É preciso cuidar de valores basilares nas escolas públicas madeirenses, como o Trabalho e a Reponsabilidade. Com urgência.
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«A formação que, no PSD/Madeira, é feita junto da Juventude, consciencializa para a necessária simultaneidade de Direitos e Deveres. Ensina que o preço da Liberdade é a Responsabilidade, e que a preguiça e o desleixo comprometem-Na. Prepara para o culto do Trabalho em liberdade e para o respeito devido a cada Ser Humano, bem como para a imprescindibilidade da Eficiência.» (Alberto João Jardim, em artigo intitulado "Uma juventude preparada", no Madeira Livre de Fevereiro de 2009)
Pena que esta formação para os Deveres, além dos Direitos; para a Responsabilidade; para o Trabalho (contra a preguiça e o desleixo) e a Eficiência não tenho eco na juventude em geral, nas escolas da Madeira, salvo raras excepções. E alguém tem de alertar o Governo Regional para essa realidade.
O que é que temos?
Como disse Marco Gomes, director da Escola da APEL, escola privada madeirense, que durante cinco anos foi director pedagógico do Colégio Manuel Bernardes em Lisboa, no Diário de 30.10.2008, «não tenho dúvidas de que os alunos madeirenses são diferentes dos de Lisboa», onde a «competição, o esforço e o tempo dedicado aos estudos era muito maior». Acrescenta que não é fácil motivar quem chega desinteressado, «quem não está disposto ao sacrifício e a estudar».
Há males que atingem a formação da juventude no país, mas sentem-se com mais insistência na Madeira. Nomeadamente a normalização da cultura de laxismo e facilitismo, isto é, da atitude negativa perante o trabalho intelectual e perante a disciplina na sala de aula, bem como a justificação da irresponsabilidade individual pela origem social, o nível socio-económico ou contingências da vida, numa postura de condescendência.
Como se compreende que a disciplina e a cultura de trabalho não sejam encaradas e exigidas como premissas básicas a serem observadas pelos estudantes no processo de ensino-aprendizagem, obrigando o professor a um braço de ferro todos os dias, em cada aula e a cada momento da aula para impor, à força, essas condições?
É lamentável que se espere do professor que se imponha, com violência, para equilibrar a realeza individual de estudantes sem civismo, incapazes de comportamento auto-determinado ou do cumprimento de deveres básicos como o dever de respeito pelo direito à aprendizagem dos outros alunos, consignado em lei, e não se prevejam as consequências perversas, na formação da juventude, de um ensino feito à base de professores-generais, de marcação cerrada, ou de professores-cowboys, disparando contra tudo o que se mexa, com elevado desgaste pessoal.
É também lamentável o discurso, assente num mito, de que a disciplina na escola e na sala de aula está apenas dependente do professor, sobretudo quando é deixado sozinho - sem autoridade, sem base para a acção disciplinar, num ambiente de impunidade. «Os professores são deixados sozinhos e sem meios sobre a indisciplina crescente» diz Daniel Sampaio (revista Pública 4.1.2009).
E surge uma outra ideia cómoda, mas igualmente utópica, de que a pedagogia e o professor podem, por milagre, fazer aprender quem não trabalha, não estuda, não valoriza o saber.
É triste constatar que, enquanto noutras culturas europeias (para nem falar nas culturas orientais ou da Europa de Leste), ser um aluno preguiçoso, indisciplinado e de insucesso é uma vergonha, no nosso meio é aceitável e até popular. É triste que o conhecer e o saber seja tão desvalorizados.
É pena que o rigor, a disciplina e o esforço pessoais continuem a ser conotados com valores fascistas pelos complexos ideológicos do pós-25 de Abril de 1974, mas se dê tanto espaço à ditadura da indisciplina.
É pena ainda que se discipline mais os docentes e funcionários do que os alunos-REI, deixados num limbo de irresponsabilidade e impunidade, caminho aberto para as mais diversas pulsões narcisistas e exibicionistas.
Por fim, é lamentável que se ignore a realidade como esta proferida por Medina Carreira: «com gente indisciplinada, pode (até) levar para lá um professor catedrático. O professor catedrático não ensina nada porque eles não deixam ensinar.» (SIC 3 de Julho de 2008)
Seria bom quem de direito procurasse resolver a enorme falta de Reponsabilidade (Disciplina individual) e Trabalho - os tais valores basilares a que alude o presidente do Governo Regional no Madeira Livre -, que impera pelas escolas madeirenses, como se fosse a coisa mais normal neste mundo. Os resultados escolares nunca melhorarão neste estado de coisas.
