O mesmo governo que tanto apregoa a «disciplina democrática» é romântico-esquerdista em termos educativos: não consegue colocar disciplina (e trabalho) aos estudantes nas escolas, a ver se esta gente aprende mais e tem mais sucesso escolar, para que a Madeira deixe de ficar no fundo das estatísticas dos resultados escolares.
«Indisciplina em alta» e «indisciplina escolar por resolver» são títulos hoje do Diário, baseados nos dados do programa "Escola Segura". «A indisciplina continua a gerar cada vez mais queixas nos estabelecimentos de ensino da Região.»
Diz o jornal que «estão a crescer os casos de insultos e ameaças nos estabelecimentos de ensino da Região», o que «poderá significar um aumento da indisciplina no interior das escolas, a par da redução das situações de falta de segurança associadas aos roubos, droga, actos de vandalismo ou roubos.»
Revela-se ainda que em «2007-2008 a insegurança foi superior dentro dos muros das próprias escolas», «embora não necessariamente nas sala de aulas.»
E aqui está a mistificação sobre o interior das salas de aulas. Há muita coisa que fica calada dentro das salas, onde reina, cada vez mais, a chamada indisciplina camuflada, ou de baixa intensidade, que na maioria das vezes nem é relatada ou denunciada pelos professores.
Esta disciplina camuflada provoca elevado desgaste psicológico e emocional dos docentes e põe em causa o direito dos restantes alunos da turma à aprendizagem, violando o que está na lei relativamente aos estudantes, no Decreto Legislativo Regional nº 26/2006/M de 4 de Julho:
«Reconhecer o direito à educação e ensino dos outros alunos», isto é, o direito de «ter[em] acesso a uma educação de qualidade que permita a realização de aprendizagens bem sucedidas.»
E há imensas turmas em que meia-dúzia de alunos indisciplinados violam o direito dos outros à boa aprendizagem de forma impune. As medidas que se tomam perdem efeito no reino da burocracia e da permissividade latina.
Enquanto na Região nos preocuparmos, apenas ou sobretudo, com os factores exteriores ao estudante (edifícios, meios tecnológicos, métodos didácticos e pedagógicos ou recursos humanos-docentes), como solução para a indisciplina e o insucesso escolares, nunca haverá solução.
Pensa-se que os instrumentos (factores exteriores) substituem o trabalho, o esforço e a disciplina por parte de quem aprende. Totalmente errado.
É uma visão esquerdista romântica de colocar o problema sempre na sociedade, no contexto, no exterior e nunca na responsabilidade individual de cada cidadão. (E que a Secretaria Regional de Educação fosse mais realista e menos romântico-esquerdista nesta matéria da disciplina e do esforço nas escolas por parte dos estudantes?)
Os meios podem ajudar ou facilitar, mas o cerne da aprendizagem está na atitude de trabalho e disciplina do aprendente, do estudante. Quando falta esta atitude, não há pedagogia, psicologia ou tecnologia que o faça aprender.
Resolver a indisciplina e a falta de trabalho que domina nas salas de aula das escolas por parte dos estudantes não interessa: não é visível para o exterior da escola e não dá votos. Assim, insiste-se numa atroz desresponsabilização dos estudantes desta Região e deste país.
O mesmo governo que tanto defende a apregoa a «disciplina democrática», não consegue colocar ordem nas escolas, a ver se esta gente aprende mais e tem mais sucesso escolar, a ver se a Madeira deixa de ficar no fundo das estatísticas dos resultados escolares.
Como a maior autoridade é o exemplo, é preciso que o exemplo também venha de cima.
Como disse alguém, o «caminho do facilitismo [e do laxismo cívico nas escolas] não é opção porque o mundo não é assim.»
Importante recordar:
- Fomentos da indisciplina [quando o exemplo não vem de cima]
- Elementos sobre o estado da Escola Pública 9: nem ditadura por disciplina nem a ditadura da indisciplina
- Elementos sobre o estado da Escola Pública 10: educação infantil em Portugal (Eduardo Lourenço)
- Elementos sobre o estado da Escola Pública 14: diploma universitário à nascença resolvia problemas da Educação
- Elementos sobre o estado da Escola Pública 1: condições de trabalho
- Elementos sobre o estado da Escola Pública 3: primeira responsabilidade
- Elementos sobre o estado da Escola Pública 7: violência camuflada I
- Elementos sobre o estado da Escola Pública 12: violência camuflada II
- Elementos sobre o estado da Escola Pública 13: violência camuflada III
- «Apostar a sério da Educação», para quando?
Sem comentários:
Enviar um comentário