Paula Moura Pinheiro, ao Diário, refere que é «lamentável que o saber não seja mais valorizado.» É o que se sente nas escolas. Nem valorização do saber, nem valorização de valores como o esforço ou a disciplina.
«Há uns anos entrevistei uma dupla de tradutores de russo que contaram que, nos últimos anos da União Soviética, subornavam-se polícias com livros», o que seria impensável no nosso país, em que seria encarado como algo ofensivo.
«Sabemos que em Cuba não há sabonete, mas o nível de literacia e número de escritores cubanos interessantes são incríveis», afirma a apresentadora do Câmara Clara. Isto é, Cuba vive sob uma ditadura de esquerda, mas o conhecimento é valorizado. Um exemplo, no que toca à atitude perante o saber, para uma certa esquerda e uma certa direita.
Paula Moura Pinheiro pinta o quadro em que nos movemos em Portugal:
«Temos uma longa história de iliteracia que nos distingue pela negativa dos restantes países europeus.
Há 40 anos ler era entendido pela maioria das pessoas como algo ocioso e inútil. Há imensas passagens na literatura portuguesa, no século XIX, em que se fazem piadas sobre isso. O Eça, o Camilo brincaram com essa desconfiança estrutural que este povo muito iletrado tem com tudo o que seja actividade intelectual, cujo resultado prático não se vê imediatamente. Este foi o sentimento dominante durante décadas.
As novas investigações em neurologia deixam claro que o cérebro de um leitor é diferente de um cérebro de um não leitor. Tem mais ligações nervosas, está desenvolvido de outra maneira. Portanto, quando falo de leitura é porque tem um impacto maior do que as pessoas imaginam. O efeito que isto tem nas pessoas é muito mais fundo. Se me pergunta se as pessoas aceitam que é importante saber pensar? Claro que não. Por isso é que nós tentamos tornar atraente algo a que as pessoas resistem.»
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