Antes de bater nas opções do Governo da República, decorrente das acrescidas medidas de austeridade sobre os trabalhadores, é preciso recordar que já em 2006 a economia portuguesa se debatia com um conjunto simultâneo de graves problemas: produto interno não crescia, produtividade não crescia, taxa de desemprego era elevada e existiam défices orçamentais e défices na balança de transações.
Sócrates começou a governar em março de 2005. Em poucos meses colocou a economia do País com os referidos cinco graves problemas? Claro que não.
Em 2012 temos mais um problema: uma dívida que há quem considere quase impagável (como também é a dívida da Madeira para os madeirenses, que um dia terá de ser assumida pelo Estado ou estamos "condenados" por décadas). Passos Coelho governa desde junho de 2011. Não foi o seu Governo que criou tal dívida.
Portanto, o atira culpas não resolve nada, embora dê jeito à luta política entre partidos. Cada Governo ao longo da história do País tem a sua quota de responsabilidade. Sócrates, por exemplo, não criou os tais cinco problemas (como vivíamos com crédito nem demos conta deles), mas ajudou a criar o sexto: o problema da dívida.
Além disso, tais problemas coincidiram com a valorização do Euro, o que colocou mais pressão sobre a nossa economia, por não controlarmos a moeda que não é nossa - ou não é só nossa.
Aqui chegados, as medidas adicionais anunciadas por Passos Coelho antes do Portugal - Luxemburgo esta sexta-feira, nessa luta obsessiva contra o défice, irão quebrar quase de certeza o consenso, digamos assim, social e político quanto aos sacrifícios dos portugueses para debelar a crise (situação de bancarrota). É assim que se governa para o povo?
Será que os portugueses consideram suportáveis estes novos ajustamentos, sacrifícios ou assalto ao bolso de quem vive do seu trabalho, em boa parte mal pago? Será que tal austeridade extra vai criar mais emprego? Este não se cria com crescimento e produtividade? Baixar os salários é saída para a crise?
Será que vamos considerar justas tais medidas quando sabemos que nem todos pagam por igual? Quem taxa o grande capital? Quem taxa os que fogem ao fisco (o BE denuncia que nas últimas semanas foram readmitidos no País 3.466 milhões de Euros escondidos em offshores, sem pagar imposto - o que daria para cobrir os dois subsídios retirados aos trabalhadores)? Quem ataca as verdadeiras gorduras do Estado como fundações, institutos e a máquina estatal dominada pelos meninos dos partidos? Quem aplica aos políticos (a ganhar mais 81 euros do que em 2011), assessores a levar os subsídios como se nada fosse, aos gestores de empresas públicas ou ao governador do Banco de Portugal a mesma austeridade?
(Recorde-se que anterior governador,Vítor Constâncio, oferia 250 mil euros de vencimento anual, um dos banqueiros centrais mais bem pagos do mundo - o atual governador parece ganhar menos, mas é preciso ter em conta a dimensão do País. O mesmo Banco de Portugal que defendeu, em final de agosto último, que os salários em Portugal têm de cair mais10%).
Que vão fazer o Tribunal Constitucional e o Presidente da República se o Governo continuar a não ser equitativo na distribuição dos sacrifícios, que continuam basicamente a incidir sobre os rendimentos do trabalho por conta de outrem (privado, público e reformados)?
A propósito:
Custos da competitividade da vida moderna
Sem comentários:
Enviar um comentário