«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Escola “a duas velocidades” é escola de “velocidade nenhuma”

A crise da escola portuguesa não se resolve com a assinatura do recente acordo de princípios entre os sindicatos e o Ministério da Educação. Está para além da carreira, avaliação do desempenho e salários.
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Não concordo que a escola se concentre na dimensão social (lhe dê prioridade) ao ponto de conceder menor atenção e, pior ainda, negligenciar a aprendizagem.

Perante a escola “a duas velocidades” (com vocações diferentes), a social de acolhimento e a da aprendizagem, como coloca António Nóvoa (Professores, Imagens do futuro presentedisponível online, com destaque para o capítulo "Educação 2021"), a prioridade deve ser dada à aprendizagem.

Na sociedade actual o «pior que podemos fazer às crianças, sobretudo às crianças dos meios mais pobres, é deixá-las sair da escola sem uma verdadeira aprendizagem», defende aquele autor. Isto é, gerar futuros excluídos da vida. Sob a capa de um falso igualitarismo e inclusão balofa, «aniquilam a única oportunidade que os filhos dos pobres têm de sair do buraco onde nasceram», escreveu Maria Filomena Mónica.

A “inclusão” actual resume-se a ter os estudantes dentro dos muros da escola. O laxismo e o facilitismo em que caiu a escola social de acolhimento (também escola lúdica e sala-de-estar...) significa, na prática, promoção da exclusão social para a vida activa.

O acolhimento, apoio social e integração de todos na escola, que defendo, não deve nem tem de implicar a desvalorização da cultura escolar e do processo de ensino-aprendizagem, nem a perda de valores universais de qualquer época. Nem tem de implicar um regresso à “escola de antigamente” e aos currículos mínimos.

Tal como Nóvoa, não tenho a mínima dúvida, apoiado na minha experiência directa na escola, que devemos (re)valorizar a escola como «organização centrada na aprendizagem», que sugere uma valorização da arte, da ciência e da cultura, enquanto elementos centrais de uma “sociedade do conhecimento”.

Estas ideias, que já foram mais impopulares há meia-dúzia de anos, porque os sinais de alarme e crise surgem todos os dias, vão contra as convicções dominantes. Daí a inexistência de vontade política, por parte das lideranças políticas e escolares, para assumir a resolução da tensão entre a escola social de acolhimento e a escola da aprendizagem, o que está a dar cabo da escola pública e da aprendizagem.

Devido ao fenómeno de democratização (massificação) do acesso ao ensino, um princípio nobre, a escola viu-se perante novos desafios. A escola tornou-se mais social e de acolhimento, ocupou-se menos e secundarizou as aprendizagens, a disciplina, o esforço, o trabalho, assumiu missões sociais de outros e embarcou na ilusão de que a escola poderia regenerar a sociedade, solucionar os seus problemas, criar um homem novo e reparar as injustiças sociais.

Ser um jovem oriundo de um meio social desfavorecido ou ter dificuldades pessoais não é álibi para tornar o seu tempo inútil (e dos outros) na escola, isto é, que estão na escola para trabalhar (ter ou cultivar uma atitude positiva perante o trabalho intelectual), crescerem como pessoas responsáveis e com valores humanos basilares. Para serem pessoas integradas e bem sucedidas e, pelo caminho, tornar o país mais produtivo.

Não concebo que a escola social de acolhimento dispense os valores da responsabilidade, o trabalho e a disciplina por parte dos estudantes que necessitam de ser apoiados nas dimensões pessoal e social. O processo de ensino-aprendizagem precisa de condições prévias para funcionar.

Não se espere, utopicamente, que o professor, empunhando a "varinha mágica" (segundo certos teóricos) da pedagogia, faz aprender quem não se concentra, quem "não quer saber", quem não trabalha, quem não se empenha, quem não respeita, quem não estuda. Como se fosse possível mudar o Homem e o Mundo a partir da sala de aula, independentemente dos contextos. O professor não é um deus.

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