«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, outubro 07, 2006

Carta-balanço de Will Henry sobre o sucesso do "Lost Jewel" na Madeira (bilingual text)

O sucesso na Madeira do film Lost Jewel of the Atlantic, um documentário sobre a destruição de surf spots no Jardim do Mar e em outras localidades da ilha, permite tirar algumas conclusões sobre o actual estado social e político sob o regime do presidente Alberto João Jardim. Sendo um visitante frequente da Madeira durante os últimos 12 anos, envolvido no comércio internacional entre os Estados Unidos e a Madeira nos últimos 20 anos, testemunhei pessoalmente o rápido desenvolvimento que ocorreu por toda a ilha. Muito deste desenvolvimento melhorou, sem dúvida, a vida de todos os madeirenses. Mas, nos últimos quatro anos, algum desse desenvolvimento obliterou o poder de atracção da Madeira enquanto destino turístico, ameaçando a saúde e o futuro da economia da ilha.

O Jardim do Mar é uma aldeia que constitui um exemplo dos erros cometidos pelo Governo e da não compreensão dos pontos fortes que a Madeira já teve enquanto competidora no mercado do turismo global. Na minha vida pessoal, o Jardim do Mar permanece como um dos meus lugares preferidos para visitar, em todo o mundo. Segundo soube através dos seus habitantes, até os anos 70 a freguesia não tinha electricidade nem estrada. O Governo da Madeira é encarado pelos moradores como um salvador, ligando o Jardim do Mar ao resto da ilha e, por sua vez, ao mundo. Este fenómeno não foi sentido apenas nesta localidade, já que muitas freguesias por toda a ilha acederam aos mesmos benefícios proporcionados por um Governo que, convenientemente, tinha os seus melhores interesses em mente. Por esta razão, não é difícil de perceber a inabalável confiança sentida por muitos dos cidadãos relativamente aos seus líderes políticos.

Mais recentemente, contudo, vi a administração da Madeira, por parte do partido do poder, cair numa armadilha de que muitos governos no mundo de hoje são culpados: uma parceira não saudável entre líderes políticos e as indústrias que os suportam. No meu país, os Estados Unidos, esta perigosa parceria fez com que ganhos financeiros a curto prazo tivessem prioridade sobre os ganhos a longo prazo e bem-estar económico do país. Apenas menciono, como exemplo, a guerra no Iraque e as ligações do presidente Bush à indústria do petróleo, para provar o meu ponto de vista.

A minha organização, a Save the Waves Coalition, lançou o filme de modo a informar o mundo de como o desenvolvimento pode ser destrutivo, especialmente se for concretizado sem ter em mente a saúde da economia. O sucesso do filme na Madeira é a prova de que os madeirenses estão a começar a acordar e a dar-se conta que algumas coisas importantes estão a ser perdidas no frenesim do desenvolvimento na ilha. O filme deve servir como uma chamada a todos os madeirenses de que é tempo de tomar os assuntos nas suas mãos. Vivem numa democracia, apesar da grande influência do partido do poder e das suas tácticas de intimidação, e têm a oportunidade de mudar o futuro da ilha antes que seja demasiado tarde.

O Jardim do Mar foi uma localidade que era desconhecida pelo mundo e por muitas pessoas da Madeira. A descoberta de um dos melhores surfing spots do mundo trouxe muita atenção internacional, quase da noite para o dia, e os benefícios económicos desta fama estavam a começar a acontecer. O Jardim do Mar, e toda a ilha, apercebeu-se do benefício da reputação conquistada, que serviria para dinamizar a economia baseada no turismo. A maioria dos turistas vem à Madeira para ver a sua beleza natural e, mesmo assim, o Governo começou a enterrar essa beleza debaixo de montanhas de cimento.

