«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, setembro 03, 2006

8. "Lost Jewel" com dificuldades para ser exibido na Madeira?

A atenção volta-se para qualquer tentativa de impedir a estreia do filme nos próximos dias.

«Tiveram algum tipo de dificuldades para programar a exibição do filme na Região?» Esta foi uma pergunta colocada pelo Tribuna da Madeira, na entrevista a Will Henry, o director da Save the Waves, publicada no dia 1 de Setembro último. O interlocutor respondeu: «muitas salas tiveram medo de o exibir. Por essa razão, escolhemos uma que é gerida de forma independente e [que] tem proprietários corajosos.»

Na mesma entrevista, numa caixa, o semanário publica declarações do empresário que alugou a sala de cinema à Save the Waves para exibição do documentário Jóia perdida do Atlântico. «“Fizeram-nos uma proposta comercial que foi aceite. Estamos numa economia de mercado, o aluguer da sala é um negócio. Só não o poderíamos fazer se houvesse algum impedimento legal relativamente à exibição do documentário, como sejam o incitamento à violência, ao racismo ou à xenofobia”, salienta Maurício Marques, da empresa gestora do espaço.»

Leitura reflexiva:

1. A pergunta do jornalista existe por alguma razão. Que razões tornarão pertinente a realização de tal pergunta? É obrigatório surgirem dificuldades para exibir um filme-documentário na Madeira? O filme em causa produz razões para que se levante a possibilidade de lhe serem colocadas dificuldades de exibição? Porquê e por quem?

2. «Muitas salas tiveram medo de o exibir», respondeu o produtor, acrescentando que foi escolhida uma sala «gerida de forma independente e [que] tem proprietários corajosos.» O documentário é razão para alguém colocar dificuldades à exibição? Qual é a razão do «medo de algumas salas o exibir»?

3. O empresário coloca as coisas num plano racional. Só «se houvesse algum impedimento legal».

4. A razão da pergunta do jornal Tribuna da Madeira e do «medo» de alguns em o exibir, como refere Will Henry, será o clima de ameaça lançado sobre o filme: o Governo Regional anunciou a intenção, em Maio passado, de processar judicialmente, inclusive nos aspectos criminais, os responsáveis pela autoria e pela divulgação de um documentário. Porque, supostamente, nesse documentário que ninguém vira, são utilizados termos pouco abonatórios para o Governo, que entre outras coisas é acusado de ser corrupto.

5. Mesmo assim, essa ameaça de acção judicial seria razão suficiente para as salas da Madeira terem «medo» de exibir o filme? A responsabilidade legal recairia sempre sobre os produtores e nunca sobre a sala de cinema. Não queremos pensar que há outras razões que provocam esse medo além da questão legal.

6. Conclusão: impedir a exibição do Lost Jewel of the Atlantic só poderá ser feita com fundamento legal. Prova disso é ter sido tomada a referida decisão de processar, judicialmente, os produtores do filme.

7. O filme foi já exibido em Portugal Continental. Não houve notícia da invocação de qualquer razão legal para que não tivesse sido exibido. Se é legal para ser exibido em Portugal Continental não seria legal para ser exibido na Madeira?

8. A atenção volta-se para qualquer tentativa de impedir a estreia do filme nos próximos dias.
Se a exibição fosse impedida, por alguém e de algum modo, com fundamento legal, depressa essas razões legais (objectivas) seriam conhecidas e dadas a conhecer.
Se, pelo contrário, o documentário acabasse por ser impedido de estrear-se na Madeira, de uma forma ou de outra, sem que fossem adiantadas razões legais e objectivas, outras leituras seriam passíveis de serem feitas.
Porque as pessoas quereriam conhecer essas razões, como é normal num Estado de Direito e Democrático. Caso contrário, poder-se-ia até pensar que estava colocado um problema de Liberdade de Expressão, que estava em causa o Direito de Informar e Ser Informado, proclamado na Declaração Universal dos Direitos do Homem:

Artigo 19º - «Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão

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