A propósito do post Missivas dos leitores: demagogia e estatuto da carreira docente a Raposa Velha (Fliscorno) disse...
Na carreira docente não existe topo da carreira. Existem sim patamares em que se ganha mais do que noutros. Mas não existem etapas em que as funções desempenhadas mudam. Numa carreira em que se começa por baixo e se vai subindo, aí sim chega-se ao topo. Por exemplo, começa-se por secretário e chega-se a director. Mas na classe docente, começa-se por ser professor e acaba-se sendo professor. Portanto não faz ponta de sentido falar em chegar ao topo nem em afirmar que só na classe docente todos os professores chegam ao topo. Isso é uma falácia; uma manha inteligente para justificar a criação artificial de dois escalões mas em que se faz o mesmo em ambos: dar aulas.Um professor quando entra para os quadros atinge imediatamente o topo da carreira, no sentido de que as funções que desempenhará serão sempre exactamente as mesmas. Não confundir o facto do Estado pagar progressivamente mais pelas mesmas funções à medida que se é professor há mais tempo com progressão na carreira e com chegar ao topo. Isso é para as carreiras em que existe uma hierarquia de cargos. Aí sim, chega-se ao topo.
Quinta-feira, Novembro 23, 2006 11:29:00 PM
Comentário:
Ainda bem que analisa mais esse argumento (ver mais em Estatuto da Carreira Docente). A profissão docente no ensino básico e secundário tem o mesmo conteúdo funcional. A progressão na carreira faz-se sempre a ensinar e a trabalhar com os alunos. A função profissional é, de facto, sempre a mesma.
O que se pretende agora é arranjar, artificialmente, categorias diferentes para fazer a mesma coisa, com o objectivo de impedir a progressão na carreira e cortar nos salários e condições de trabalho dos docentes. Ou então pretende-se mesmo alterar o conteúdo funcional dos ditos professores titulares, o que é contraditório: um professor que é avaliado no trabalho pedagógico, com os seus alunos, como excelente ou muito bom deixa de dar aulas, naquilo que lhe reconheceram o mérito e a excelência, e passa a ser um burocrata, dedicando-se às questões administrativas e de liderança, mesmo que para isso não tenha jeito ou mérito algum. Ainda por cima, os ditos titulares vão ganhar o mesmo que já se ganha agora nos respectivos escalões. O prémio é ver os outros piores e à rasca... E estar acima dos demais... mandar/exercer o poder sobre os outros...
Esta categoria artificial de professor titular é mais uma instância coerciva, além da tutela e das direcções das escolas, para ajudar a impor, de cima para baixo e à força, o diktat dos vários níveis superiores sobre a "maralha operária" (o docente deixa de ser um trabalhador intelectual...) que serão os professores "simples". Isto vai gerar conflitualidade, competitividade negativa e mau clima de escola, tão importante para o trabalho pedagógico e educativo em favor dos alunos. Para as instâncias coercivas fazerem o seu trabalho, a tutela vai atirando uns bombons para serem ferozes e implacáveis para com os "subordinados", na mesma medida em que são dóceis e submissos (acéfalos mesmo e desprovidos de coluna vertebral) para com os superiores hierárquicos.
Mas, a senhora ministra não pode só contar com os submissos e conformados. A massa crítica existente na classe docente vai tratar de expor as fragilidades de certas medidas contidas no estatuto de carreira. A senhora ministra não está no terreno para perceber o desânimo e a desmotivação no dia-a-dia, nas escolas. Veremos se a educação melhora com professores a trabalhar em "piloto automático" e a "sobreviver" às vicissitudes da profissão, que Maria de Lurdes Rodrigues e o governo do Partido Socialista acabam de tornar ainda mais impossível.
O cerco e o esmagamento dos professores portugueses vai-lhes sair caro, como à sociedade em geral, com relevo para as famílias e alunos, embora os maiores lesados nem disso tenham consciência - os outros vão colocar os filhos aos colégios e escolas públicas selectas... Há um conjunto de medidas que vão reflectir-se, negativamente, nas condições de desempenho da profissão. Não há milagres nem superhomens ou supermulheres nas escolas. Trabalhar mais horas e ganhar menos e ainda assim melhorar o ensino? A ministra, armada em dama-de-ferro, está convencida que o consegue, como já se disse, coercivamente, desvalorizando e atingindo os professores na sua dignidade profissional. Boa sorte então...
Os professores parece que querem esquecer que a razão de ser do seu trabalho,isto é, a qualidade e quantidade de conhecimentos adquiridos pelos estudantes é má.
ResponderEliminarTenho ouvido pouco da boca dos professores qual a razão de ser destes resultados miseráveis.
Se não houver um estimulo para a diferenciação entre professores, os bons não serão reconpensados e os maus não sentirão necessidade de mudar nada.
Neste momento, que professores desempenham as funções que serão desempenhadas pelos professores titulares? E essas pessoas são as mais competentes para esses cargos? Como é que chegam a esses cargos?