«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, março 27, 2009

Elementos sobre o Estado da Escola Pública 27: responsabilização

Está na hora de os professores, que não são semi-deuses, recusar que lhes continuem a pôr o mundo às costas.
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A balda e a desresponsabilização fez o seu caminho, perante a complacência de muitos, até ao ponto de surgirem acções como esta que o Público deu ontem conta: «Petição responsabiliza pais por insucesso dos filhos». Está desde segunda-feira na Internet: «Responsabilização».

O objectivo é incitar a Assembleia da República a legislar no sentido de se "criar mecanismos administrativos e judiciais, desburocratizados, efectivos e atempados, de responsabilização dos pais e encarregados de educação em casos de indisciplina escolar, absentismo e abandono", diz Luís Braga, autor da petição.

Até nos soa estranho ouvir falar em responsabilização dos pais e/ou dos estudantes pelo absentismo, abandono e insucesso escolares, quando o status quo (do laxismo) encontra apenas e geralmente um culpado: o professor. Esse semi-deus a quem tudo se exige e para tudo tem de ter uma solução na manga.

"É um daqueles casos em que o philosophare vem do vivere", diz Luís Braga, professor de História, com pós-graduação em Administração Pública e Administração Escolar, presidente do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Darque, freguesia- problema de Viana do Castelo, vogal da direcção nacional da Amnistia Internacional.

Chegados ao ponto em que o rigor, a disciplina, o trabalho e a responsabilidade (simultaneidade de direitos e deveres) se perderam como valores basilares - conotados com ditadura devido aos complexos ideológicos do pós 25 de Abril de 1974 -, surgem estas iniciativas que não são novas.

Outros países democráticos estão a tomar medidas de responsabilização de estudantes e pais perante a "ditadura" da irresponsabilidade. A mão dura não pode ser apenas para os docentes, como tem feito o actual governo da República, que acentuou a desvalorização e desautorização dos professores.

«A indisciplina [na escola] tornou-se a nota dominante. Hoje, quem carece de estímulo à auto-estima, não são os meninos, mas os adultos», escreveu Maria Filomena Mónica, no Público de 13.6.2006. «Não vejo uma solução fácil para o problema. A esquerda continua a defender que as crianças são como as flores; a direita que tudo se resolve com um par de bofetadas».

Que estratégias seguir sem cair na complacência, na desculpabilização, no status quo, na normalização do anormal, no fatalismo da inevitabilidade que nada muda?

É preciso cuidado para não cairmos em radicalismos, mas o pior e o mais radical, neste momento, é não fazer nada perante a irresponsabilidade, o laxismo, o facilitismo, enfim, a bandalheira no ensino.

O autor da petição inspirou-se na sua "experiência e consciência prática". Já C R Rogers disse que «nem a Bíblia, nem os profetas - nem Freud, nem a investigação - nem as relações de Deus ou dos Homens - podem ganhar precedência relativamente à minha própria experiência directa

"É capaz de ser duro de mais, mas a verdade é que não cuidar de enviar um filho à escola é roubar-lhe o futuro", comenta Luís Braga.

Recorde-se:
- Cultura de laxismo e irresponsabilidade estudantis
- Mais uma docente agredida, ministra continua calada
- Elementos sobre o estado da Escola Pública 22: valores do Trabalho e da Responsabilidade moribundos na escola
- Alunos do Leste europeu arrasam postura desculpabilizante
- Laxismo e facilitismo estudantil significam exclusão social
- "A senhora come conhecimento para o jantar?"

Ou ainda:
Complexos de esquerda = facilitismo
Laxismo pós 25 de Abril trama Educação
Escola ideal é diferente da escola real
Desnudar alguns absurdos
Enfrentar a realidade antes que ela nos engula
Três séries de inconformismos

2 comentários:

  1. Obrigado pela alerta, mas parece haver interpretações diversas sobre a expressão, como aqui(http://ciberduvidas.sapo.pt/glossario.php?letter=S), em que se diz que devemos usar "STATU QUO" e não "status quo", nem "statuo quo".

    Por outro lado, aqui (http://pt.wikipedia.org/wiki/Statu_quo), diz-se que a «forma statu quo é a mais frequente em França, em Portugal, em Espanha e na Itália, com apoio da grande maioria dos dicionaristas. Status quo é a versão usada nos países anglófonos, na Alemanha, na Holanda, na Rússia, na Polónia, na Hungria, na Suécia, na Turquia, etc.

    Continuo em dúvida.

    Saudações.

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