Poder
Quem o tem, tem ascendente
Poder
Quem o tem, faz-se valente
Bem usado
Mal usado
O poder é prepotente
[Poder, José Mário Branco, Resistir é vencer, 2004]
Veremos aonde leva o Governo esta maioria absoluta, ainda por cima aconchegada pelo "impossível" ou irreal unanimismo no congresso do PS - só um voto contra a moção do líder.
Segundo Jorge Coelho, no passado sábado, falando no Congresso do PS, dizia que não valia a pena a gritaria porque o partido do Governo tinha uma maioria absoluta dada pelos portugueses nas últimas eleições, para cumprir um programa de reformas. Porque o «país não pode ser governado por quem grita mais...» António Costa afirma hoje: «em 2009 seremos julgados por ele», referindo-se ao projecto do PS para o país.
É sempre a mesma coisa quando se vêem com os votos na mão. O poder é inebriante. Já ouvimos este discurso na Madeira há décadas. Mas, o voto popular não é uma carta branca para os governos, estilo "votem agora e calem-se para sempre." A democracia não se reduz ao dia das eleições nem ao acto de votar. O cidadão deve manter-se vigilante e participativo. Se for preciso gritar, se achar - em consciência - que há razões para gritar e se indignar, o cidadão deve fazê-lo. Ao governo cabe governar, ao cidadão cabe dar-lhe feedback dessa governação, numa avaliação contínua e não apenas no "exame" final de quatro em quatro anos. Há assuntos que não podem esperar para 2009...
Como disse Helena Roseta, no congresso socialista deste fim-de-semana, ciente dos primeiros sinais de alarme ao inalarem-se os vapores libertados por uma maioria absoluta, «não basta ouvir a rua, é preciso respeitar quem está na rua e saber como as pessoas podem participar nas decisões entre uma eleição e outra» e ter «uma estratégia em que a sociedade se reveja».
Por outro lado, quem votou o programa do PS não significa que tenha concordado com tudo o que lá estava proposto. Votou uma maioria - não necessariamente absoluta - de ideias e razões. Não é uma lógica de "ou leva tudo ou nada". Além disso, o Governo já quebrou promessas feitas no programa eleitoral sufragado. Helena Roseta, no mesmo congresso, disse: «Temos de fazer uma pergunta: Será que o que estamos a fazer no Governo é o que prometemos? Temos de ser implacáveis nesta resposta», declarou, acrescentando que poderia exemplificar medidas contrárias a promessas eleitorais do PS e que isso só pode acontecer «se as razões das mudanças forem justas».
Na mesma medida que as promessas são quebradas, há cidadãos que se fazem ouvir na rua, com mais ou menos razão. Esperamos que tanto o quebrar de promessas como o ir para a rua protestar se façam por razões justas.
Aquela socialista afirmou ainda que a classe média ajudou o PS a conquistar a sua primeira maioria absoluta e que esses portugueses, prosseguiu, «não aceitam o agravamento das desigualdades nem ser catalogados de corporativistas só porque defendem interesses que são legítimos», porque «o interesse legítimo não é exclusivo do Governo». Outro socialista, José Leitão, disse: «Não faz sentido cortar só por cortar», até porque a «classe média e os trabalhadores em geral esperam mais serviços do Estado e não menos», apelando aos socialistas para não serem «insensíveis aos sinais de crispação» de «sectores que são habitualmente a base de apoio» do partido. «Muitas das ditas corporações nada mais são que grupos sociais que temos de associar às nossas políticas reformistas», rematou.
O sindicalista João Proença afirmou, ainda no referido congresso, que «não é aceitável de um governo socialista práticas anti-sindicais.»
Jorge Coelho poderia ter dito o que disse sem parecer prepotente. Mas, a confiança e o à vontade conferidos por uma maioria absoluta soltam certas atitudes. Sofre a democracia participativa e a pluralidade. Passa a haver uma só via, uma só legitimidade - a do Governo - e uma única maneira de fazer as coisas. Torna-se unilateral porque acha que não precisa negociar ou fazer a mais pequena cedência.
Para já, a popularidade mantém-se. Uma sociedade civil dada à passividade e lassidão como a portuguesa gosta de líderes fortes, precisam de um "Pai" a olhar pela sua vida e a «pôr tudo e todos na ordem"...
Ver a propósito o Besôirar: Lobo vestido de cordeiro
O seu artigo é equilibrado e intelectualmente honesto mas não sejamos ingénuos ao ponto de pensar que a "rua" não é parcialmente manipulada...a "rua" é fruto de uma elevada percentagem de manipulação com este ou qualquer governo!
ResponderEliminarPossivelmente a legislação sobre financiamento desportivo da RAM entrará em choque com a mesma legislação nacional (contra os subsídios ao desporto) e a "Rua" mais uma vez virá à rua na Madeira. A estratégia será apresentar desportistas deficientes, equipas femininas, jovens futebolistas não profissionais como as princípais vítimas da nova legislação que o "Continente quer impor à Madeira". Será a "Rua" a falar no entanto qualquer pessoa com o mínimo de testa sabe que actualmente não são esses os principais beneficiados com a actual política pelo que com a nova legislação não são eles os prjudicados mas os clubes profissionais.