A leitura cultural e sociológica sobre o voto Não, esmagadoramente maioritário no interior Norte e nas Ilhas, incomoda alguns sectores porque expõe o conservadorismo contrastante com a cultura mais progressista do Sul e zona Litoral do país. Só isso. Ler isto não é colocar em causa a liberdade de escolha e as convicções de ninguém. É o que é e pronto. Há problema ou incómodo do Não assumir-se nas suas escolhas e convicções? Não se vê os votantes pelo Sim incomodados com as leituras sobre o seu sentido de voto... Eis um valor acrescentado dos referendos: ajudar a traçar o mapa sociológico e cultural do país. Fica tudo à mostra, embora numa perspectiva ampla (dominante). É preciso transparência para depois ninguém andar a fazer-se passar por aquilo que não é, conforme as ocasiões.
No entanto, há motivos para optimismo (moderado): a evolução, relativamente ao referendo de 1998, é um bom indicador quanto ao facto de que Portugal caminha no sentido de uma sociedade mais aberta, moderna e progressista. Na Madeira, o Sim cresceu mais de 10% relativamente a 1998. Um pequeno passo no tempo de vida de um madeirense, mas um grande passo no sentido do progresso e da modernidade socio-cultural insular.
Não sei porquê, mas sinto uma contradição entre «modernidade socio-cultural» e «insular»...
Ética, moralismo e política
Nélio,
ResponderEliminarEstou totalmente em desacordo consigo. Convictamente, eu votei Não.
No inicio da construção de uma posição sobre qualquer matéria, esta exige estudo, recolha de informação ampla, sem ideias predefinidas, e principalmente com a mente bem aberta. Mas convém acrescentar que qualquer um de nós tem um conjunto de princípios e valores que regem as nossas decisões e que posteriormente são pesados os prós e os contras. Eu sou pela defesa da vida e estou convicto que existem alternativas que passam pela maior responsabilização do Estado nos mais diversos sectores que são transversais ao aborto. O actual sistema não é perfeito, e há que aperfeiçoa-lo.
Este tema não é novo para mim, a minha decisão no passado domingo é o reflexo de alguns anos de estudo, de alguma experiência acumulada, de exemplos, de reflexão, que naturalmente vão amadurecendo a nossa posição. Eu pesei muito as posições dos que lidam no seu dia a dia com as mulheres que inicialmente iam abortar e que foram persuadidas a não o fazer e requereram o apoio de casas de acolhimento. Pesei também os que cuidam de crianças desfavorecidas, institucionalizadas, que acreditam que está ali uma vida e que vale a pena defende-la.
Se chama isto ‘’conservadorismo’’? Que o seja. Então eu sou um Conservador!
Quando refere ‘’cultura mais progressista do Sul e zona Litoral do país’’ lembro-lhe que a zona Sul do continente é influenciada esmagadoramente e de forma cega pelo PCP. Se chama mais ‘’progressista’’…