para suspensão da avaliação: «113 deputados, do PSD, CDS-PP, PCP, Bloco de Esquerda, Partido Ecologista, Luísa Mesquita (antiga deputada do PCP) e José Paulo Carvalho (antigo parlamentar do CDS-PP) e os cinco socialistas votaram a favor do diploma.» A afronta à disciplina parlamentar tem custos.
«A Alegre ninguém lhe toca, o mesmo é dizer, faça o que fizer, nem tentam que mude de ideias. Já as outras quatro deputadas têm sentido o peso da maioria. Muitas vezes (aconteceu no código laboral e na avaliação dos professores) chamadas pela direcção a reflectirem sobre as consequências. Não cedem mas sofrem!» (DN Lisboa 24.1.2009)
Muitas pessoas que têm criticado Júlia Caré na Madeira não teriam a coragem de mostrar tal desapego ao lugar («o debate disciplina/liberdade de voto segue, suspeita-se na próxima legislatura. E o grupo dos cinco ainda lá estará?», diz o artigo citado) e enfrentar o partido, «invocando consciência, coerência e respeito por quem os elegeu». Onde estão essas pessoas agora a enaltecer a sua determinação?
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Pela primeira vez... ela votou contra o PS..
ResponderEliminarJá deve saber que não faz parte das listas...
Viva.
ResponderEliminarNão foi a primeira vez, mas talvez a que teve mais impacto mediático. Mais não fosse pela reacção pública do primeiro-ministro sobre o assunto :-)