"Eu expulsei os vendilhões por alguma razão", diz o cartaz de um manifestante em Londres, 15 de Outubro de 2011
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«O consumo,
por mais que o repitam, não é invenção do capitalismo:
os deuses formaram homens incompletos,
com estômago, frio e vaidade, como queriam outro resultado?»
«E o dinheiro (...)
Torna os homens previsíveis, (...)
Destrói reis, carpinteiros e santos. (E quando não há,
ainda destrói mais.)»
Gonçalo M. Tavares
Uma Viagem à Índia
p 305, p 363
Editorial Caminho 2010, 1.ª edição
“Nunca gasto mais do que ganho” (jornal Económico 16.10.2011) é um princípio que saiu da nossa cultura e até parece algo demasiado conservador e antiquado na sociedade em que vivemos. O autor da frase é Júlio Machado Vaz, recordando um lema herdado da mãe. E ele próprio fez excepção na aquisição de uma casa, lê-se na entrevista...
Na nossa cultura, ter dívidas era algo muito censurável e herdei, pessoalmente, da família, esse valor de "não dever nada a ninguém", condição para a tranquilidade da consciência. Nunca acreditei que me dessem nada. Ainda hoje sinto-me incomodado com créditos, mesmo aqueles de curto prazo e sem juros. Prefiro esperar do que aceder a bens por via do crédito. Excepção feita à aquisição de habitação própria (e fi-lo de forma conservadora pelo valor mais baixo possível e no mais curto espaço de tempo possível, para pagar menos no final).
Quem nos ensinou a todos a não saber esperar e a esquecer as virtudes da paciência?
As pessoas estão indignadas com o estado do mundo actual, recusam-se a empobrecer (perder poder de compra e de acesso a bens como a saúde) e têm a sua razão. Mas há uma parte de responsabilidade individual que não podemos esquecer.
As pessoas tomaram decisões de endividamento pessoal, para aproveitar o conforto e benefícios "oferecidos" pelo mercado e pelo capitalismo, por mais que o marketing fosse agressivo por parte da banca ou o Estado incentivasse a aquisição de casa própria, através de benesses em sede de IRS ou do crédito bonificado aos jovens. A dívida portuguesa parece ser, dizem, 75% privada e 25% pública...
Sem nunca relativizar a irresponsabilidade nos mercados financeiros, que levaram ao colapso do sistema e estão a fazer pagar todos por erros e ganância de alguns, os bancos ou o Estado, por mais selvagens que sejam, não obrigaram as pessoas a consumirem ou a viverem acima das suas posses. Ficou a prudência à conta da massa crítica de cada um. A liberdade de escolha e decisão exige mais dos indivíduos.
Até alguns países se endividaram acima das suas posses. Portugal é um exemplo. A Madeira é outro exemplo dentro do País. Entrámos num jogo de alto risco. Um dia iria colapsar. Aí está a factura. E sempre podemos dizer "não pagamos".
Enfim, não foi invenção do capitalismo, mas o consumo foi potenciado por esse sistema tão conhecedor da natureza humana e das suas "necessidades", reais ou criadas... Quem nos manda ser eternos ambiciosos/insatisfeitos?
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