E tem de ser a direita a actuar porque a esquerda mantém uma postura desculpabilizante (não só a partidária, mas incluindo sindicatos e movimentos pedagógicos), pela sua natureza ideológica e pelos seus enormes complexos sobre estas questões, que a impede de aderir à realidade e resolver os respectivos problemas.
Por isso, é surpreendente que a Madeira, com governação social-democrata, não seja capaz de fazer com que sejam observados esses valores na Escola, por parte dos estudantes, para que possamos melhorar os resultados escolares e termos, no futuro, gente mais empreendedora, mais trabalhadora, mais responsável, para haver mais progresso cultural, social e económico na Madeira.
Quem quer bem à sua terra preocupa-se com este estado de coisas nas escolas, que irá condicionar o nosso futuro colectivo, além de dar cabo da Alegria, a que alude também Alberto João Jardim no texto citado («no tocante à Formação da Juventude, cultiva-se sempre o dom da Alegria, como base fundamental para o sucesso») que estudantes e professores deveriam viver na Escola e não vivem.
Recorde-se:
Indisciplina por resolver nas escolas da Madeira
Menor qualidade e fraca atitude dos estudantes madeirenses
Complexos de esquerda = facilistismo
Laxismo pós 25 de Abril trama Educação
«Apostar a sério da Educação», para quando?
Elementos sobre o Estado da Escola Pública 21: intervir contra a indisciplina III
Simpatizei com este texto e subscrevo-o (na vertente redutora em que se posiciona).
ResponderEliminarSó que, tal como tantos outros textos escritos por pessoas altamente sensibilizadas e competentes na matéria, também este acaba por não passar do arrolamento dos problemas e do desfiar de um rol de desejos.
Os propensos a este exercício nunca concretizam as soluções e quando o fazem confundem-nas com uma mescla de boa intenções. É o eterno medo latino de se afeiçoar às decisões ousadas e difíceis.
O amigo quer a única solução possível para resolver o problema que aqui expõe? - Não tenha complexos de reduzir a aparente complexidade das coisas à sua real significância: - Criem-se escolas públicas de elite! E se as escolas públicas têm pudor em trilhar esse caminho, deixem os privados avançar livremente! Estimulem-nos a prosseguir esse objectivo! Criem-se turmas de elite! Um conceito abrangente de elite: promovam a excelência! Sem complexos nem dramas! Construam e dediquem o vosso empenho na criação de um sistema que, sendo estruturalmente justo, permita a todos ascenderem e a aspirarem à “excelência”; mas que simultaneamente deixe cair, desapiedadamente, todos aqueles que, consciente ou inconscientemente, geram entropias paralisantes a este sistema; aquele que, assim procedendo, nos deixam contagiar pelo abraço fraterno da mediocridade, afundando-nos a todos, “bons” e “maus”, nesta piroga que representa hoje o sistema educacional em Portugal.
Sabe o professor porque é que os EUA são a nação mais poderosa do mundo? Pelo capitalismo? Pelas reservas de petróleo? Nem tanto. Praticamente desde a sua constituição, acolheram e incentivaram com entusiasmo todos aqueles que se destacavam com as suas capacidades, procuravam desesperadamente “os bons”, os mais inteligentes, os mais capazes, os mais ousados. Como é que o amigo analisa o sucesso estrondoso de universidades como Princeton, Stanford ou Harvard? Nelas, o sistema não permite que se prejudique os que dão o melhor de si. Sejam ricos ou pobres! Daí a grandeza desta opção: ricos e POBRES, não interessa!
Alguma Europa, ao contrário, não se revê nessa visão. A sua cultura, ancestralmente fundada nos valores judaico-cristãos, convive mal com as ideias da competição, do mérito, do prémio, do destaque, ao mesmo tempo que encara mal o castigo, a penalização, o ostracismo - não quer ouvir falar de uns nem dos outros. Olhe que chatice!! E o senhor tem problema em castigar um indisciplinado ou impertinente? Eu não! Em minha opinião sempre haverá analfabetos, sempre haverá gente a trabalhar nas obras e sempre haverá bandidos na cadeia.... Porque não assumir isso de vez ao invés de estarmos como fantochadas de alemjar que todos, TODOS, os jovens nacionais tenham o 12.º ano!?!
E assim continuamos a discutir o sexo dos anjos e a perder o pouco que nos resta de dignidade enquanto povo – sim, porque um povo sem educação nem instrução pouca capacidade tem para promover a sua defesa e o seu desenvolvimento.
E por favor, não me venha com o discurso de que “as coisas não são assim tão simples….”. São!!!! Acabam por ser.
Obrigado pelo comentário.
