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«The older you get, the less you give a fuck.»
MC Dalek
(Rock-A-Rolla #18)
Uma vantagem do envelhecer é, precisamente, termos cada vez menos a perder e, na mesma medida, acresce a liberdade para dizer aquilo que pensamos, realmente, doa a quem doer. Lembro-me, por exemplo, de Vasco Pulido Valente ou de Medina Carreira..., que temos citado por aqui.
Mas, Rubem Alves, coloca a questão de uma forma mais detalhada, no seu livro As Cores do Crepúsculo - A estética do envelhecer (ASA, 2004, p78):
«A velhice tem muitas coisas boas. Nela eu conheci a liberdade como nunca havia experimentado. O que é a liberdade? Liberdade é coragem de ser o que somos. É preciso coragem para ser o que se é.
Nietzche notou que "mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece". Sabemos, mas não temos coragem para assumir...
Albert Camus, ledor de Nietzche, percebeu que a velhice é o momento quando se ganha a coragem necessária: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Talvez porque, na velhice, pela proximidade da morte, não se tenha mais nada a perder.
Quem tem o que perder é cuidadoso. Sabe que há muitos olhos à espreita. Os olhos que nos observam amedrontam-nos. Convidam-nos à prudência. Escondemo-nos. Usamos máscaras. Sabemos que a sociedade é cruel. Ela castiga aqueles que são diferentes [e aqueles que ousam desnudar e desnudar-se, acrescentamos nós].
Dizia Álvaro de Campos: "Somos o intervalo entre o nosso desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de nós". Intervalo? Mas intervalo é um espaço vazio! Somos um espaço vazio? Um não-ser? Somos feitos pelos desejos dos outros? E assim não temos coragem de ser o que somos?
Mas na velhice não temos mais nada a perder. Tornamo-nos discípulos do "anjo instrutor". Que anjo é esse? Acho que é a morte, grande mestra da sabedoria. Diante da morte - a perda definitiva -, que outro medo poderemos ter? Não há nada que se compare ao seu toque.
Não tendo nada a perder, experimentamos a euforia da liberdade. Recebemos uma graça que pertence aos deuses: tornamo-nos invulneráveis. Podemos ser o que somos, sem medo. Já nem vemos os olhares dos outros...»
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