«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE
sábado, janeiro 24, 2009
Madeira em 1931
«Pratically all of Madeira's important industries have been introduced or supported by British imagination and interprise. Even the famous Madeira Wine owes its perfection to an English man».
Então, o que fizemos nós, «native people», em termos de empreendedorismo? Introduzimos o cultivo da cana-de-açucar (note-se que foi o "cubano" infante D. Henrique que resolveu mandar plantar na ilha da Madeira a cana-de-açúcar), que marcou a primeira fase de prosperidade económica da Madeira, nos séculos XV e XVI. Fizemos as levadas no século XIX.
Depois, como não havia cultura para tanto, fomos a força de trabalho para as ideias, a massa crítica, iniciativas (e lucro) dos outros. Conhecemos então a partir do século XVII outro período de crescimento económico, graças ao vinho.
As indústrias do bordado Madeira, do vime e Turismo, além do Madeira Wine, têm a marca da iniciativa inglesa:
O bordado Madeira, diz o filme, não é uma «native industry». Terá sido introduzida, em 1850, por uma «interprising English woman» que fundou uma escola e lá ensinou o que aprendera noutras paragens.
A indústria do vime, «wickery industry» ou «wicker work», deve-se também a uma «English woman», que trouxe uma cadeira de Inglaterra. Em vez dos «natives» andarem desocupados, poderia ser-lhes ensinado algo de útil.
O Turismo, a principal indústria da Madeira ainda hoje, não foi uma iniciativa nossa: «A indústria do Turismo também cresceu bastante, inicialmente através do Turismo Terapêutico. De facto, a partir de meados do século XIX, uma série de médicos ingleses e alemães, recomendaram a amenidade do clima madeirense, como um possível remédio para as doenças pulmonares e muitas pessoas procuravam o Arquipélago da Madeira» (História da Madeira - Uma visão actual).
Estou a lembrar-me que o fogo-de-artifício do fim-do-ano, o pincipal cartaz turístico da Região, foi também introduzido pelo Hotel Reid's: «em 1922, o Reid's Hotel decidiu lançar fogo de artifício às zero horas do primeiro dia do ano.»
Segundo o pequeno documentário, até o antigo carro de bois, que ainda cheguei a ver no Funchal em tenra idade, junto ao Palácio de São Lourenço, na Avenida do Mar empedrada, foi introduzido por um oficial inglês.
Por isso, mesmo apontando alguma exploração da força de trabalho, a Madeira muito deve aos ingleses e às suas famílias, que agora a malta da Madeira Nova desdenha. Ao menos dinamizaram a economia sem dinheiro da União Europeia.
Até o movimento insurrecional contra a Ditadura Militar, formado pelas Revoltas de 1931, curiosamente a data atribuída ao documentário postado aqui, tiveram como mentores (cabecilhas), nos papeís principais, malta fora da Madeira. Os madeirenses foram sobretudo protagonistas como «força de trabalho» (e «carne para canhão»).
Não é por acaso que a Revolta da Madeira é definida como sublevação militar e não como sublevação popular, apesar da população ter tido a coragem e o mérito de viabilizar a revolta indo para as ruas em seu apoio - pelo menos até à chegada do potente contingente militar de Lisboa...
A alegada falta de medo, o espírito crítico e revolucionário de luta pela liberdade e pela democracia dos madeirenses, a ser efectivo, deveria ter gerado mais episódios de revolta na Madeira, durante a Ditadura - nos longos 43 anos até que chegasse o 25 de Abril de 1974 -, desde que os chefes revoltosos de 1931 (entre eles "cubanos" deportados para a ilha) foram desterrados para Cabo Verde. Nem digo acções espectaculares e grandiosas, mas uma resistência mais activa e incómoda para o regime de Salazar. Algo que se visse. Como me lembrava alguém, a FLAMA só aparece após o 25 de Abril para conter uma deriva comunista.
Não havia cultura e massa crítica na altura e a mentalidade não mudou. De que somos agora capazes sem dinheiro da UE? Soubemos "desenvolver" a indústria da construção nas últimas décadas. Bastou contratar empresas.
A cultura e a mentalidade de fundo mantém-se, coisa menos coisa, como na data do documentário. E somos desenvolvidos?
Se pensarmos que em termos escolares os resultados não são razão de orgulho... Pior do que isso, assistimos a uma crescente atitude negativa perante o trabalho, o conhecimento (saber não é poder por aqui) e a disciplina pessoal e cidadã.
Significa apenas que nem tão cedo recuperaremos do nosso atraso secular. Massa crítica e empreendedorismo é uma miragem. O meio não estimula. O ambiente na Região é pouco competitivo, as oportunidades são escassas, os estímulos são limitados, o espaço para as pessoas crescerem e progredirem é reduzido.
Recorde-se:
A lição de Monteiro Diniz
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A Madeira Nova vem de há algum tempo a tentar capitalizar a revolta da farinha como se ela tivesse sido feita por madeirenses. Quem a estudar perceberá que não o foi e que a participação popular consistiu no saqueio dos armazéns! Quanto à pretensa "resistência" posterior que durou um mês não passa de um mito associado à tecnologia da época. Como seria natural não era fácil e rápido mandar no dia seguinte, por mar, um contingente para repor a "ordem"!
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