«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, julho 26, 2013

«Pulsão exibicionista» na origem da tragédia?


Tudo indica que o terrível acidente rodoviário em Espanha se tenha ficado a dever a excesso de velocidade, cujo controlo é tarefa do maquinista.

Um dirigente sindical veio referir (desculpar? ser complacente? pôr paninhos quentes? relativizar?) que o maquinista em causa é sensato ("não era dos que corria" - eu fico é ainda mais preocupado com os que ele considera aceleras - os que correm - ao comando dos comboios em Espanha...) e que deve haver algo além do erro humano.

Se se provar que fazia uma curva a 190 quando o deveria fazer a 80, estamos conversados...

Fala-se num sistema automático de controlo de velocidade que não existia naquele ponto da linha e poderia ter evitado o acidente, isto é, poderia ter controlado o maquinista. Contudo, paga-se um maquinista (e parece que bem) por alguma razão. Se é para ser tudo automático, mais vale colocar uma máquina em lugar do maquinista.

Se se provar que era um maquinista (imprudente) acelera (e não vamos dizer que acelerou deliberadamente para o acidente), estaremos perante a falta de civismo como responsável pela morte, de uma só vez, de dezenas de pessoas e ferimentos graves para a vida de mais de uma centena.

De uma só vez, porque todos os dias são muitos mais que morrem em acidentes de automóvel, muitos provocados por aceleras e a falta de civismo.

E daqui se chega à educação dos mais novos em países como Espanha e Portugal, cuja «adulação permanente e espectacular da criança-rei (sobretudo o macho)» é uma «porta aberta para a suas pulsões narcisistas e exibicionistas, ausência de perspectiva social positiva salvo a que prolonga a afirmação egoísta de si.» Cito Eduardo Lourenço em O Labirinto da Saudade: Psicanálise Mítica do Destino Português, de 1978. O que dirá este grande pensador da educação das crianças nas últimas duas décadas, que acentuou a «realeza individual» em que só conta o EU e mais ninguém?...

Logo confirmaremos se na origem remota da tragédia do possível erro humano na tragédia ferroviária em Santiago de Compostela, estiveram «pulsões exibicionistas», como uma dada imagem e comentários no Facebook do maquinista deixa antever... Aguardemos. 

Mais: 

Maquinista ia ao telefone segundos antes do acidente
A hora de louco (opinião no Diário de 30 de julho de 2013 - reflexão a propósito em baixo)
Maquinista não compreende por que não travou a tempo ("Sinceramente, digo-lhe que não sei, não sou suficientemente louco para não travar"; o magistrado observa que, quatro quilómetros antes do impacto, o comboio circulava a uma velocidade muito superior à indicada, ao que o maquinista responde que "quatro quilómetros a 200 quilómetros/hora passam muito depressa" e acrescenta que ao entrar nos túneis não se apercebeu de que estava naquele troço e não reduziu a velocidade.)
- Maquinista filmado a dormir na Argentina (é mesmo de ficar preocupado com tais imprudências e irresponsabilidades...)

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A respeito d'A hora de louco:
Muito pertinente o artigo, por levantar a questão da “hora de louco”: a existência humana tem os seus condicionalismos, fragilidades, contradições e desumanidades, a que todos estamos sujeitos. Mas penso que é precisamente por isso, por não controlarmos tudo ou controlarmos menos do que se pensa (inclusive a nós mesmos), que se criam regras de prudência e segurança de forma a minimizar os impactos, para os outros, da “hora de louco” (fragilidade humana) que nos assole. Sobretudo quando temos centenas de pessoas diretamente a nosso cargo e cuja vida está de algum modo nas nossas mãos.

(A “hora de louco” faz-me lembrar conversas dos adultos quando eu era criança em que diziam que fulano tal tinha “carta branca”, tipo “carta de louco”, já que era inimputável pelos seus actos. E fugiam dessas pessoas com “carta branca” pelo potencial de risco…)

Sendo humana a “hora de louco” também não é humano que, perante muitos mortos e feridos, as pessoas responsabilizem quem teve essa “hora de louco”? Não é humano que as pessoas se preocupem mais com os mortos e feridos graves do que com a vítima de uma “hora de louco”?

Por mais consciência e compreensão que tenhamos das fragilidades humanas (e a Justiça tem isso em conta de várias formas, nomeadamente no conceito de involuntariedade dos actos ou tendo em conta o estado psicológico da pessoa), temos sempre de agir no sentido de se minimizarem os riscos de “horas do louco”. Tem de haver um equilíbrio entre compreensão/perdão e responsabilização. E fico preocupado que a responsabilização e a prudência (civismo) individuais sejam de algum modo minimizadas como parecem ser atualmente. Se o maquinista era conhecido por circular devagar (versão contrariada por alguns factos), continuo preocupado com os que aceleram nos carris de Espanha…

A nossa consciência é o nosso pior juíz, é verdade, mas caso a tenhamos. Está a fazer anos que um condutor embriagado matou e estropiou várias pessoas num arraial do Loreto, na Calheta (Madeira), e falou-se que esse condutor logo depois terá alegadamente passado os seus bens para nome de familiares, para que a justiça não os confiscasse para o fundo de indemnização das vítimas, cujo sustento e sobrevivência ficou em causa. A “hora de louco” é humano, tal como o instinto de sobrevivência quando temos uma “hora de louco”…

Tudo ponderado, antes da empatia para com o maquinista do comboio acidentado de Santiago de Compostela, vítima da sua “hora de louco” (mas, pelo que publicara no facebook, parece que tivera outras horas de louco… isto é, de imprudência exibicionista), a minha empatia vai em primeiro lugar para com as vítimas mortais ou não do acidente (feridos sabe-se lá em que estado para o resto da vida…), e para com as suas famílias que sofrem neste momento a destruição das suas vidas. Estabeleço essa prioridade. O que não significa que me ache imune a erros ou que seja alheio ao sofrimento de quem conduzia a locomotiva (não passa pela cabeça de ninguém que o maquinista o premeditasse nem que seja inconsciente).

