Fui à manifestação * mais anti-Governo do que anti-troika. Como se sabe, o Governo está a tomar medidas contra os trabalhadores (transfere o pouco dinheiro destes para as empresas), que nem a troika manda, e não toma as medidas que a troika recomenda, como o acertado corte no Estado gordo.
Aliás, até o capital rejeita essa transferência do trabalho para o capital, mas o Governo está apostado na competitividade por via dos salários baixos (trabalhar para empobrecer como bem denuncia o Partido Comunista), até os portugueses comerem menos um grão de arroz do que os trabalhadores chineses.
Aquela promessa de cortar nas gorduras este Governo nunca cumpriu porque cortar na despesa da máquina administrativa, de organismos como fundações e institutos, nos consumos intermédios, nas despesas com carros com motorista, cartões de crédito, despesas de representação, telemóveis, subsídio de refeição, deslocação e/ou residência nos altos cargos, entre outros, é mais difícil do que ir ao bolso de quem trabalha por via de impostos, contribuições sociais ou de cortes nos serviços sociais fundamentais do Estado: saúde e educação.
Quem governa ou venha a governar o País na presente conjuntura não podia e não pode falhar. Isto independentemente da cor do Governo.
Como escreve Ricardo Costa no Expresso (20.9.2012), o «liberalismo foi trocado por um conservadorismo estatal que esmaga o mérito, incita a inveja ao sucesso, condiciona o mercado, privatiza por ajuste direto, impede a progressão social, baixa salários de forma permanente e quebra o contrato entre os cidadãos e a Previdência.»
Em 2010-2011 o País já não podia com o Governo de Sócrates e quanto mais depressa fosse embora, melhor. O Governo de Passos Coelho, com pouco mais de um ano de governação, também já conseguiu induzir o mesmo sentimento nos portugueses para a mudança de Executivo. Os governos desgastam-se e, por isso, quando a governação é mais prejudicial do que benéfica, é mudado e dado lugar a outro com nova energia e novas ideias (renovação). Mas ao fim de um ano é um desgaste demasiado precoce...
Surge a questão sensível: que alternativa? Existe alternativa? Se os partidos mais moderados ao centro não dão conta do recado, tipo vira o disco e toca o mesmo, se os outros partidos são de protesto e não assumem os riscos e as dores da governação (encontrar de soluções na realidade concreta), que nos resta? Um Governo de técnicos?
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* Mais de 2 mil aderiram à manifestação no Funchal, lê-se na capa do Diário. Pessoalmente, esperava umas mil pessoas, que vim a saber posteriomente ser também a estimativa da própria organização. Ainda bem que foi ultrapassada tal expetativa realista, um sinal interessante, embora o concerto do Panda, na mesma tarde, no Parque de Santa Catarina, tenha contado com 4 mil pessoas. É de louvar a inexistência de violência nas manifestações por todo o País, tirando algum incidente pontual.
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