photo copyright: Jorge Simão/Expresso
No Expresso (10.4.2009) o autor de Educar sem Gritar, um best seller em Espanha, acabou de ser lançado em Portugal pela A Oficina dos Livros, refere, em síntese:
«Há um provérbio que diz: "Se educas o teu cavalo aos gritos, não esperes que te obedeça quando simplesmente lhe falas." Só te obedecerá quando lhe gritares. Não se trata só da forma, mas também do conteúdo. Um trato negativo, humilhante, desvalorizante faz perder a auto-estima dos filhos e a autoridade dos pais, porque se perde o respeito. Os filhos devem ver nos pais um modelo de conduta, de respeito e de comunicação, e tenderão a imitar o que vêem em nós. Não podemos dizer aos berros a um filho "Já te disse que não grites!", porque com a nossa conduta estamos a dizer que os gritos são legítimos.»
«[P]enso que agora se peca pela permissividade. Os filhos estão a reclamar autoridade, precisam de ser postos no seu lugar. Se tudo lhes é permitido, se nada lhes custa a conquistar, estamos a criar crianças inadaptadas. As crianças têm que ter regras, percebê-las e cumpri-las. Há vários estilos educativos, e acredito que nem o autoritário nem o permissivo ou liberal, nem tão pouco o paternalista ou sobreprotector, funcionam. Penso que o estilo democrático e dialogante é o que resulta melhor. Note-se que não existe uma relação de igualdade, os filhos não estão ao nível dos pais, mas há uma comunicação fluida entre as duas partes.»
«A autoridade que reivindico é moral, fruto da competência, coerência e do sentido de justiça. Um pai injusto ou incoerente é um pai que perdeu a autoridade. A autoridade não vem por se castigar mais.»
«Um pai que tem competência para educar, que é autoconfiante, que é um pai feliz, um exemplo e modelo de carisma que apeteça seguir, conquista uma autoridade moral enorme. Nos primeiros anos de vida, as crianças devem ter normas muito claras e fixas. [...] Quem permite excepções uma, duas, três vezes, perde a mão e vive numa discussão constante. A arbitrariedade é o pior inimigo da educação.»
NOTA: não é fácil determinar onde começa a «excepção» e onde termina a«flexibilidade»...
«É evidente que não há máquinas perfeitas de educar, mas modelos e regras a seguir.»
A «escola de pais - nos centros, nas escolas - devia ser obrigatória. Temos de ter formação para guiar um carro, porque não devemos ter também para educar e formar outro ser? Devíamos ter um diploma para educar, e não o temos. Estas técnicas podem ser ensinadas e há fórmulas e alternativas para resolver alguns dos problemas com que os pais mais se debatem. Só com boas intenções não se pode educar.»
«A verdadeira chave está em ser suficientemente firme e claro nas regras, ponderando-as, e suficientemente flexível quando um momento o exigir.»
«Os pais devem relaxar e dar espaço aos filhos para aprenderem sozinhos - na escola, com os colegas e professores -, dando-lhes essa responsabilidade. Esse é o seu trabalho. Adoro a frase "Se queres ver uma criança com os pés na terra, coloca-lhe sobre os ombros uma responsabilidade". E não se devem julgar os filhos pelos seus resultados escolares, mas sim pelo seu esforço. Jamais olhei para a agenda das minhas filhas para ver que deveres têm para o dia seguinte. Nem nunca o farei. Elas sabem que estudar é o seu trabalho, que isso é a sua vida, e que têm essa responsabilidade. Explico-lhes como fazer, dou-lhes métodos e incentivo, mas não me substituo a elas na assunção de responsabilidade.
«O melhor prémio é o reconhecimento e o elogio. Mas a recompensa não deve ser excessiva. Por exemplo, eu jamais dei um presente às minhas filhas pelos seus êxitos na escola, isso é o seu trabalho e o seu dever. O contrário descamba facilmente numa situação em que as crianças dizem: "Se não há prémio, não o faço."
NOTA: o reconhecimento e o elogio nem custam dinheiro...
«Há duas ideias-chave na educação. Uma é a atenção - esta é a grande maravilha à disposição de todos os pais, é fácil e grátis. É o maior prémio, e o pior castigo é a retirada de atenção. A outra é convicção. A sua expectativa e crença nos filhos origina uma realidade. Se um pai diz a um filho "sei que o vais fazer bem", as hipóteses de isso acontecer são maiores do que se disser "não sei se consegues". Estimular a autoconfiança nas crianças é uma ferramenta poderosíssima. É quase como uma profecia autocumprida.»
«[S]e tivesse de apontar um número, diria que 80% vem da educação e 20% da genética.»
NOTA: aqui cito o amigo, psicólogo e pedagogo José Augusto Fernandes, que diz o seguinte: «nós somos 100% o nosso património genético, 100% a educação que tivemos, mas somos, sobretudo, o que fazemos com essas duas componentes.» E aqui concordo com José Augusto Fernandes, em que valoriza a capacidade de comando e determinação do indivíduo (a sua vontade e capacidade de decisão e de mudança) no que toca à condução da sua vida, em detrimento do determinismo genético e educacional, que é desculpabilizante e desresponsabilizante do indivíduo. Recuso justificar a inacção e a irresponsabilidade individuais, transferindo as culpas apenas ou basicamente para a esfera social, genética ou educacional. Estou ciente do peso das circunstâncias, mas estou cansado da cantiga do costume de culpar a sociedade, a genética e a educação por tudo o que de mal acontece aos indivíduos.
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