Bartoon 17.6.2014
Aderir à realidade foi sempre uma dificuldade nacional. Preferimos disfarçá-la e evitá-la, porque enfrentá-la implica mudar de vida, fazer alguma coisa. E isso, além de muito trabalho para si e para os outros, cria inimigos e complicações. Essa coisa maçadora de fazer melhor, de exigir, de obrigar-se, de disciplinar-se, de responsabilizar-se... Está tudo organizado para não se fazer nada.
Não fazer nada é "mais produtivo", no sentido comezinho, porque assegura a cómoda sobrevivência e a fácil ascensão. Além de popularidade (sermos porreiros). Não fazer nada traz recompensas. O estímulo é para ficar calado, não fazer ondas, promover a paz podre e o compromisso, para tudo ficar na mesma, as águas estagnadas, enfim, o pântano. Uma herança salazarenta.
Não se percebe, pois, que a frontalidade, o confronto, mesmo de firme e duro, de ideias e propostas, produz mais e melhores resultados do que o unanimismo, o facilitismo, a mistificação, o estar bem com tudo e todos ou o silêncio. Mas quem quer melhorar, realmente, resultados? Basta mexer nas estatísticas e atingem-se os resultados sem ter que mudar nada, sem nada fazer. E há ainda essa praga anti-mudança chamada «politicamente correcto».
Tudo se faz para esconder a mediocridade, a estupidez, o ineficaz, o errado, o improdutivo.
A confirmar esta realidade, Marcelo Rebelo de Sousa disse numa recente entrevista (Revista Expresso 31.5.2014): «Guterres, uma vez, deu-me um conselho: não faça nada, porque se não fizer nada será primeiro-ministro. O meu problema foi mexer-me demais.» Quando alguém procura fazer alguma coisa de significativo as forças de bloqueio, os aparelhos minam tudo («o que fica pelo meio impecilha a decisão», refere Marcelo Rebelo de Sousa). Sá Carneiro acabou, inclusive, morto.
A consequência de tudo isto? Demorarmos ou até nunca arrepiarmos caminho. Daí sermos menos produtivos e eficazes do que outros povos, nomeadamente do norte da Europa, em que se inclui a França, com a sua latinidade.
«Só que, de quando em quando, nos cai a Alemanha [selecção de futebol] na cabeça ou uma dívida inexplicável, que levará a pagar 30 e tal anos. Como raio estas coisas nos podem suceder?», diz Vasco Pulido Valente em artigo de opinião (Público 20.6.2014) sobre a nossa endémica recusa em aderir à realidade, que nos impede de melhorar (alterar essa realidade negativa).
O que queremos é escapismo e inércia. Até ao dia em que somos atropelados pela realidade... Já Eduardo Lourenço escreveu, em 1978, no livro O Labirinto da Saudade: Psicanálise Mítica do Destino Português:
«É pena de Freud não nos tenha conhecido: teria descoberto, ao menos, no campo da pura vontade de aparecer, um povo em que se exemplifica o sublime triunfo do princípio do prazer sobre o princípio da realidade.»
Mais palavras, para quê?
Se quer ser um/a gajo/a porreiro/a, sobreviver e ascender em terras lusas... não olhe a realidade, cultive o politicamente correcto e, sobretudo, não mude nada, não faça nada.
Aderir à realidade foi sempre uma dificuldade nacional. Preferimos disfarçá-la e evitá-la, porque enfrentá-la implica mudar de vida, fazer alguma coisa. E isso, além de muito trabalho para si e para os outros, cria inimigos e complicações. Essa coisa maçadora de fazer melhor, de exigir, de obrigar-se, de disciplinar-se, de responsabilizar-se... Está tudo organizado para não se fazer nada.
Não fazer nada é "mais produtivo", no sentido comezinho, porque assegura a cómoda sobrevivência e a fácil ascensão. Além de popularidade (sermos porreiros). Não fazer nada traz recompensas. O estímulo é para ficar calado, não fazer ondas, promover a paz podre e o compromisso, para tudo ficar na mesma, as águas estagnadas, enfim, o pântano. Uma herança salazarenta.
Não se percebe, pois, que a frontalidade, o confronto, mesmo de firme e duro, de ideias e propostas, produz mais e melhores resultados do que o unanimismo, o facilitismo, a mistificação, o estar bem com tudo e todos ou o silêncio. Mas quem quer melhorar, realmente, resultados? Basta mexer nas estatísticas e atingem-se os resultados sem ter que mudar nada, sem nada fazer. E há ainda essa praga anti-mudança chamada «politicamente correcto».
Tudo se faz para esconder a mediocridade, a estupidez, o ineficaz, o errado, o improdutivo.
A confirmar esta realidade, Marcelo Rebelo de Sousa disse numa recente entrevista (Revista Expresso 31.5.2014): «Guterres, uma vez, deu-me um conselho: não faça nada, porque se não fizer nada será primeiro-ministro. O meu problema foi mexer-me demais.» Quando alguém procura fazer alguma coisa de significativo as forças de bloqueio, os aparelhos minam tudo («o que fica pelo meio impecilha a decisão», refere Marcelo Rebelo de Sousa). Sá Carneiro acabou, inclusive, morto.
A consequência de tudo isto? Demorarmos ou até nunca arrepiarmos caminho. Daí sermos menos produtivos e eficazes do que outros povos, nomeadamente do norte da Europa, em que se inclui a França, com a sua latinidade.
«Só que, de quando em quando, nos cai a Alemanha [selecção de futebol] na cabeça ou uma dívida inexplicável, que levará a pagar 30 e tal anos. Como raio estas coisas nos podem suceder?», diz Vasco Pulido Valente em artigo de opinião (Público 20.6.2014) sobre a nossa endémica recusa em aderir à realidade, que nos impede de melhorar (alterar essa realidade negativa).
O que queremos é escapismo e inércia. Até ao dia em que somos atropelados pela realidade... Já Eduardo Lourenço escreveu, em 1978, no livro O Labirinto da Saudade: Psicanálise Mítica do Destino Português:
«É pena de Freud não nos tenha conhecido: teria descoberto, ao menos, no campo da pura vontade de aparecer, um povo em que se exemplifica o sublime triunfo do princípio do prazer sobre o princípio da realidade.»
Mais palavras, para quê?
Se quer ser um/a gajo/a porreiro/a, sobreviver e ascender em terras lusas... não olhe a realidade, cultive o politicamente correcto e, sobretudo, não mude nada, não faça nada.
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