«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE
sexta-feira, agosto 05, 2005
3. Lição do beija-flor
A história:
«Conta-se que, certo dia, houve um incêndio na floresta e todos os animais se puseram em fuga. Todos... excepto o beija-flor. Ia e voltava, ia e voltava, trazendo uma gota de água no bico, que deixava cair sobre as labaredas e a terra calcinada. E, quando um dos animais em fuga o interpelou, dizendo ser impossível extinguir o fogo daquele modo, o beija-flor respondeu: “Eu sei que não são estas gotas que vão apagar o fogo, mas eu faço a minha parte...”»
(José Pacheco, “Cartas a Alice”, 2004)
Lição e ilação:
Fazer a nossa parte...
Todos temos uma responsabilidade no tempo e no mundo em que vivemos. Podemos ignorar essa responsabilidade, mas ela é real. Por medo, por criação de barreiras imaginárias, por indiferença, por inacção, por demissão, por omissão, por egoísmo, por inconsciência ou até por preguiça, às vezes não assumimos o nosso papel, a nossa cidadania, o nosso falar, o nosso fazer para suscitar o debate e a discussão sobre as questões, as contradições e as injustiças. Não é tarefa fácil.
Fazer a nossa parte, fazer o que nos cabe fazer, independentemente de serem pequenos ou grandes feitos, de se materializarem ou não, de acontecerem num meio mais restrito ou num contexto mais alargado da vida e do mundo. Não precisa de assumir a forma de feitos heróicos, no sentido clássico ou tradicional, ou ter dimensão épica. Não é isso que importa. Não é a dramatização exterior. É a atitude, é a postura, é o princípio. Mesmo que não altere nada, fiz a minha parte, lancei sementes, deixei raízes, construí alicerces. É uma acção interior. Do interior para o exterior. Subtil.
Fingir que o que acontece em nosso redor não nos diz directamente respeito nem afecta a nossa e a vida dos outros é uma opção. Mas não a do beija-flor.
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