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sábado, outubro 28, 2006

Recife artificial é solução para a Marina do Lugar de Baixo, com várias vantagens (por Pedro Bicudo)

Photo copyright: Tânia Pestana. Mais fotografias em Save the Waves Coalition, Filho do 25 de Abril ou Olho de Fogo. E ainda as imagens vídeo.

Intitulado "Parecer prévio sobre o projecto da Marina do Lugar de Baixo", Pedro Bicudo, Professor de Física do Instituto Superior Técnico, apresenta no seu estudo preliminar duas soluções para a Marina do Lugar de Baixo, alertando que o projecto da empresa holandesa já apresentado não irá solucionar, completamente, o problema. Saiba porquê:

«Por me terem sido pedidos comentários por jornalistas e por uma ONG, demonstrando mais uma vez a minha disponibilidade para ajudar a resolver o problema do surf na Madeira, torno público este parecer prévio sobre o projecto da Marina do Lugar de Baixo, que também procura esclarecer o problema da ondulação no Lugar de Baixo. Este parecer prévio fica à disposição do povo, incluindo o Governo Regional da Madeira, os media e as associações ligadas ao surf, e está escrito propositadamente de uma forma acessível.

I- Comentário ao Projecto para a Marina do Lugar de Baixo

Começo por comentar a solução noticiada pelo DN Madeira em Marco passado, em artigo de Miguel Torres Cunha, que refere um projecto do laboratório holandês de Delft, que propõe caixotões verticais de protecção, cujo topo emerge 5 metros acima da linha de água.

Noto que um Estudo de Impacte Ambiental deveria acompanhar este projecto. Como tal o projecto deveria reflectir sobre o impacte social, e oferecer alternativas para mitigar eventuais prejuízos na natureza e na sociedade. Ora, sendo o surf um desporto praticado no Lugar de Baixo, e tendo o surf um importantíssimo potencial gerador de riqueza tanto para o turismo como para a valorização do património imobiliário do Lugar de Baixo, não se entende como o desenvolvimento do surf não e considerado neste projecto.

Quanto a protecção da Marina do Lugar de Baixo, os caixotões irão reflectir para o mar cerca de 75% da energia da ondulação, valor que depende da direcção da ondulação. Noto no entanto que isto apenas diminui para metade a altura das ondas que conseguem sobreviver a esta protecção. 25% da energia da ondulação poderá continuar a incidir sobre a Marina. Por exemplo, para uma ondulação de 10m, poderão continuar a incidir sobre a Marina ondas de 5m. A reflexão de 75% da energia da ondulação para o mar também não favorece a navegação pois cria ondas cruzadas em torno da Marina. Assim o problema da protecção da Marina não fica totalmente resolvido.

O ideal seria criarmos um recife para o surf em frente a Marina, ou uma praia de calhau, que absorvesse quase 100% da energia das ondas. Se a solução também permitisse o surf sobre o recife, seria bem melhor para o turismo, pois beneficiaria diversos desportos náuticos. Mesmo no cenário do projecto proposto, recomendo que os caixotões se disponham de forma a não piorarem ainda mais a onda surfada no Lugar de Baixo, em particular convém que os ditos caixotões se afastem da zona dedicada ao surf.

II- Particularidades da Ondulação na Madeira

Relativamente as ondas na Madeira, e sabido que as ondas atingem a costa da Madeira com mais velocidade e energia que as do continente devido a ausência de plataforma continental na Madeira. Os surfistas sabem bem que as ondulações de Sueste, Sul, Sudoeste e Oeste atingem fortemente a costa do Lugar de Baixo, e ate mesmo as grandes ondulações de Noroeste, por difracção, atingem o Lugar de Baixo. A difracção e um fenómeno sobejamente conhecido, pelo qual as ondas podem contornar cabos e obstáculos. É comum os surfistas surfarem no Lugar de Baixo ondas de 2 a 4 metros em medidas surfistas (medidas muito conservadoras definidas no Hawaii), o que equivale a 5 a 10 metros em medidas oceanográficas. Em particular, conforme testemunham os surfistas do Lugar de Baixo, quando a marina foi afectada pela ondulação há um ano, estavam surfistas do Lugar de Baixo a surfar a sua onda. Realmente as ondas estavam grandes, mas não eram demasiado grandes para serem surfadas, nem eram ondas descomunalmente grandes. Ondas deste tamanho não rebentam todos os dias no Lugar de Baixo, mas no entanto são frequentes. Ondas ainda maiores rebentam, com uma probabilidade não nula, neste lugar.

