A reportagem com destaque na primeira página do Diário de hoje diz tudo. O título Muralha do Jardim do Mar prejudica promoção lá fora e os factos que o sustentam falam por si. São os próprios comerciantes a sentir na pele os efeitos negativos da promenade do Jardim do Mar, que enterrou cerca de 800 metros de calhau e invadiu o mar.
O filme a estrear no dia 15 na Madeira, Lost Jewel of the Atlantic, tem também o mérito de motivar a reflexão dos efeitos pós-promenade (é mais estrada que promenade...), nomeadamente os económicos e turísticos, que é algo importante numa terra cuja actividade principal é o turismo, muito além dos aspectos desportivos ligados ao surf. Sem esquecer as consequências paisagísticas (obliteração do exotismo e autenticidade da natureza da ilha) e ambientais (entre eles a fauna marítima: lapa, caramujo, polvo). Sem olvidar algo menos vísivel mas não menos importante: as consequências ao nível cultural e social - os habitantes locais sentem ferido o orgulho pelo que de genuíno e único perdeu a sua costa marítima; um bocado da alma dos habitantes foi enterrada pelas milhares toneladas de betão.
Destaque-se algumas passagens da reportagem:
«A maioria das pessoas com quem falámos concorda que algo tinha de ser feito para travar a erosão marítima, mas, apesar do pouco à-vontade com que falam sobre o assunto, poucos são os que não reconhecem que a promenade acabou por retirar a projecção internacional que o Jardim do Mar tinha alcançado ao nível europeu e até mundial. Hoje, é com mágoa e tristeza que muitos dos residentes deste freguesia recordam os tempos em que o Jardim do Mar era notícia em praticamente toda a imprensa especializada mundial. Hoje, no capítulo do surf, o Jardim do Mar continua a ser notícia, mas apenas pelas ondas do passado.»
«As quebras nas visitas, dormidas e vendas dos pequenos negócios, sobretudo durante o período de Inverno, também têm sido uma realidade desde a construção da promenade.»
Segundo um habitante, Adriano Longueira, «os prejuízos têm sido evidentes, sobretudo para o "pequeno comércio". Os surfistas, salienta, este jovem jardineiro não podem ser considerados "turistas pobres" pois para "chegarem cá têm de pagar viagens, por vezes longas, alugam carro, compram comida e arrendam casas. Podem não ficar num hotel de cinco estrelas, mas é um turista que gastava na mesma e isso era bom para os pequenos comerciantes". Antes "no Inverno isto estava completamente cheio".»
«Nos últimos anos tudo mudou e "desde que começaram as obras que o Jardim caiu completamente porque já ninguém vem para aqui gastar dinheiro quando sabe que a melhor onda da Madeira está estragada"», refere o mesmo Adriano Longueira.
«Em termos de ocupação hoteleira "houve uma baixa bastante grande" afirma Henrique Afonso acrescentando que a "promenade acabou com uma mina de ouro que existia. Se os nossos governantes tivessem tido um pouco de inteligência poderiam ter feito melhores acessos e aproveitar esta mina porque os surfistas não são aquele tipo de turistas de pé descalço, como muitos os consideram".
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