Texto publicado no Garajau (6.10.2006), aqui disponibilizado numa versão mais longa:
Os números falam por si. Os mil espectadores, contabilizando a ante-estreia, fizeram de Lost Jewel of the Atlantic um sucesso. O filme mais visto no Cinemax desde a sua reabertura em 2005, como noticiou o Tribuna da Madeira, na semana passada.
Esta receptividade é uma cereja em cima do bolo, porque fazer o filme foi já uma conquista, estreá-lo na Madeira foi outra conquista, merecer e motivar o interesse da comunicação social e da opinião pública foi outro aspecto muito positivo. Por uma razão simples: reconheceu-se a qualidade e seriedade do trabalho, os argumentos expostos pelo filme e o interesse, para a Madeira, de reflectir sobre os factos relatados.
Concentrada na causa desportivo-ambiental, a Save the Waves Coalition evita qualquer tentativa de politização, numa sociedade em que há pouco espaço para o activismo cívico e em que sentido crítico é confundido com ataque político, para inibir a autonomia de pensamento e a acção do cidadão.
Havia consciência dos obstáculos: apatia cívica geral, preconceitos relativamente ao género documentário, o facto da publicidade negativa (polémica) - ao contrário do que é normal - ter um efeito desfavorável na Madeira e as pessoas estarem habituadas a ter ingressos, para eventos culturais, à borla ou a preços reduzidos. Os espectadores foram ver o filme pagando um bilhete de 4.5 euros. Não houve métodos artificiais para atrair as pessoas ao Cinemax. Dependeu, unicamente, da livre e espontânea vontade de cada um. Daí o mérito da adesão dos mil espectadores.
Por tudo isto, o sucesso do filme ultrapassou as expectativas, ao ponto de serem agendadas sessões extra face à procura. Trata-se de um despertar cívico, que pode significar o início - ou até um marco - de uma viragem na atitude do cidadão madeirense face os assuntos que lhe dizem respeito. Na convicção que o progresso pode fazer-se em hamonia com o património natural e as características autêncticas da ilha, mais não seja para cuidar da base da economia da Madeira: o Turismo.
«O sucesso do filme na ilha prova que os cidadãos começam a acordar e a aperceber-se que algo importante está a ser perdido, no frenesim do desenvolvimento em curso», afirma William Henry, director da organização americana. Ele incentiva os madeirenses a serem mais activos na construção do seu futuro, sublinhando que «os cidadãos devem manter-se vigilantes e questionar, permanentemente, as motivações do Governo e da indústria.»
O filme é imparcial, preocupa-se com o futuro económico-turístico da Madeira e constitui uma celebração da sua beleza exótica. É um filme pró-Madeira. Claro que mostra, factual e criticamente, certas obras na costa. Se dão má imagem da Madeira, essa responsabilidade não poderá ser imputada ao filme ou à Save the Waves Coalition.
No final, o filme deixa uma mensagem de esperança e de cooperação, no sentido de poder-se corrigir, no futuro, os impactos negativos de algumas construções.
Ver ainda:
Carta-balanço de Will Henry sobre o sucesso do Lost Jewel (bilingual text)
Sem comentários:
Enviar um comentário