Um dia que me calhe uma humana “hora de louco” ou grave erro, espero que, caso essa minha hora de louco provoque vítimas (bato em madeira), a empatia e auxílio de terceiros vá para as vítimas em primeiríssimo lugar. Simplesmente os considerarei humanos ao acudir as vítimas e responsabilizar-me, pelos meios próprios, por mais que compreendam a minha fragilidade humana e dor interior pelo sucedido.

Se, de algum modo, na origem do possível erro humano na tragédia ferroviária em Santiago de Compostela, estiveram «pulsões exibicionistas», como uma dada imagem e comentários no Facebook do maquinista deixa antever, seria muito triste e grave. A investigação deverá esclarecer. Aguardemos pelas conclusões.


2 comentários:

  1. Outro olhar sobre a matéria...
    http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/398835-a-hora-de-louco

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    1. Caro/a anónimo/a:

      Outro olhar sobre outro olhar sobre a matéria:

      Muito pertinente o artigo, por levantar a questão da “hora de louco”: a existência humana tem os seus condicionalismos, fragilidades, contradições e desumanidades, a que todos estamos sujeitos. Mas penso que é precisamente por isso, por não controlarmos tudo ou controlarmos menos do que se pensa (inclusive a nós mesmos), que se criam regras de prudência e segurança de forma a minimizar os impactos, para os outros, da “hora de louco” (fragilidade humana) que nos assole. Sobretudo quando temos centenas de pessoas diretamente a nosso cargo e cuja vida está de algum modo nas nossas mãos.

      (A “hora de louco” faz-me lembrar conversas dos adultos quando eu era criança em que diziam que fulano tal tinha “carta branca”, tipo “carta de louco”, já que era inimputável pelos seus actos. E fugiam dessas pessoas com “carta branca” pelo potencial de risco…)

      Sendo humana a “hora de louco” também não é humano que, perante muitos mortos e feridos, as pessoas responsabilizem quem teve essa “hora de louco”? Não é humano que as pessoas se preocupem mais com os mortos e feridos graves do que com a vítima de uma “hora de louco”?

      Por mais consciência e compreensão que tenhamos das fragilidades humanas (e a Justiça tem isso em conta de várias formas, nomeadamente no conceito de involuntariedade dos actos ou tendo em conta o estado psicológico da pessoa), temos sempre de agir no sentido de se minimizarem os riscos de “horas do louco”. Tem de haver um equilíbrio entre compreensão e responsabilização. E fico preocupado que a responsabilização e a prudência (civismo) individuais sejam de algum modo minimizadas como parecem ser atualmente. Se o maquinista era conhecido por circular devagar (versão contrariada por alguns factos), continuo preocupado com os que aceleram nos carris de Espanha…

      A nossa consciência é o nosso pior juíz, é verdade, mas caso a tenhamos. Está a fazer anos que um condutor embriagado matou e estropiou várias pessoas num arraial do Loreto, na Calheta (Madeira), e falou-se que esse condutor logo depois terá alegadamente passado os seus bens para nome de familiares, para que a justiça não os confiscasse para o fundo de indemnização das vítimas, cujo sustento e sobrevivência ficou em causa. A “hora de louco” é humano, tal como o instinto de sobrevivência quando temos uma “hora de louco”…

      Tudo ponderado, antes da empatia para com o maquinista do comboio acidentado de Santiago de Compostela, vítima da sua “hora de louco” (mas, pelo que publicara no facebook, parece que tivera outras horas de louco… isto é, de imprudência exibicionista), a minha empatia vai em primeiro lugar para com as vítimas mortais ou não do acidente (feridos sabe-se lá em que estado para o resto da vida…), e para com as suas famílias que sofrem neste momento a destruição das suas vidas. Estabeleço essa prioridade. O que não significa que me ache imune a erros ou que seja alheio ao sofrimento de quem conduzia a locomotiva (não passa pela cabeça de ninguém que o maquinista o premeditasse nem que seja uma pessoa inconsciente).

      Um dia que me calhe uma humana “hora de louco” ou grave erro, espero que, caso essa minha hora de louco provoque vítimas (bato em madeira), a empatia e auxílio de terceiros vá para as vítimas em primeiríssimo lugar. Simplesmente os considerarei humanos ao acudir as vítimas e responsabilizar-me pelos meios próprios, por mais que compreendam a minha fragilidade humana e dor interior pelo sucedido.

      Se, de algum modo, na origem do possível erro humano na tragédia ferroviária em Santiago de Compostela, estiveram «pulsões exibicionistas», como uma dada imagem e comentários no Facebook do maquinista deixa antever, seria muito triste e grave. A investigação deverá esclarecer. Aguardemos pelas conclusões.

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