Incito os madeirenses a serem mais activos a moldar o futuro da sua ilha. Não tenham medo de falar contra o que o Governo está a fazer. Como cidadãos da União Europeia, a vossa liberdade de expressão é um direito protegido por lei. Sejam cidadãos vigilantes e questionem sempre a real motivação dos projectos públicos. O Jardim do Mar é um exemplo para o mundo de desperdício de dinheiro, de um abuso de poder que tornou um pequeno número de pessoas ricas ainda mais ricas à custa dos cidadãos comuns. A democracia é um privilégio que não pode ser dado por adquirido. O poder deve manter-se nas mãos das pessoas mas, para o assegurar, os cidadãos têm de manter-se vigilantes e questionar, permanentemente, a motivação do governo e da indústria. A Madeira está numa encruzilhada e o seu futuro está nas mãos da sua população. Os madeirenses não devem deixar a democracia fugir das suas mãos e devem lutar de forma a garantir o sucesso futuro da sua ilha e das gerações vindouras.

Will Henry
Executive Director
Save the Waves Coalition

The success in Madeira of the film Lost Jewel of the Atlantic, a documentary based on the destruction of surfing spots in Jardim do Mar and other locations on the island, makes some interesting points about the current state of social and political affairs under the regime of President Alberto João Jardim. Having been a frequent visitor to Madeira for the past twelve years, and being involved in international commerce between the United States and Madeira for the last twenty, I have personally witnessed the rapid development that has occurred all over the island. Much of this development has, without a doubt, improved the life of all Madeiran citizens. But in the last four years, some of the development has jeopardized the appeal of Madeira as a tourist destination, and has threatened the future health of the island’s economy.

Jardim do Mar is a village that stands as an example of the government’s mistakes and misunderstanding of the strengths Madeira once had as a competitor in the global tourism market. In my personal life, Jardim do Mar has always been one of my favorite places to visit in the entire world. From the people in the village, I learned that as late as the early 1970’s, the village still had no electricity, nor road into the village. The government of Madeira was seen by villagers as a savior, connecting Jardim do Mar to the rest of the island and hence to the world. This phenomenon was not felt just by this one village, either, as many villages all over Madeira saw the same benefits come from a government that seemingly had their best interests in mind. For this reason, it is not difficult to understand the undying trust felt by many of Madeira’s citizens towards its political leaders.

In recent years, however, I have seen the stewardship of Madeira’s leading party fall prey to a trap that many governments in today’s world are guilty of: an unhealthy partnership between political leaders and the industries that support them. In my country, the United States, this dangerous partnership has caused short-term financial gains to take priority over the long-term economic health of the country. I need only mention, as an example, the war in Iraq and the ties that President Bush has to the oil industry, to prove my point.

My organization, Save the Waves Coalition, released the film in order to inform the world of how destructive development can be, especially if done without the long-term health of the economy in mind. The success of film in Madeira is proof that the citizens are starting to wake up, and are realizing that something important is being lost in the frenzy of development occurring on the island. The film should serve as a call to all Madeirans that now is the time to take matters into your own hands. You live in a democracy, and despite the far-reaching power of the ruling party and its tactics of intimidation, you have a chance to change the future of your island before it is too late.

Jardim do Mar was once a village that was unknown to the world and even to many people on the island. The discovery of one of the world’s best surfing waves brought the village international attention, almost overnight, and the economic benefits of this fame were just beginning to be realized. Jardim do Mar, and the entire island of Madeira, stood to greatly benefit from this reputation, which would only serve to bolster its economy, which as we know is based largely on tourism. Most tourists come to Madeira to see its natural beauty, and yet the government has begun to bury that beauty under mountains of cement.

I urge the citizens of Madeira to become more active in shaping the future of your island. Do not be afraid to speak out against what the government is doing. As a citizen of the European Union, your freedom of speech is a right that is protected by law. Be vigilant citizens, and always question the motivation behind public works projects. Jardim do Mar is an example to the world of money wasted, of an abuse of power that made a small number of wealthy people even richer, at the expense of the common citizens. Democracy is a privilege that must never be taken for granted. The power must remain in the hands of the citizens, but to ensure this, the citizens must remain vigilant and continually question the motivation of government and industry. Madeira is at a crossroads in its history, and its future course lies in the hands of its people. Madeiran citizens must not let democracy slip out of their hands, but must fight to guarantee the future success of their island for generations to come.


Will Henry
Executive Director
Save the Waves Coalition

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