Edward R. Murrow, jornalista da CBS, vítima de Red-baiting quando ousou expor os actos insustentados do senador republicano Joseph McCarthy, que iniciara uma caça às bruxas por crer, infundadamente, que o governo da América estava infiltrado de comunistas, arruinando vidas de inocentes com o seu Red-baiting.
A propósito da definição de Red-baiting (acção de acusar alguém de ser comunista, socialista ou, num sentido mais abrangente, de esquerda, sobretudo com a intenção de desacreditar as ideias ou opiniões políticas desse alguém) o exemplo e o papel do jornalista Edward R. Murrow, no caso do senador Joseph McCarthy, são incontornáveis.
Na América de George Bush, actualmente, quem se lhe opõe é acusado de simpatia pelo terrorismo e pelos terroristas. Poderia-se chamar Terror-baiting... Na Madeira, além do Red-baiting (comunistas, sindicalistas, entre outra terminologia clássica) ser ainda a regra para desacreditar políticos e cidadãos, já se aplicam novos termos: "terrorismo", "ayatollahs", "talibans", "manobras organizadas contra a Madeira", "anti-autonomistas", "colonialistas" ou "sabotadores".
Por vezes, o jornalismo não pode limitar-se a dar voz a ambos os lados quando é evidente que um dos lados está errado e é destrutivo. Veja-se o exemplo de Edward Murrow. O bem comum, o interesse público, o direito à informação e a objectividade justificam, em determinadas situações, um murro na mesa e um dizer que o rei vai nu.
O esforço de interpretação, descodificação e desmontagem (rigorosa e objectiva) dos factos é fulcral na informação dada aos leitores - que é diferente de opinar. O jornalista não é um repetidor acéfalo ou uma mera correia de transmissão de actos e posições alheios. Tem de haver esforço de interpretação, de constextualização, de aprofundamento, de memória, de descodificação com os olhos postos na salvaguarda do direito que tem o público à informação sem subterfúgios.
O leitor tem de ficar ao corrente de tudo o que está subjacente a um assunto e não apenas assistir ao que dizem as várias partes num dado momento. Nada garante que o interesse dessas partes seja esclarecer o público com a realidade e a verdade das coisas. A inteligência e a competência do jornalista e da comunicação social tem de estar ao serviço dessa realidade e dessa verdade dos factos. Para isso não precisa de opinar ou entrar em justicialismos, claro.
Aqui fica um texto sobre o filme de George Clooney, o obrigatório "Good Night, and Good Luck", sobre esse episódio que envolveu Murrow e McCarthy, ajudando a desmascarar a insustentatibilidade do seu Red-baiting.
[Vide ainda ainda os posts 33 e 34 de Março e o post 52 de Abril neste blogue sobre e/ou a respeito de "Good Night, And Good Luck".]
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The Reporter's Dilemma: Real Objectivity or False Balance
by Jonathan Singer
This month, sophomore director George Clooney scored a success with his historical docudrama, “Good Night, and Good Luck.”
Set during the height of the Cold War, the film details the successful effort CBS newsman Edward R. Murrow to undercut the specious charges of Red-baiting Wisconsin Senator Joseph McCarthy.
Underlying the movie is the belief that there is a truth in the world, and that at times the journalistic trend towards the false objectivity of giving each side of a debate equal weight must be thrown out the window. As Clooney explained to Jon Stewart, “The reason I did it was because it thought it was an interesting time to talk about the responsibilities of the fourth estate.”
Murrow, as played exquisitely by David Strathairn, becomes fed up with simply repeating McCarthy’s unfounded claims of Communist infiltration of the government and devotes an entire program to exposing McCarthy as a sham. As a result of his efforts, and those of others like him, McCarthy was relegated to a position of historical ignominy.
(November 2005)
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