Cristiano Ronaldo ajuda criança com cancro adepta do Real Madrid, pagando os tratamentos com o seu empresário |
Não há altruísmo puro, isto é, altruísmo que não tenha algum egoísmo ou interesse individual. Uma afirmação contraditória apenas à superfície. Na realidade, não há dar desinteressado, por mais desinteressado que pareça e seja expresso. Há sempre um retorno qualquer, por mais insignificante que seja.
Não estou sequer a me referir às ações de beneficiência de um Cristiano Ronaldo, em que a dádiva se torna notícia em todo o lado e pode assumir-se como ação de marketing. Quem dá sem certo tipo de interesse, geralmente não publicita.
Mas, não é por não publicitar que significa ser um acto desinteressado. Nem que seja para ganhar um cantinho no Céu ou, simplesmente, sentir-se bem consigo próprio e realizado ajudando os outros. É uma forma mais pura de altruísmo, mas tem uma pitada de egoísmo algures. Dar pode ter um efeito, no cérebro e na alma, semelhante ao da cocaína.
Não há, pois, altruísmo puro. Há formas com menor grau de interesse pessoal (egoísta e individual), mas não em estado puro. Há sempre algo por detrás. Nem que seja a ambição de ser chefe de uma associação de solidariedade social para negociar apoios ou ter um telemóvel de borla.
Faço uma ressalva para não ser treslido. É melhor ser generoso, motivado pelo sentir-se bem e realizado por isso, do que não ser. Muito menos ser alguém que prejudique os outros. Mas não quer dizer que quem dá está purificado quanto ao egoísmo e individualismo. A sobrevivência faz parte da condição humana. Nunca de deixa de pensar no que é melhor para nós, mesmo que ao nível do inconsciente.
Quer-se apenas dizer que o altruísmo e a beneficiência também visam um benefício próprio, mais natural ou menos natural, mais aceitável ou menos aceitável, mais explícito ou menos explícito. O dar (altruísmo) implica receber (egoísmo, interesse individual). Seja esse benefício material ou não, em maior ou menor quantidade. Não é só o que é material e visível que é benefício ou recompensa.
Na recente peça radiofónica Darkside, de Sir Tom Stoppard, uma personsagem diz o seguinte: "altruism is selfishness in disguise, genetically programed for long term benefits" (altruísmo é egoísmo disfarçado, geneticamente programado para obter benefícios a longo prazo.)
E remata: "there's no such thing as altruism. Natures teaches self interest" (não há tal coisa chamada altruísmo. A natureza ensina-nos o interesse pessoal). E nisto surge o tema "Money" dos Pink Floyd.
É assim a natureza e a condição humanas. Não quer dizer que o altruísmo e a generosidade sejam contra a natureza, mas o egoísmo também faz parte dessa natureza e do próprio altruísmo. Altruísmo e interesse pessoal são lados da mesma moeda. Varia as doses de cada um deles em cada pessoa.
E após o tema "Money", uma outra personsagem diz o seguinte: "if kindness is only selfishness in disguise (...), the question "what is the good?" wouldn't be about anything except what is best for you" (se altruísmo e generosidade são apenas egoísmo disfarçado, a pergunta "o que é o bem?" resumir-se-ia àquilo que é melhor para ti.)
Por isso, hesite quando pensar que não é egoísta e sorrie quando outros, supostamente não-egoístas e não-individualistas, o acusem de ser egoísta ou individualista.
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A propósito:
Altruísmo ou egoísmo?
(texto conhecido depois de escrito este post)
E ainda:
Qualquer acto altruísta tem um retorno para quem o pratica
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