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segunda-feira, novembro 16, 2009

Professores de luto e em luta 176: entrevista a Isabel Alçada em 17 pontos

Photo copyright: António Cotrim/Lusa

Uma síntese comentada da entrevista de Isabel Alçada, ministra da Educação, RTP1: "GRANDE ENTREVISTA", 12 de Novembro de 2009:

1. «[A avaliação] tem de se reflectir na carreira dos professores. Tem de haver uma articulação entre a avaliação [do desempenho docente] e a carreira.»

Comentário:
Os sindicatos e partidos de esquerda podem acabar de sonhar com avaliação basicamente ou apenas formativa... Não vingará. O relatório da OCDE aponta para a articulação entre dois objectivos distintos da avaliação: a melhoria profissional (formação) dos professores e a progressão na carreira. Os termos em que se fará é outra questão. Penso que não deve conduzir a disparidades demasiado acentuadas, nem diferenciar em salário quem tem idêntico mérito.

2. «Vai haver um novo modelo de avaliação. A articulação entre o Estatuto e a carreira tem de ser feita de outra forma.»

3. «Criar condições para que o tempo que os professores dedicam à avaliação seja um tempo necessário, suficiente, mas não excessivo. Não burocratizar excessivamente os procedimentos. (...) Para que os professores possam trabalhar com serenidade

Comentário:
Bom senso que se saúda. Esperarei pelas medidas concretas porque de conversas e utopias ando eu farto. Não colide com o facto de que é preciso muita teoria (palavras), pensamento e tentativa e erro para mudar alguma coisa na prática. Mas, a mudança de comportamentos (práticas) chega mais tarde do que a mudança de conceitos (palavras). As pessoas mudam as práticas normalmente quando são empurradas pelas circunstâncias e por questões de sobrevivência. É a condição humana? Geralmente esperam que as coisas mudem mantendo as mesmas estratégias.

4. Quem deve avaliar os professores? «Há vários cenários possíveis e os vários elementos devem estar envolvidos na avaliação. Em primeiro lugar, os avaliadores têm de ser pessoas competentes para fazer a avaliação. Há uma competência própria.» [O avaliador] tem de ser competente e ter essa vontade de avaliar [componente voluntária].» Mencionou ainda a dimensão formativa no sentido do «aconselhamento» por parte do avaliador ao avaliado.

Comentário:
É evidente que o avaliador tem de ter provado mais mérito do que o avaliado. É uma condição base para a credibilidade do processo de avaliação. O professor tem de reconhecer mérito e competência no avaliador. Não há volta da dar.

5. «Queremos um sistema exigente», não «facilitista». Falava a ministra da aprendizagem dos alunos e das metas («padrão») que têm de atingir, ao nível do país.

Comentário:
Vislumbra-se aqui uma mudança de atitude no sentido de contrariar o facilitismo e a bandalheira escolar reinante. Uma esperança surge no horizonte.

6. Novas regras da avaliação [novo modelo] «ainda este ano lectivo».

7. «Revisão desse elemento [divisão da carreira] terá de ter em conta toda a estrutura.»

8. «Vou chegar» a um acordo com os sindicatos.

9. «O cerne da actividade do professor é a sala de aula».

Comentário:
Finalmente alguém percebe qual é a missão da escola...

10. «A profissão de professor é das profissões mais dignas que se pode assumir».

Comentário:
Então vamos lá dignificá-la... começando pelas condições de trabalho dos professores e dando sinais no sentido de a sociedade valorizar o conhecimento e o trabalho intelectual.

11. «A profissão foi maltratada pelos políticos», questionou Judite de Sousa. «Temos que revalorizar», disse a ministra. Por exemplo, disse ser «importante que as famílias compreendam o trabalho do professor», que «é mais difícil do que era no passado».

Comentário:
Seria bom haver esta consciência das maiores dificuldades que os professores sentem hoje na carne, com um desgaste acentuado.

11. «O adulto perdeu a autoridade». Refere-se à relação crianças-adultos. Usou a palavra «irreverência» quando a grande maioria dos problemas da indisciplina não se devem a questões de irreverência, que é muitas vezes usada para desculpabilizar e ser-se complacente com actos de pura indisciplina (perturbação do processo de ensino-aprendizagem).

Comentário:
Um mau sinal... Até me arrepiei na espinha...

12 «Educar significa fazer valer a autoridade do adulto, porque é o adulto que orienta».

Comentário:
Foi-se embora o arrepio... este bom senso agrada-me e deixa de novo esperança. Pensei que a Ministra estivesse a facilitar e a cair na tentação da complacência em moda desde o 25 de Abril de 1974. Mas não, não receia usar a palavra autoridade e reconhecer como necessária por parte do adulto, na educação das crianças e jovens.

13. Os professores têm-se queixado de que a sua autoridade nas escolas foi pura a simplesmente posta em causa», inclusive «pela legislação entretanto produzida» [Estatuto do Aluno, passar sem ir às aulas, etc.], perguntou Judite de Sousa. A ministra defende que a repetência não resolve os problemas e que os apoios suplementares devem existir quando o aluno escorrega para o insucesso, ou seja, quando não atinge as metas.

Comentário:
Concordo que não deveria haver respetências, mas cuidado com os contextos social e cultural de pouca exigência e trabalho em que vivemos. Desconfio que, no final, o professor seja o único a ser responsabilizado e que vai ter de fazer o menino atingir as metas, mesmo que ele tenha uma atitude negativa perante o trabalho escolar (não estude e não se empenhe) e seja indisciplinado.

Isto é tudo muito bonito e até pode funcionar em alguns país nórdicos com outra cultura de responsabildiade cívica. Nas nossas escolas de brandos costumes... desconfio

Além de desconfiar que esses apoios extra aos alunos não funcionem tal como os apoios actuais não funcionam na maioria. Se é para ser mais do mesmo... O que se verifica é que quem não quer estudar e não gosta de trabalhar nem vai aos apoios. E esse sistema de apoios custa muito dinheiro. É bonito mas é caro. O Estado não vai fazer essa despesa. Por isso, estou a ver que tudo acabará por cair em cima do professor, na sala de aula, que tem de fazer pedagogia diferenciada com mais de 20 alunos na sala de aula, em que muitos deles não se empenham nem reconhecem autoridade ao professor. Vamos vivendo no reino da utopia.

14. «Há domínios do Estatuto do Aluno que terão de ser revistos.»

Comentário:
Mais uma esperança. Esperemos que não seja feito com base na desconfiança dos professores e não seja mais um incentivo à balda actual nas escolas.

15. ME deve apoiar os professores divulgando «formas diferenciadas de trabalhar» e ensinar.

Comentário:
Esperemos que não se caia no romantismo do eduquês... que o estudante aprende sem estudar, sem disciplina, sem responsabilização individual... bastando o professor trabalhar, isto é, DIFERENCIAR... Os professores serão sempre os suspeitos do costume na actual conjuntura...

16. «Eu sei fazer», disse quando a entrevistadora falou das «boas intenções» da Ministra... Disse que «não são só intenções e palavras.»

Comentário:
Haver palavras já é um passo no sentido das medidas práticas....

17. «Eu nunca trabalhei na vida sem autonomia», disse quando Judite de Sousa perguntou se o Primeiro-Ministro tinha dado carta branca.

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