No post Turista procura exotismo (autenticidade natural e cultural) e não sofisticação (cimento e artificialização) abordou-se o problema que se está a criar ao comprometer o exotismo do destino Madeira. O exotismo natural e genuíno da ilha, não o "exotismo" fabricado, de que a praia artificial da Calheta é exemplo paradigmático. Veja-se ainda o post Fim de ciclo sobre o que disse Virgílio Pereira, recentemente, sobre o cuidado ambiental e o turismo na Madeira.
Bem visível a partir do Centro de Artes, onde trabalhou muitos dias na montagem da sua exposição deste ano, o artista Rigo pôde apreciar e pensar no caso de demasiada artificialização e sofisticação que é a praia da Calheta. Artificial como o serviço Jet Bronze Spray que oferece para que, artificialmente, os banhistas que lá vão arranjem um bronzeado tão artificial como o local.
Em entrevista ao Tribuna da Madeira, em 20 de Janeiro de 2006, Rigo afirma que a sua «maior preocupação incide mais sobre a parte natural da Madeira. Por exemplo, acho que estão a ser feitas coisas sobre as quais seria necessário reflectir. Já houve centenas de gerações a viver nesta ilha e nenhuma tem o direito de alterar totalmente o que vai herdar a geração seguinte. A Madeira não é um sítio plano nem de praias de areia, temos de aceitar as características que a ilha tem, sem as artificializar.»
No post «O que a Natureza dá não precisa ser feito» já abordámos o assunto, mas podem ser articuladas mais umas ideias, motivadas pela notícia de hoje no Diário.
Como dizia alguém há tempos, a praia artificial de areia amarela da Calheta é também um caso de pretenciosismo e de novo-riquismo. Além de servir para proteger o hotel construído em cima do calhau, como qualquer um pode ver.
Hoje o Diário de Notícias traz mais uma notícia sobre a referida praia. Diz-se que a «praia da Calheta continua a atrair milhares de banhistas e tornou-se a "imagem" do concelho no Verão.» Que infelicidade a imagem da Calheta ser uma artificialidade... como se o concelho não tivesse nada bonito, exótico e autêntico para servir de imagem e orgulho.
O Olho de Fogo vai cometer uma inconfidência, mas quando o famoso escritor e pedagogo brasileiro Rubem Alves visitou a Calheta em Maio último, depois de ter passado pelo centenário Engenho de cana-de-açúcar naquela vila, desceu até à marginal. Quando viu a praia artificial exclamou o seguinte: «mas é horrível!»
A praia artificial da Calheta não só caminha em sentido contrário ao património natural como aposta no mainstream, no turismo de massas, o tal turismo pé-descalço, que supostamente não seria o turismo que interessaria à Madeira.
Não admira que seja «quase unânime entre os banhistas» que a Calheta «tem uma das melhores praias da Região». O turismo regional mais popular e novo-rico pensa mais no comodismo da sofisticação do que na autenticidade. E se aliarmos a isto a gratuitidade da praia, está tudo dito. Gratuitidade que mais tarde ou mais cedo acabará, como a notícia do Diário deixa perceber e começa a preparar: «o que, diga-se em abono da verdade, nos dias que correm começa a ser uma raridade.» A manutenção de uma estrutura artificial destas tem custos e os tempos de crise estão aí. Veremos se a mesma opinião é unânime quando os banhistas começarem a pagar entradas, além do estacionamento, da espreguiçadeira e demais serviços.
«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE
segunda-feira, agosto 07, 2006
13. Artificial como o Jet Bronze Spray
Onde mora o exotismo e a autenticidade? Que infelicidade a imagem da Calheta ser uma artificialidade... como se o concelho não tivesse nada bonito, exótico e autêntico para servir de imagem e orgulho. (Fotografia: buzico.no.sapo.pt)
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