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quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Elementos sobre o estado da escola pública 14: diploma universitário à nascença resolvia problemas da Educação

José Saraiva, o historiador e professor universitário, falecido em 1993, «ponderando os, naquela altura, já visíveis e preocupantes sintomas do que hoje chamamos "facilitês" em todos os níveis de ensino, propunha, com a sua típica (e frequentes vezes sarcástica) ironia, um santo remédio para acabar de vez com todas as preocupações relativas a escolas, professores, auxiliares de ensino e sobretudo estudantes, quaisquer que esses fossem, onde quer que estivessem.

A solução era simples, eficaz e certamente barata: assim que uma criança recém-nascida fosse registada, o responsável pelo registo agarrava a cédula pessoal, hoje chamada "boletim de nascimento", e tomava, célere, o rumo da sua Junta de Freguesia, onde, em formulário apropriado, requeria um diploma universitário, a seu critério, para o bébé cuja chegada ao mundo se documentava e a quem, entretanto e em casa, alguém trocava fraldas.

Do que recordo, mas Saraiva talvez o tenha apenas implicitado, era automático o deferimento do pedido, seguindo-se, de imediato, a emissão do documento. A partir desse momento, uma lisa estrada se oferecia ao infante e a toda a família. Era o definitivo, libertador, adeus a maçadas com escolas, aulas, trabalhos para casa e actividades extra-curriculares» entre outros aspectos como as faltas às aulas...

Maria Lúcia Lepecki
Super Interessante nº116-Dezembro 2007



Pode clicar sobre imagem para aceder ao artigo completo, a propósito do novo Estatuto do Aluno, no qual a autora diz ainda o seguinte:

«Um aluno sistematicamente relapso, pertinazmente relapso, resistente a quaisquer ponderações pedagógicas ou intervenções da autoridade escolar, um aluno assim não é objecto, mas sujeito de exclusão: ele é que se está afastando do espaço escolar.»

«Isso decorre na maioria das vezes de carências familiares, e não só das económicas: de carências afectivas e emocionais, igualmente conducentes a desequlíbrios de comportamento, também sofrem famílias abonadas económica e culturalmente. De modo que o menino ou menina relapso ou relapsa pode vir de qualquer lado. E a sociedade - não apenas cada escola específica - tem de saber actuar para fazer face à situação.»

Recorde-se, a propósito:
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 1: condições de trabalho
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 2: a mais grave discriminação
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 3: primeira responsabilidade
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 4: manobra para a estatística I
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 5: manobra para a estatística II
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 6: manobra para a estatística III
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 7: violência camuflada I
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 8: manobra para a estatística IV
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 9: nem ditadura por disciplina nem a ditadura da indisciplina
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 10: educação infantil em Portugal (Eduardo Lourenço)
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 11: racionalidade e realismo precisam-se
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 12: violência camuflada II
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 13: violência camuflada III

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