Roger Waters THE WALL Lisbon 21.3.2011 |
THE WALL é um concerto rock com fortes elementos teatrais e cinemáticos, um espectáculo multimédia, que as novas tecnologias permitiram concretizar de uma forma tão exuberante quanto rigorosa. De uma forma que não era possível no final de 1979, altura em que o disco duplo foi lançado.
O muro ocupava toda a largura do Pavilhão Atlântico, em Lisboa, subindo pelo balcão 1 fora, e tinha dez metros de altura, que serviu de enorme tela de projecção de imagens, filmes e texto a ilustrar as músicas e o conceito do álbum. Só mesmo visto.
Mais lá para final do ano será editado um DVD, suporte perfeito para este espectáculo, que tira enorme partido do som e da imagem, que será um brutal sucesso de vendas e deliciará a malta nos seus sistemas de home cinema. As gravações serão feitas nos vários concertos agendados para Londres.
Quem gosta de Pink Floyd e, sobretudo, dos discos dos anos 70 e 80, produto do período liderado por Roger Waters, agora com 67 anos, tem uma oportunidade única nestes concertos THE WALL. Em especial quem nunca antes tinha ido a um concerto da referida banda ou de Roger Waters. O concerto de segunda-feira, 21 de Março, representou o arranque da digressão europeia.
No meu caso, THE WALL é o álbum preferido da banda. Era obrigatória a presença no concerto em memória dos tempos da adolescência. Poucas oportunidades mais haverão tendo em conta a idade de Roger Waters, embora mantenha uma excelente forma, sem dúvida.
O álbum foi replicado com uma exactidão irrepreensível, em pouco mais de duas horas, com uma pausa pelo meio (intermission), a respeitar a passagem do primeiro disco para o segundo, quando o sujeito acaba de construir o muro entre si e os outros. No início da segunda parte, a banda toca Hey You atrás do muro, que só cai no final do espectáculo. Depois de Comfortably Numb a banda passa a tocar à frente do muro.
Na primeira parte, o concerto arrancou a todo o gás com o poderoso In the Flesh, passando por Another Brick in the Wall part 1 e part 2 (aqui com um coro de jovens da Cova da Moura, com "Fear Builds Walls" nas T-shirts) ou Mother (quando chega ao verso «mother should I trust the government?» o público reage... e surge no lado direito do muro, uma depois da outra, as palavras NO FUCKING WAY escritas a vermelho). Roger Waters tocou este tema em dueto consigo próprio, na parte inicial, com a imagem e som de uma gravação ao vivo datada de 1980 (Earls Court), que conseguiram recuperar.
Mas a crítica e a falta de confiança não vai apenas para o governo. Noutro momento do espectáculo, as corporações e as religiões são também alvejadas, mais precisamente em Goodbye Bluesky, em imagens poderosas (bombardeiros a despejar símbolos como bombas).
Os técnicos a tratar do som e da imagem eram imensos junto dos écrans de computador, numa área no centro da plateia. Uma equipa que permite montar um espectáculo tão complexo, em que a coordenação entre os vários elementos cénicos e musicais é fundamental. O som era muito definido mas, a meu gosto, deveria estar mais alto. Para se sentir mais os graves, que proporcionariam maior impacto, intensidade e envolvimento.
Na assistência, pessoas de todas as idades. Prova a permanência e longevidade do conceito do álbum THE WALL, já que trata de um tema profundo e inerente à condição do ser humano, desde logo como ser individual. Ainda por cima, o conceito do muro construído devido ao medo pode ser alargado a contextos e realidades colectivas (sociedades, nações, etc).
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