Nos posts 70 e 57 falou-se da função de vigilância do cidadão ser essencial numa democracia.
Ora, o cidadão para ser vigilante não tem de ser um cavaleiro andante, um D. Quixote, um herói. Tem de ser apenas atento e prático.
Como nos diz o italiano Antonio Tabucchi (Visão 686 de 27 de Abril), a propósito do seu antiberluconismo, «não me via como um paladino, mas como um observador atento e vigilante».
E diz mais: «a política não é para um escritor. O escritor tem de escrever, vigiar os políticos e mantê-los na agenda cultural.» E «deixar de lado a cultura significa não preparar as novas classes dirigentes, não preparar a população. Sobretudo em nações culturalmente frágeis como Itália ou Portugal, onde as pessoas vêem televisão mas não lêem jornais ou livros. Há, como se sabe, um analfabetismo difuso. É aqui que nos temos de fortificar para amanhã, termos um país melhor. É bom criar anticorpos culturais nos nossos países para enfrentar as tais gripes [das democracias], o futuro.»
Viva,
ResponderEliminarO problema é que há poucos hábitos de cidadania em Portugal e resumem-se, na maioria da população, a votar (às vezes) e falar mal dos políticos em geral. Mas a maioria das pessoas esquece-se (ou acha cómodo assim) que se não fizer a tal vigilância que referes no texto são tão "culpados" pelo tal "estado do país" como os políticos que criticam.
Abraço,
Nem mais. Zurzem nos políticos mas esperam sempre que sejam os salvadores que lhes resolvam os problemas todos e lhes providenciem o céu na terra. O poder governativo é tratado como uma entidade divina, como se tivesse sido eleito não pelo povo bem terreno mas por um deus: tudo pode e não erra. E o cidadão esquece o papel que tem, no quotidiano, nos pequenos ou grandes assuntos, numa democracia participativa. Mesmo que alguns não gostem de ser "incomodados" pelo cidadão activo e crítico. É mais uma herança ainda de tantos anos de ditadura. Foi quase meio século (48 anos), não se esqueça. Deixa marcas culturais e mentais profundas.
ResponderEliminarQuem gosta dessas marcas ou heranças anda a dizer que já não é preciso comemorar o 25 de Abril após 32 anos...
Sim. Foram muitos anos em que o sebastianismo reinou e não é despropositado dizer que o portugues aceita os seus falhanços como o seu fado e, em vez de reagir, apoia-se em homens ou classes providenciais.
ResponderEliminarÉ urgente uma mudança de mentalidade. Temos que acreditar em nós e na diferença que os nossos actos podem ter. Assisto a discursos do género ... ele não paga impostos, sou estúpido se pagar ... que adianta poupar água se mais ninguém poupa... e por aí fora. E enquanto não mudarmos essa visão da vida, do mundo e da sociedade não há políticos que nos consigam empurrar para outros patamares de exig~encia e desenvolvimento.
Abraço,