No post anterior sobre o assunto, Madeira versus República I: onde começa o justo e acaba o empolamento?, demos conta de uma difícil posição: como analisar o diferendo Madeira-Lisboa sem se arriscar a ser chamado de colaboracionista da República, por um lado, ou de autonomista que só pensa "sacar" dinheiro à República, por outro?
O cidadão vê-se entre a espada e a parede. Ainda mais um cidadão (blog) madeirense, que é confrontado com uma situação em que é suposto tomar partido, um partido "evidente", um só partido. É isso que pede e exige (manda) de forma veemente o discurso político. Está tudo pensado e decidido à partida em nome do cidadão e de uma série de elevados interesses. Só há uma possibilidade. Não há escolha. E ai dos «bandalhos colaboracionistas» que ousem romper com essa ordem.
O cidadão fica, pois, capturado por esse discurso, por essa influência, por essa persuasão, por essa propaganda. Ainda para mais quando se apela, com particular intensidade, ao elemento emocional-afectivo, às pulsões mais básicas, que determinam um único caminho, o único partido a tomar. Nem pequenos desvios dessa via traçada são tolerados.
A naturalidade madeirense do cidadão e o conceito de autonomia são elevados ao nível da fé. Não há espaço para o pensamento racional e argumentativo. A adesão e a tomada de um dado partido estão já pré-determinadas pela emotividade, pela afectividade, pela naturalidade.
Neste âmbito, tomando partido na base da fé, da afectividade, da proximidade, inviabiliza-se qualquer possibilidade de pensar e agir com outros parâmetros que não esses.
As técnicas ou metodologias "batalha campal" e "campanha de ódio" visam inviabilizar que se estabeleçam parâmetros como a racionalidade, a argumentação com base em factos ou a ponderação. Só um lado tem "legitimidade" para se fazer ouvir. Os meios "justificam" os fins.
É uma cultura que só admite a "compreensão" (nem é necessária a compreensão porque é pedido simplesmente uma adesão com base na fé, na emotividade, na afectividade) apenas de um dos pontos de vista, neste caso o ponto de vista da Madeira. Não é tolerada a análise distanciada e intelectualmente honesta que procure confrontar, racionalmente, os argumentos das várias partes.
Primeiro, exige-se a adesão incondicional e não argumentada a um dos lados quando primeiro deveria pedir-se a argumentação. Depois de argumentado e pensado pela sua própria cabeça o cidadão decidiria aderir ou não aderir, tomar partido ou não tomar partido. Ou tomar um outro partido que não os dois partidos em conflito.
Nem o partido de não tomar partido é admitido. Não tomar partido é igual a tomar partido contra. Estamos perante um forma de fundamentalismo e autoritarismo de pensamento, que pressiona e aprisiona o cidadão na tomada de um único partido.
Não se leia aqui qualquer partido do Olho de Fogo por um dos lados. O partido do Olho de Fogo é a razão que assiste a cada um dos lados - porventura mais a um lado do que a outro, os factos vão tratar de o evidenciar no futuro próximo, depois da poeira assentar e o ruído baixar de volume.
Ao não tomar partido o Olho de Fogo, neste caso, toma partido pelo factual, pela racionalidade e pelo argumento.
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