CARREGAR O MUNDO ÀS COSTAS? NÃO OBRIGADO. Em lugar de andar a sonhar com ideais, mudanças de paradigma utópicas (baseadas na impossibilidade de criar um Homem Novo ou um Estudante Novo) e rupturas radicais, o meu intento ou desejo mais terreno é que se mude rapidamente do paradigma do facilitismo, do laxismo, da desresponsabilização, da atitude negativa perante o trabalho escolar e da complacência perante a indisciplina, para o paradigma da Responsabilidade, da Disciplina e do Trabalho na escola.
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Canso-me de ouvir teóricos sobre a educação, na forma como iludem premissas básicas e universais do processo de ensino-aprendizagem por parte do estudante (Trabalho, Disciplina e Responsabilidade) e apontam para o IDEAL, para uma mudança sonhada e radical de paradigma de escola, que sabem que não dá resposta aos problemas do momento presente nem do futuro próximo.
Pior do que isso, com um fundo claramente ideológico, procuram fazer passar a ideia de que esse novo paradigma de escola ou novos modelos pedagógicos como que dispensam, ou resolvem de forma espontânea, por arrastamento, a falta da disciplina, de trabalho e responsabilidade entre muitos estudantes na actualidade.
Muitos teóricos insistem nessa ideia do professor enquanto facilitador, orientador, organizador e criador das melhores condições possíveis para os estudantes desenvolverem a sua aprendizagem, mas depois atribuem ao professor, quando não depende só dele, a existência de disciplina, responsabilidade e trabalho nesses alunos.
Afinal, o professor tem de ser uma espécie de «faz tudo» ou «consegue tudo», um milagreiro, em que o seu carisma, liderança e sei lá o que mais tudo soluciona e resolve na sala de aula, mesmo perante os alunos mais indisciplinados, irresponsáveis ou aversos ao mais elementar empenho ou esforço.
Os teóricos ligados a uma certa esquerda evitam sempre o problema da indisciplina , da falta de responsabilidade e da atitude negativa dos alunos perante o trabalho escolar e relativizam o seu peso nos resultados escolares. Além disso, desresponsabilizam essa parte importante do processo de ensino-aprendizagem que são os estudantes e transferem a responsabilidade do sucesso ou insucesso escolar do aluno para o professor ou para a esfera social em geral. Muito cómodo.
Reiventar a roda, se isso é de alguma utilidade, pode ser um sonho belo, dar sentido a uma missão, pode ser uma utopia, um farol para uma caminhada, mas continuamos a perder de vista o essencial e os problemas prementes/reais que precisam de ser resolvidos de imediato, no quotidiano, como tentei alertar. Enquanto não chega o IDEAL, o novo paradigma, é preciso ir resolvendo as questões.
E não resolvemos muitos dos problemas no ensino continuando a dispensar o trabalho, a disciplina e a responsabilidade dos estudantes na escola, valores fundamentais em qualquer época, regime político, sociedade, cultura ou paradigma pedagógico/escolar.
São valores universais e basilares. Não existe nem existirá um novo paradigma de escola (por mais que se tente encontar sentido em reiventar a roda) que tenha sucesso sem esses valores fundamentais. Tem a ver com o fundamental da natureza humana.
Sei que é mais fácil e cómodo desviar o olhar para o longo prazo, esperar um acto messiânico ou acreditar que um modelo pedagógico, um modelo de avaliação, um modelo de sociedade, um regime político, um modelo IDEAL qualquer faça o milagre. Nunca se aprenderá, substancialmente, sem trabalho, sem disciplina, sem responsabilidade.
Antes de mudar o mundo ou criar um Homem Novo (e com ele a sociedade perfeita...), precisamos de, na escola, mudar urgentemente, neste tempo presente, do paradigma do facilitismo, do laxismo, da desresponsabilização, da atitude negativa perante o trabalho escolar e da indisciplina para o paradigma da Responsabilidade, da Disciplina e do Trabalho na escola.
Alguns teóricos da educação fazem lembrar um grupo de barbudos que, no PREC, queriam fundar o Homem Novo. Há quem pense que se pode fundar a Escola Nova, deitando abaixo a escola que existe e construindo de um momento a outro essa escola nova.
Enquanto não chega o IDEAL é preciso resolver os problemas terrenos e concretos com que lidamos todos os dias nas escolas, da forma mais directa, objectiva e realista possível. É incómodo mas é necessário.
Se não somos capazes de actuar e procurar minimizar desde já os problemas reais e evidentes que enfrentamos neste momento, nunca seremos capazes de mudar de paradigma de Escola no médio ou longo prazo, que é uma tarefa tremenda, levará imenso tempo e será muito lenta, porque o corte radical com o actual paradigma, excepto em casos isolados e em contextos especiais, nunca acontecerá com sucesso. A mudança será sempre progressiva.
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