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«Há uma fase inicial de preparação, que tem a ver com disciplina, com esforço, valores que se confundiram. Durante décadas a escola foi sendo esvaziada da disciplina e do método. Os meninos têm que estar muito contentes na escola, têm que estar sempre divertidos. Isto é um erro, não estou a fazer a apologia da reguada, mas estou a dizer que há aqui uma zona de esforço que não é negociável. As pessoas têm que desenvolver recursos internos, construir o seu património. Quem tem esse património interpreta a realidade de outra forma, defende-se melhor, antecipa melhor as situações, consegue imaginar melhor, arranja mais depressa solução para situações de impasse, arranja maneira de sair. A utilidade, a aplicação prática - que é uma obsessão contemporânea - é incomensurável.»
[Paula Moura Pinheiro (Câmara Clara - RTP2): Revista Diário (14.06.2009)]
Será que é assim tão difícil perceber coisas tão simples? No sistema educativo parece que as verdades simples e evidentes se tornaram indecifráveis. O facilitismo e o laxismo são lei, são uma mentalidade que tudo domina e impõe.
E saem alunos da escola pública, que se diz inclusiva (basicamente no sentido que mantém os alunos dentro das paredes da escola, todos «divertidos», mesmo que aprendam pouco ou nada enquanto lá estão, não importa: assegura-se acesso mas não o conhecimento e o sucesso), sem o «património» de que fala Paula Moura Pinheiro, que não é mais do que competências e ferramentas (estas, sim, inclusivas) para a vida.
A escola que não lhes dá esse património, mesmo que os alunos sejam diplomados, está a criar exclusão, isto é, a fazer com que esses estudantes/cidadãos abracem a exclusão pela vida fora.
A maioria dos estudantes tem na escola pública a única hipótese de mobilidade social (de ser alguém na vida e sair do buraco onde nasceram). Se é tudo feito a brincar, com a indisciplina e a ausência de esforço generalizados, estamos a criar exclusão e a cercear futuros na escola.
Na escola, actualmente, não só a tal «zona de esforço» é negociável, como está tudo montado de cima a baixo para não haver esforço. Nem esforço, nem disciplina, nem muita outra coisa. Está-se a criar exclusão intelectual (do saber), mesmo que mantenha os estudantes na escola (inclusão física).
Oh que raio. Ninguém vê o evidente? Ninguém quer ver o evidente? Os partidos políticos que andam a propor medidas para aprofundar o laxismo e o facilitismo (exclusão social) na escola pública não poderiam fazer o favor de falar verdade?
A propósito:
40: Responsabilizar outros actores e não só os docentes
39: Professor bode expiatório
38: Bandalheira instalada na pública favorece a privada
37: Défice de atenção e insucesso escolar
36: Demasiado tempo (não rentabilizado) na escola
35: De utopia em utopia até ao laxismo total III
31: Responsabilizar os estudantes pelo seu desempenho
30: Onde falhamos nós no público
29: Regras e responsabilização das crianças
28: Inflacção de notas
27: Responsabilização
26: Inconformismos
25: Enfrentar a realidade antes que ela nos engula
24: Laxismo e facilitismo significam exclusão social
23: Leste arrasa postura desculpabilizante
22: valores do Trabalho e da Responsabilidade moribundos na escola
21: Intervir contra a indisciplina III
20: Intervir contra a indisciplina II
19: Intervir contra a indisciplina I
15: Violência (des)camuflada IV
13: violência camuflada III
12: violência camuflada II
11: Racionalidade e realismo precisam-se
10: educação infantil em Portugal (Eduardo Lourenço)
9: nem ditadura por disciplina nem a ditadura da indisciplina
7: violência camuflada I
1: condições de trabalho
Outros:
Complexos de esquerda = facilistismo
Laxismo pós 25 de Abril trama Educação
Escola ideal é diferente da escola real
Brincamos mesmo
País de brincalhões
Fomentos da indisciplina [quando o exemplo nem vem de cima]
E assim, aos poucos, constrói-se o que será no futuro uma sociedade subserviente, onde todos olham na mesma direcção. Não será chamado ditadura porque o povo concordará, através de fenómenos como a abstenção, com tudo o que é decidido pelos órgãos de chefia.
ResponderEliminarO programa Câmara Clara é do melhor que se fez neste país a nível de programas de esclarecimento e de verdade. É bom que se guarde bem o que ali é dito pois um dia olharemos para trás e com vergonha chegaremos à conclusão que o que deveria ter sido feito na altura certa, foi propositadamente "não feito"