«Não há mais separações entre público e privado, mas também não há mais espaço de encontro ocasional ou de intervenção colectiva criadora. De facto, tudo se encontra hipercontrolado, com vias de circulação pré-determinadas e condicionadas pela racionalidade tecno-social.» [José Gil, 2003].
Vamos começar por virar todo este fenómeno dos blogs de pernas para o ar. Colocá-lo do avesso. Lê-lo criticamente (criticar é cada vez mais um fenómeno “estranho” e elitizado, menos democrático: mais pessoas abdicam voluntariamente de exercer a crítica e o pensamento como se não fosse legítimo, como se fosse inútil, como se fosse uma transcendência...).
O blog, enquanto instrumento de comunicação online, será um meio democrático de criação efectivamente livre ou essa democraticidade e liberdade são apenas aparentes e inconsequentes? Aparência e inconsequência essas como capa de um controlo totalitarista, fascizante, cerceador da liberdade e da criatividade?
O blog não será um sintoma e um instrumento da sociedade globalizada de controlo?
Será o blog uma espécie de pulseira electrónica (tecnológica), que nos aprisiona, mas que o dissimula tão bem que nos dá a sensação de liberdade de movimentos e de pensamento?
Um blog (e o debate no ciberespaço) não equivalerá a esses espaços aparentemente abertos, aparentemente democráticos, de possibilidades aparentemente imensas, que são os centros comerciais?
Aí não se esconderá a standardização feroz, o padrão único, o controlo, o fechamento? A liberdade de movimentos dos corpos não contradiz o progressivo fechamento e isolamento dos mesmos? O aleatório e o impossível apenas virtualmente parecem possíveis. “Liberdade” controlada, com fronteiras bem delimitadas, rígidas?
Os blogs visarão preencher (virtualmente) a ausência de comunicação directa entre as pessoas, entre as pessoas e as instituições?
Além disso, não expõem e matam a esfera do privado na comunicação entre as pessoas? O ciberespaço não é a forma de eliminar o espaço entre as pessoas?
Será uma prisão voluntária, de adesão livre, em que o indivíduo se esvazia, em que se reforça a auto-censura, a auto-violência, o auto-esmagamento, alinha e contribui para a vitória da norma única, do pensamento único, da via única, da ditadura do senso comum, para a prevalência do efeito de normalização?
A aparente ausência de entraves exteriores não criam inibições fortes na espontaneidade e no desejo das pessoas?
Não esvazia os indivíduos? Não impede a abertura interior? Não os torna zombies que circulam livremente pelo ciberespaço?
Que espaço de liberdade é esse que pode valer tantos riscos e condicionamentos para os protagonistas, como a própria “blogosfera” faz questão de alertar os incautos que decidem aventurar-se nos blogs?
Perante tudo isto, será possível que me convença a eliminar o OLHO-DE-FOGO... Dependerá das respostas que eu encontrar para todas as perguntas colocadas.
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