Prazeres, Calheta, 31.12.2017 |
«Um texto pode ser lido em dois níveis diferentes: o nível da história, acessível a qualquer um, e o nível filosófico. Esta duplicidade explica o funcionamento de O Nome da Rosa, a tal ponto que foi feito um filme que assenta apenas no primeiro nível»—Umberto Eco (Expresso 20.2.2016).
É esse nível denominado de filosófico que permite aceder a outra dimensão, a outra profundidade, a outra riqueza do texto e da vida. Que tem algo para desocultar, descodificar, que nos dá a contemplar algo mais, mais especial e subtil, que constitui uma ponte para a aventura do pensamento, isto é, para uma vastidão de liberdade e estímulo para a mente.
Pessoalmente, um texto tem de me provocar e catapultar para o filosófico e o poético. Tem de ter o poder de me enriquecer e transformar e não apenas me entreter (prazer estético). Tem de me conceder horizontes. Tem de me transportar além do imediato e fazer transcender a mesmice quotidiana. Tem de possibilitar transcender-me. Como escreveu Pessoa, «Tudo o que sonho ou passo,/ O que me falha ou finda,/ É como que um terraço/ Sobre outra coisa ainda./ Essa coisa é que é linda.»
Essa outra coisa, mais além, é que é linda. Isto sem menosprezar o valor do entretenimento e do interesse ao «nível da história» (enredo), que também sei reconhecer e valorizar. Contudo, o que a história possibilita e como é contada faz (toda) a diferença.
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