"Chávez Ravine", o disco do ano passado de Ry Cooder, em colaboração com vários músicos latino-americanos, aborda a destruição de um bairro de Los Angeles, nos anos 50, onde viviam mexicanos pobres, a fim de se concretizarem projectos de "progresso".
Pobrecito viejo barrio.
Como te deve doler,
Cuando en el nombre del progresso,
Te tumban otra parede.
Dicen que éramos pobres,
Pues yo nunca lo noté.
Yo era feliz en mi mundo,
De aquel barrio que adore.
Llameron toda la policia.
La policia se llevo a fuerzas a un veiejita
Jalandola por los escalones, gritando,
"Muévansen, dobladores de tacos".
LOS ANGELES 1950
No booklet do disco de Ry Cooder pode ler-se: «Ocasionalmente haviam fotografias nos jornais de alguma família mexicana pobre de Ravine observando um qualquer bulldozer a deitar abaixo a sua pequena casa enquanto eram assediados pela LAPD [polícia de Los Angeles] ou ouviam um sermão de algum político da cidade.
Eu não entendi nada disto a não ser mais tarde, muito depois de tudo ter ido abaixo. Nesses tempos, eles chamavam prugresso a este tipo de coisas.»
RIBEIRA BRAVA 2006
Pode ler-se no Diário de Notícias de 20 de Maio último: «Expropriações à força provocam rebelião na Meia Légua. Populares contra «esta Democracia à Chávez» e escavadoras a galgar casas e haveres e grande aparato policial.
De um lado, a Polícia reforçada com seis agentes da Brigada de Intervenção Rápida e outros dois elementos, à civil, munidos de "shot gun's", a travar o acesso dos jornalistas, em nome «da segurança»; do outro, a Sr.ª Lourdes, de idade avançada mas de foice na mão a gritar palavras ao vento: «Vivo na Meia Légua há 60 anos e aquilo é meu. Ninguém se mete lá que eu mato!»
Os três técnicos da obra, com a chancela de oito empresas [...] recusaram prestar declarações. Mas ponham os promotores a par dos acontecimentos via telemóvel, ora sorrindo ora seguindo com atenção a ofensiva das máquinas, escudados pelo corpo policial que várias vezes deixou claro que apenas estava a cumprir o seu trabalho.
Por debaixo da placa da obra, com os dizeres «o presente projecto visa contribuir para a redução das disparidades sociais e económicas entre os cidadãos da UE», passavam a passo largo alguns moradores que salvavam uma mesa às costas, o porco a grunhir nos braços, baldes com refrigerantes e outros haveres.
Cerca das duas horas, as máquinas limparam o que havia pela frente e a revolta dos populares deu lugar ao orgulho ferido de quem vê os seus haveres consumidos em nome do progresso.
Lê-se ainda no Tribuna da Madeira de 2 de Junho: «máquinas escavadoras entraram à força pelos terrenos na Meia Légua. O aparato policial para intimidar os proprietários demonstrava que a "aquisição" dos terrenos era para ser levada a sério. Nada havia a fazer. Este "espectáculo" causou transtorno e revolta nos proprietários dos terrenos que estavam impotentes.
RY COODER e "Chávez Ravine":
«Estávamos em 1950, em Los Angeles. Os políticos de direita buscadores-de-poder e os obcecados "bigness", planeadores e promotores estavam ocupados a decidir o futuro de tudo. Eles aprendiam também a usar as técnicas do "red-baiting" [ver definição no rodapé] e assassinato de carácter (como ilustratado por Joe McCarthy, J. Edgar Hoover e Richard Nixon), num esforço para derrubar a administração progressista da cidade e o programa público de habitação social. Conseguiram-no e Los Angeles foi todo pavimentado, construíram-se centros comerciais, edifícios em altura e fizeram-se renovações urbanas. À medida que se faziam as fortunas o poder era concentrado e tudo acelerou e aumentou.»
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"Red-baiting" é a acção de acusar alguém de ser comunista, socialista ou, num sentido mais abrangente, de esquerda, sobretudo com a intenção de desacreditar as ideias ou opiniões políticas desse alguém.
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