Os professores estão a funcionar como os bodes expiatórios que assumem ou carregam todas as falhas sociais. O estudante é deixado à mercê do laxismo e não assume a responsabilidade no seu percurso e sucesso.
O actual governo de José Sócrates, com a campanha de afrontamento e desvalorização pública que fez desta classe profissional, contribuiu muito para acentuar esse estatuto de bodes expiatórios, que assumem a responsabilidades e insuficiências de terceiros, incluindo a responsabilidade das políticas educativas feitas pelos governos. O ataque empreendido aos professores é um mau serviço à sociedade e vamos levar anos a recuperar.
Pensa-se também que basta a pedagogia para o estudante ter sucesso. Não basta. O estudante tem peso e tem responsabilidade no seu percurso. É isso que deixou de acontecer, como ilustra o cartoon acima reproduzido.
Passou-se de um extremo para o outro. Em 2009, mesmo que o estudante seja indisciplinado, não tenha motivação intrínseca e tenha uma atitude negativa perante o trabalho escolar/intelectual, a culpa é sempre do professor, esse semi-deus que pode fazer um estudante ter sucesso escolar com as posturas atrás descritas.
Como se aprender fosse possível sem disciplina pessoal, sem concentração, sem empenho. Enquanto assim acontecer, o professor assumir as responsabilidades dos outros actores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem e na educação, não vamos a sítio nenhum.
A pressão tem de voltar a estar também em cima dos alunos e das famílias. O laxismo e o facilistismo em que caiu a sociedade portuguesa afastam-na da tão desejada produtividade, que nos faça sair da cauda da Europa, onde desgraçadamente teimamos em permanecer. Sem rigor, sem trabalho, sem disciplina e sem as consequentes qualificações e competências nunca mais saíremos do pelotão dos últimos.
O sucesso de uma pessoa, incluindo a actividade enquanto estudante, depende sobretudo de si próprio. É uma verdade básica e simples, mas que se esquece. Pelo contrário, a ideia dominante que o sucesso escolar dos estudantes depende sobretudo do docente é um lirismo, uma utopia, desvalorizando-se a importância decisiva da atitude dos formandos perante o trabalho escolar e das suas atitudes pessoais e valores, na escola e salas de aula.
Nem nos utópicos regimes comunistas se acreditava que o sucesso dos indivíduos dependia sobretudo de terceiros. Os exigentes sistemas educativos não faziam o sucesso dos estudantes depender sobretudo do professor. Este contava com disciplina e trabalho por parte dos estudantes. Sem essas duas premissas o professor pode fazer o pino com um dedo que não faz milagres.
Como tive ocasião de ler recentemente, Escartí e Gutiérrez (2006) frisam que diversas investigações (Cecchini et al., 2004; Escartí y Gutiérrez, 2001; Ferrer-Caja y Weiss, 2000; Goudas y Biddle, 1994; Kavussanu y Roberts, 1996; Mitchell, 1996), no âmbito da Educação Física e desporto, revelaram que o tipo de motivação que leva os sujeitos a realizar mais esforço, apresentar maior perseverança e obter um maior grau de satisfação é a motivação intrínseca.
Não significa que o professor não tenha influência, não potencie determinadas qualidades nos estudantes, não possa cativar alguns alunos, mas não consegue fazer sucesso da inércia e da ausência de trabalho ou da indisciplina recorrente e insistente. Quando não existe o mínimo de predisposição face ao trabalho intelectual e ao civismo por parte do estudante é difícil o professor fazer milagres. Estes às vezes acontecem, mas é impossível generalizar milagres para todo o sistema educativo...
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