Viriato Soromenho-Marques falou da evolução do conceito de felicidade até à actualmente dominante felicidade mercantil, que não é suficiente para o ser humano ser feliz.
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A conferência de Viriato Soromenho-Marques, A árdua procura da felicidade, construir a solidariedade na proximidade da solidão, integrada na II Conferência do Funchal: Merecer o Futuro, nos dias 6 e 7 de Novembro, ajudou a perceber o que move as pessoas, actualmente, na sua busca da felicidade.
Conhecer e compreender o que move o ser humano, na sociedade acual, nessa busca da felicidade é importante. Interessa ou não distanciar-se dessa «concepção fortemente mercantil de felicidade, que ignora os limites da Natureza e dos ecossistemas e que esquece a complexidade da condição humana, irredutível à voragem insaciável do processo de consumo»?
Dessa complexidade humana fazem parte as suas dimensões imateriais, como a ética e a espiritualidade, com um papel fundamental no bem-estar e felicidade do Homem.
A felicidade desvinculou-se de terminadas dimensões humanas para servir a economia de mercado, o materialismo e o consumo. É a felicidade com «programa de realização aqui e agora», e com rapidez, que dispensa planos como o transcendental e o ético.
A felicidade moderna assenta na independência e nos interesses particulares, em que o indivíduo «se afasta da cidadania e se centra no consumo e no conforto.» Ele não se afirma como pessoa, «não deixa marca», é anónimo, perdido na multidão, e «não é reconhecido pelos outros». A felicidade é então uma «demanda individual». Essa afirmação e reconhecimento são estruturantes para o ser humano. Soromenho-Marques disse serem necessárias «escalas de participação» para o indivíduo.
«Nunca houve tanto conforto e tanta gente a sobreviver penosamente», disse o conferencista. A felicidade do hiper-consumo não é condição suficiente para a felicidade. Obedece a pulsões. Temos um consumo sempre crescente e desejos nunca satisfeitos.
Como disse Kant, citado na conferência, a felicidade na posse e na fruição é uma ilusão. Sabemos hoje, decorrente de estudos, que o aumento de rendimento per capita, a partir de dado valor, não traz mais felicidade ao indvíduo. Não lhe acrescenta felicidade.
Além do mais «felicidade não existe de forma estável e permanente».
Como sair do impasse e das várias crises que nos assolam actualmente e nos comprometem a real felicidade? Soromenho-Marques propõe um conjunto de princípios: da comunidade inclusiva, que se estende a todas as criaturas; da solidariedade entre gerações; da humildade prudente (em alternativa à arrogância tecnológica); da simplicidade voluntária na Arte de Viver, deixando espaço para os Outros (Ghandi: «Live simply, so that others may simply live...»); da natalidade como renovação; da cooperação compulsiva e da reconstrução da Acção política numa dinâmica sustentável.
Adriano Moreira, na sua intervenção na II Conferência Internacional do Funchal, sublinhou outro aspecto fundamental: «É preciso que os valores condicionem os valores do saber e do saber fazer». Diria ainda que «não basta informação e saber - faz falta os valores», isto é, a sabedoria.
Recordo José Augusto Fernandes a propósito dessa centralidade dos valores (irrenunciáveis) na nossa existência. À volta dos valores nunca nos enganamos. Estes nunca nos desconpensam ou desequilibram. Dão estabilidade. Quando estamos fora dos valores ficamos muito dependentes.
Nós movemo-nos à volta de centros de existência. Os centros da existência quando são muito móveis (como o consumo) geram instabilidade, insegurança e arrastam as pessoas com eles. Os centros fora do centro dos valores, se falham, conduzem à queda. É mau centro todo aquele que, se falha, arrasta a pessoa.
Mais informação:
Comunicações da II Conferência Internacional do Funchal
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