ResponderEliminarÉ claro que a abordagem é específica, no que toca à disciplina e ao civismo nas salas de aula. Não procurou ser uma leitura exaustiva, a questão prende-se com muitas outras variáveis, mas visou apenas deixar um alerta.
Independentemente do contexto social, cultural e económico, dos sinais dos tempos, do melhor ou pior desempenho dos professores, das condições materiais das escolas, entre outros aspectos, que têm repercussões na vida das escolas e nas salas de aula, é preciso actuar.
Embora estejam implícitas algumas pistas, eu não quis ter a pretensão de apontar soluções concretas e explícitas, para já.
Já seria muito bom que o problema da indisciplina (tudo o que perturba o processo de ensino aprendizagem e não apenas a violência bruta) nas salas de aula fosse assumido. Porque não é. Enquanto a negação persistir nunca haverá actuação.
Tenho a consciência que, se o problema arrastar-se por muito mais tempo, com o descrédito da escola pública, terão mais hipóteses de vingar as soluções mais drásticas, como a criação de escolas de elite, como acontece em muitos países europeus. A partir dos 12 anos uns seguem a via profissionalizante e os que querem realmente estudar seguem outra via. Reconheço que são mais realistas, eficazes e mais de acordo com as vicissitudes da natureza humana.
É claro que nós sabemos que isto implica discriminação social. São os filhos das classes sociais mais baixas que acabam nos currículos profissionalizantes. Mas, se calhar é a forma mais realista de lidar com a bandalheira e o laxismo instalados, ao ponto de uns não deixarem os outros alunos aprender e os professores ensinar. Concordo em pleno quando o amigo diz que o «sistema não permit[ir] que se prejudique os que dão o melhor de si.»
Se quem mais precisa não quer saber do saber e não há forma de educar a vontade e exigir trabalho, disciplina e responsabilidade, então sejamos mais práticos e menos hipócritas.
A Escola da Ponte,uma escola pública na Vila das Aves, um exemplo de inclusividade, de trabalho, disciplina e bons resultados escolares, sobretudo na liderança de José Pacheco, não confundiu inclusão com laxismo/facilistismo ou paninhos quentes. Inclusão faz-se com trabalho, exigência e responsabilidade. Para que os jovens cresçam e evoluam.
A actual situação de apenas APARENTE INCLUSÃO é que não pode continuar. Desta forma a escola não é inclusiva porque não prepara os jovens para a realidade da vida. Esta, sim, é uma exclusão bem mais profunda porque condiciona toda a vida futura das pessoas.
Eu defendo a inclusão, o apoio emocional, social e escolar a quem precisa de ajuda, mas nunca pactuar com irresponsabilidade, indisciplina e a violação dos direitos dos restantes alunos à aprendizagem. Uma condescendência que não liberta nem ajuda as pessoas. Apenas as torna mais dependentes e nunca assumem o peso da responsabilidade e acção individuais no vencer dos seus problemas e dificuldades.
Não se desresponsabilize os indivíduos no papel que têm na condução do seu destino. A culpa não está toda no exterior, na sociedade, no outro. O indivíduo não é um joguete. Quem aprende tem de empenhar-se. Não há pedagogia que faça um estudante aprender se este não trabalhar e não estudar.
O que me espanta é a Esquerda, que é também meritocrática, mas não age como tal em matéria escolar. É prisioneira dos complexos que ainda conotam exigência, discplina e rigor com valores fascistas. Por isso, prefere Liberdade sem a correspondente dose de Responsabilidade individual.
Pensa-se que os instrumentos (factores exteriores) substituem o trabalho, o esforço e a disciplina por parte de quem aprende. Totalmente errado.
Os estudantes não estudam apenas por ser poético e dar prazer. Não é espontâneo. É preciso esforço, trabalho, disciplina. Ora, muito boa gente parece não conhecer a natureza humana. Pensa que o ser humano está naturalmente vocacionado para a cultura escolar, com alegria e prazer, sem a sua vontade ser educada, sem ser disciplinado, sem criar hábitos de trabalho.
Eu também gostaria de poder mudar o mundo a partir da sala de aula, empunhando a Pedagogia e a competência profissional. Mas, é uma ilusão flagrante pretender criar o aluno ideal ou um Aluno Novo. Na História, outros tentaram criar um Homem Novo e vimos as atrocidades que cometeram no caminho para esse objectivo utópico, apesar de belo e inspirador. Tão belo que tudo justificava para o alcançar...
Como disse alguém, o «caminho do facilitismo [e do laxismo cívico nas escolas] não é opção porque o mundo não é assim.»
É preciso persistir na esperança, na criação de um mundo melhor e de dias mais claros, mas com o mínimo de realismo. "Romantico ma non troppo."
Abraço.