Possivelmente a refracção sobre fundos ao largo da marina esta a concentrar as ondas sobre o local da marina, por vezes sobre a abertura da marina. A refracção é outro fenómeno sobejamente conhecido, segundo o qual o fundo pode servir de lente para focalizar a energia das ondas. Este fenómeno existe em frente a pontas submersas, e em frente a possivelmente todas as fajãs da Madeira.

Também possivelmente, a forma dos molhes leva a que estes reflictam as ondas em vez de as absorver, o que conduz a um esforço da estrutura que pode chegar ao dobro do que seria em caso de absorção da energia das ondas. Isto pode explicar como as ondulações, naturalmente existentes (e regularmente surfadas) no Lugar de Baixo, afectam a segurança da Marina.

Estas questões já foram certamente estudadas quando a Marina foi projectada, mas será que algum factor poderá ter sido subavaliado? Em todo caso estas questões deveriam ter continuado a ser monitorizadas após a construção da Marina, para sabermos exactamente qual e o problema. Apenas com um ondógrafo instalado no local poderemos saber se a ondulação foi ou não subavaliada. O esforço da estrutura também deveria ser monitorizado. Trata-se-ia de estudos muito interessantes, não só para a Marina mas também para o desenvolvimento tecnológico nacional e regional.

III- Proposta alternativa ao Projecto para a Marina do Lugar de Baixo

Em primeiro lugar recordo que a Marina do Lugar de Baixo começou a ser construída a nascente da sua localização actual. Felizmente mudou de local, mas infelizmente ainda soterrou com um paredão parte da onda que era surfada no Lugar de Baixo.

Sugere-se que as pedras do paredão sejam deslocadas do seu local, onde são inúteis pois a antiga praia de calhau era mais do que suficiente para proteger a costa, e sejam reutilizadas para reforçar a defesa da marina. Assim resolviam-se dois problemas de uma vez, o do Surf e o da Marina.

Para corrigir definitivamente o problema da Marina há duas soluções que apresento, começando pela solução mais barata e acabando na mais eficiente,

1- deslocar a abertura da marina para o seu outro extremo, que é o mais abrigado das ondulações, dado que se encontra numa baía, e recriar uma praia de calhau entre os molhes da marina e o mar, pois estas praias, por serem de calhau solto e devido ao seu declive, absorvem com eficácia comprovada a energia das ondas,
2- criar um recife artificial em frente à marina para as ondas perderem o grosso da sua energia antes de atingirem a baía. Alias a solução do recife também pode ser projectada de forma a beneficiar o turismo e o ambiente, favorecendo o surf e o mergulho.

IV Conclusão

Para concluir, recordo que a remoção do paredão a nascente da Marina, que afecta o surf, e a deslocação das respectivas pedras para proteger a Marina, resolverão certamente o problema do surf e resolverão, pelo menos em parte, o problema da Marina. Recomendo também que para o problema da Marina se peça um segundo parecer detalhado, que poderia ser fundamentado na tecnologia nacional. Por exemplo o Laboratório Nacional de Engenharia Civil tem dois núcleos dedicados a esta temática. Existem ainda diversas empresas nacionais projectistas de hidráulica costeira. A solução existe desde que se dediquem os recursos necessários à monitorização da ondulação, ao estudo da configuração da Marina, a um Estudo do Impacte Ambiental que inclua o surf, e ao Projecto de protecção da Marina

Pedro Bicudo,
Professor do Departamento de Física
Instituto Superior Técnico
Lisboa
22 de Setembro 2006

2 comentários:

  1. O recife artificial esta afinal ser construída?

    http://www.facebook.com/photo.php?pid=405288&id=130246036988171

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  2. Não, não é um recife artificial. É um aterro junto à Marina.
    http://olhodefogo.blogspot.com/2010/07/marina-do-lugar-de-baixo-com.html

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