A imagem idílica e endémica do "cantinho do céu", muito cultivada por cá, faz-nos crer que o "paraíso" está a salvo de qualquer tragédia.
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A catástrofe que se abateu sobre a Madeira no passado sábado, depois da advertência que constituiu o temporal de 1993, estava previsto e sabia-se que era possível acontecer. Toda a gente ouviu esses alertas repetidos, apesar das tentativas de desacreditar, publicamente, algumas vozes.
Estar 100% solidário com os madeirenses, sobretudo os directamente atingidos, neste momento de grande tristeza e apoiar-se a acção governamental para a rápida recuperação desta tragédia, não pode ser confundido com a suspensão da massa crítica, sobretudo aquela que é abalizada e pode contribuir, no futuro, pelo menos, para evitar tão elevado grau de gravidade das consequências conhecidas.
A natureza, pelo poder que tem e até pelo seu grau de imprevisibilidade, tem a sua boa quota parte de responsabilidade, até pelo que fica além do controlo humano. Mas o Homem madeirense estará isento de responsabilidade? Nem 1% de responsabilidade lhe pode ser atribuída? É 100% responsabilidade da natureza?
As raras pessoas que logo tiveram a coragem de indagar sobre quaisquer responsabilidades das opções de quem nos governa, que não fossem exclusivamente atribuídas ao tempo atmosférico, receberam logo o nome de «miseráveis», os tais "inimigos" da Madeira e do desenvolvimento do costume. A contar com o escasso sentido crítico sobre a perspectiva oficial apresentada e o luto/emotividade decorrente da tragédia. Nestas circunstâncias, é-se facilmente alvo de deliberada desinterpretação e ostracização pública. É mais seguro estar calado.
Ontem e hoje o Com que Então ...! publicou algumas reflexões no sobre as culturas de risco e de responsabilidade. A nossa cultura de "cantinho do céu" relativiza risco e inibe responsabilidade.
É a cultura de risco e a cultura de responsabilidade que têm procedido ao licenciamento de construção de habitações (bem como centros desportivos e até quartéis de bombeiros...) no leito de cheia das ribeiras e outras zonas de risco?
Já que, desta vez, não se pode culpar José Sócrates pela tragédia, é crível que as responsabilidades sejam exclusivamente imputadas à elevada precipitação?
A acção (e muita obra) humana, nomeadamente nas últimas décadas, nada tem a ver com o assunto?
São perguntas que têm vindo a ser colocadas publicamente e que os peritos independentes deverão responder nos próximos tempos. O debate segue-se.
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