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terça-feira, outubro 18, 2011

Endividamento das famílias, o colapso social que é imperioso evitar


Francisco Louçã terá dado hoje na Sic Notícias uma das entrevistas mais lúcidas, realistas e proactivas: falou mais o economista e menos os dogmas doutrinários
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A entrevista a Francisco Louçã hoje na SIC Notícias, jornal das 21h00, deixou-me ainda mais preocupado do que estava quanto à situação do endividamento (privado) dos portugueses.

O que me aflige, mais do que a subida de impostos e a perda de salário (empobrecimento), é as famílias ficarem sem liquidez, entrarem em falência por causa dos compromissos de crédito, sobretudo no que toca à habitação própria. Uma coisa é viver pior, outra coisa é não ter para viver, além do pagar ao banco as dívidas.

E aqui pode estar um enorme drama social, já que metade das famílias portuguesas está endividada por várias dezenas de anos e boa parte com mensalidades demasiado altas. Boa parte delas pode entrar em falência face ao elevado grau da presente austeridade. E aqui é preciso os cidadãos fazerem a pressão sobre quem decide, aqui e na Europa. É preciso evitar um colapso social. Mesmo sabendo que as pessoas facilitaram nas decisões no acesso ao crédito e a banca foi agressiva.

«Os bancos portugueses alimentaram um mercado gigantesco que foi forçar as pessoas a comprar casas, numa estrutura de mercado habitacional em que não havia boas alternativas de arrendamento, [e] metade das famílias portuguesas está endividada por 30 anos aos bancos por comprar a sua casa», disse Francisco Louçã há pouco na SIC Notícias. E conclui: «Isto é absurdo. É o país da Europa em que há mais proprietários e menos pessoas que escolhem arrendar por preços melhores.»

Uma nota a propósito: diz-se que a dívida portuguesa é 75% privada e 25% pública.

A maturidade do consumidor é algo que «se tem de exigir a todos», continuou Louçã, quando confrontado com a oferta agressiva de crédito (carro, plasmas e outras coisas inseridas no crédito à habitação a que muitos acederam).

«Isso é uma responsabilidade de cada pessoa e eu não a diminuo nunca», não facilita o líder bloquista quanto à quota parte da responsabilidade individual. «Mas é também uma responsabilidade do regulador», alerta. E não esqueçamos que o próprio Estado fomentou a corrida ao crédito para habitação com os créditos bonificados e abatimento no IRS, que o economista nem referiu.

E Louçã explica o poder impositivo sobre as pessoas, quanto ao nível elevado dos juros exigidos, em que se criou um «crédito ao consumo violentíssimo».

Refere a esse propósito que o «sistema financeiro teve um poder sobre as pessoas e um poder sobre quem queria comprar casa em que a pessoa não podia negociar. Ou aceitava ou ficava sem a possibilidade do crédito. Portanto, eles [bancos] tiveram a faca e o queijo na mão e endividaram-se imenso no estrangeiro. Os bancos portugueses devem mais do que o Estado português. Essa é uma das grandes pressões sobre Portugal é a dívida do sector financeiro. E que é uma dívida das famílias também. Daí que tenhamos que olhar para o sistema do crédito como um contrato muito responsável

Redireccionar as capacidades de crédito não para consumo («só prejudica a economia») ou habitação («só cria dívida externa»), mas para a indústria, a produção e criação de emprego foi a receita dada por Francisco Louçã para sair da crise e faz muito sentido. Crédito para a economia. E contas certas no orçamento e na economia.

Mas é preciso assegurar que esse crédito chega. Uns dizem que é preciso pôr as contas em ordem primeiro para termos crédito exterior. Outros que os 12 Mil Milhões que vêm para recapitalizar a banca deveriam ser usados para injectar na economia.

Continue-se o debate e a manifestação da opinião, nos media ou na rua.

Memória:
O consumo não foi inventado pelo capitalismo

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