O conhecimento tem de ser valorizado e a escola tem de ser encarada como algo sério, que implica trabalho, esforço e disciplina.
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«Testes responsabilizam as crianças», refere uma notícia da Lusa no dia em que os estudantes do 4º e 6º anos fazem provas de aferição.
Embora os testes não meçam todas as competências, «tanto especialistas de educação como pais defendem as provas de aferição como meio de preparar os estudantes para desafios mais rigorosos», na medida em que «contribuem para incutir nas crianças o sentido de responsabilidade, prepará-las para desafios futuros e melhorar o ensino.»
Depois do 25 de Abril de 1974 passou-se a ideia que tudo era fácil e que a escola era mais um local de entretenimento. É com bons olhos que assistimos a uma nova onda de pensamento em que a responsabilidade do sucesso esccolar não cabe apenas aos professores ou aos políticos, mas também às crianças e encarregados de educação.
«Para as crianças é bom habituarem-se a estes testes, numa perspectiva de auto-responsabilização, porque se passarem muitos anos sem serem submetidas ao rigor poderão não interiorizar essa responsabilidade», defendeu o vice-presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, António Amaral.
O sucesso de uma pessoa, incluindo a actividade enquanto estudante, depende sobretudo de si próprio. É preciso contrariar a ideia dominante que o sucesso escolar dos estudantes depende sobretudo do docente ou dos pais, desvalorizando-se a importância decisiva da atitude dos formandos perante o trabalho escolar e das suas atitudes pessoais e valores, na escola e salas de aula.
Até certa altura pensou-se que, para o estudante ter sucesso, não precisava de empenhar-se, realizar esforço ou autodisciplinar-se. Bastaria ter um bom professor, empunhando a pedagogia certa, para cada um dos seus alunos, cativando milagrosamente para a aprendizagem quem não quer aprender e liderando de forma a resolver a indisciplina generalizada com "panhinhos quentes", como se a sala de aula fosse um laboratório (espaço utópico) à parte da realidade social e cultural.
O trabalho do docente enquanto orientador, facilitador e gestor de condições de aprendizagem, nunca pode susbtituir o trabalho e a atitude de cada estudante no processo de aprendizagem.
Enquanto a pressão e a responsabilidade do sucesso escolar de quem aprende estiver, sobretudo ou quase em exclusivo, sobre o professor, os resultados escolares não melhoram. A função do professor não é trabalhar em vez do formando.
Recorde-se outros textos da série:
30: Onde falhamos nós no público
29: Regras e responsabilização das crianças
28: Inflacção de notas
27: Responsabilização
26: Inconformismos
25: Enfrentar a realidade antes que ela nos engula
24: Laxismo e facilitismo significam exclusão social
23: Leste arrasa postura desculpabilizante
22: valores do Trabalho e da Responsabilidade moribundos na escola
21: Intervir contra a indisciplina III
20: Intervir contra a indisciplina II
19: Intervir contra a indisciplina I
15: Violência (des)camuflada IV
13: violência camuflada III
12: violência camuflada II
11: Racionalidade e realismo precisam-se
10: educação infantil em Portugal (Eduardo Lourenço)
9: nem ditadura por disciplina nem a ditadura da indisciplina
7: violência camuflada I
1: condições de trabalho
Outros:
Complexos de esquerda = facilistismo
Laxismo pós 25 de Abril trama Educação
Escola ideal é diferente da escola real
Brincamos mesmo
País de brincalhões
Fomentos da indisciplina [quando o exemplo nem vem de cima]
[O assunto não fica por aqui. A luta pela racionalidade continua em próximos textos, neste blogue]
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