«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

terça-feira, novembro 15, 2011

«Reivindicar por reivindicar não resolve nada», diz Sérgio Godinho

Sérgio Godinho tem sempre alguma coisa nova para dizer. O novo disco, Mútuo Consentimento, não é excepção

Quando o jornalista Tiago Salazar (Notícias Magazine 13.11.2011) perguntou a Sérgio Godinho se sentia «saudades de um tempo mais reivindicativo», o músico foi peremptório: «A vida está muito difícil. Mas reivindicar por reivindicar não resolve nada.»

Este homem sábio explica porquê: «Não nego o valor das manifestações, mas acho que tem de ser acompanhado por um trabalho de construção, de arranjar alternativas. Reivindicar sim, é justo, sobretudo na crise em que estamos. Mas com maleabilidade de encontrar alternativas. Isso é que é difícil

Mesmo quando é feito em nome de supostas verdades e elevados valores morais, reivindicar por reivindicar é fácil. Deitar abaixo é fácil. O difícil é construir, fazer, encontrar alternativas, ser proactivo, empreendedor e propositivo.

Como fazer aquilo que dizemos que é preciso fazer? Como? É precido dizer e propor. É difícil, pois, mas indispensável. Sem demagogia, retórica ou desligados da realidade e dos problemas que enfrentamos.

Reinvindicar por reivindicar não resolve nada. Contestar por contestar não resolve nada. Indignar-se por se indignar não resolve nada. Rebeldia por rebeldia não resolve nada. Radicalismo por radicalismo não resolve nada. Utopia por utopia não resolve nada. Deitar abaixo por deitar abaixo não resolve nada.

E não resolve nada se, como diz Sérgio Godinho, não construir, não mudar, não transformar, não fizer obra, não encontrar alternativas fundamentadas no contexto concreto que das dificuldades que vivemos.

É preciso «maleabilidade», isto é, abertura e realismo para que a reivindicação, a contestação, a indignação, a rebeldia, a utopia e a crítica sejam «acompanhados por um trabalho de construção, de arranjar alternativas.» Alternativas e saídas construíveis, possíveis de serem postas desde logo em prática, mostrar um caminho, uma luz ao fundo do túnel, para merecerem a adesão das sociedades.

No momento actual de grave crise, há a tentação de cair em acções que nada resolvem, pela impaciência, pela ansiedade, pela desesperança, pela raiva, pela satisfação de culpar ou, simplesmente, vingar, destruir e fazer alguém pagar pelos problemas que estão aí colocados. Nem que seja o cidadão comum que fica com a montra da loja partida ou o carro queimado. Os fins que justificam os meios revela-se uma estratégia com adeptos, especialmente em momentos de crise e de desespero.

Revindicação, crítica, luta mas viradas para a acção e a construção, no sentido de contribuir para a melhoria da vida de todos, a nossa e a dos outros. Para merecer credibilidade.

A revolução do 25 de Abril de 1974 foi feita com o espírito de construção. Não se fez a revolução apenas por fazer, para partir a cabeça a umas pessoas ou prejudicar os portugueses. Derrubou-se um regime (a cair de podre, está claro) para construir uma alternativa concreta e viável, que trouxesse uma vida melhor aos cidadãos do nosso País.
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Entrevista completa
(Se o link não mostrar a entrevista completa, colocar a frase «Reivindicar por reivindicar não resolve nada» no motor de busca e talvez consiga aceder ao texto via Jornal de Notícias)

2 comentários:

  1. É preciso que se saiba que existem técnicas para "fabricar o consentimento" e que são usadas pelos governos para manter as massas passivas!

    amsf

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  2. O Sérgio Godinho está longe de ser um veículo de "fabricar consentimento" :) ou manter as pessoas passivas. Bem pelo contrário. Mas isso não impede que este músico seja crítico relativamente a posturas que se resumem à contestação (mais fácil) não acompanhada por um trabalho de construção (mais difícil). Esta crítica tem mais força precisamente por vir de quem vem.

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