Como já se escreveu neste blogue, ninguém pode negar determinados méritos, que são factuais, ao presidente do Governo Regional da Madeira e à maioria social-democrata. Em poucos anos, após o 25 de Abril, a Madeira foi colocada no mapa e obteve benefícios (solidariedade) face a um Estado de tradição centralista. A contragosto de muitos que se opunham e se opõem à emancipação madeirense.
Foi preciso "falar de rijo". Foi preciso assertividade, firmeza e ousadia, independentemente do partido que sustentava o Governo Central, para a Madeira e a Autonomia se afirmarem e recuperarem de um atraso muito grande, fruto da insularidade e de outros factores, em que se inclui o tal centralismo do Estado que votava ao esquecimento as ilhas. O presidente do Governo reitera que o seu partido é a Madeira e assim é. Claro que tem outros partidos, tem o seu estilo, mas a Madeira está acima de tudo.
Um outro mérito, tem a ver com a obra feita. Se a recuperação do já referido atraso da Madeira se fez ou não da melhor maneira, com ou sem populismo, é outra discussão, mas a obra realizou-se.
Agora, o reconhecimento dos méritos não implica, no extremo, aceitar, acriticamente, todas as políticas e actos governativos da Madeira, nem determinadas atitudes e métodos, que um poder de sucessivas maiorias absolutas foi gerando durante as últimas três décadas, num contexto com todos os problemas herdados de 48 anos de ditadura. Não é uma questão de tudo ou nada. Não é uma questão de fechar os olhos para o que correu (corre) mal. Não é uma questão que justifique colocar na mira ou ostracizar quem tem a frontalidade de discordar, participar na vida pública e exercer a cidadania normal num Estado Democrático e de Direito.
Compreende-se que, face à mentalidade da sociedade madeirense, foi preciso encaixar-se nela e exercer um certo nível de controlo para tornar a Madeira governável (com estabilidade política e social), mas, passados quase 30 anos, deveriam já ter sido estimuladas (concedido espaço) determinadas mudanças (revoluções) culturais e cívicas que conduzissem a uma maturação e arejamento democráticos (desbloqueios). Até por razões de desempenho económico, já que a qualificação, nível de conhecimento, competências e capacidade de iniciativa dos recursos humanos são aspectos decisivos, para quem não quer viver só do Turismo ou do investimento público. Num mundo moderno, concorrencial e competitivo, de busca do melhor, da qualidade e da excelência, as ideias e projectos devem prevalecer pela sua pertinência intrínseca e não por outros factores secundários (amizade, ideologia, cor política, origem socio-familiar, tráfico de influências, entre outros). É preciso não ter medo das ideias novas e da inovação, nem as esmagar.
Uma sociedade que padece de males endémicos como a «inveja», o «gosto pelo maldizer», «a «não distinção entre qualidade e mediocridade, entre o principal e o acessório» - sem esquecer a pouca tolerância face a ideias diferentes e à discordância; o desprezo e hostilização das minorias; a rudimentar convivência democrática; o acanhamento cidadão (resignação, cautela, silêncio, comodismo, submissão, medo); o estar a bem com deus e com o diabo; o individualismo oportunista e a pouca solidariedade, cujos sintomas são o domínio do interesse pessoal e do lema "barriguinha cheia coração contente" - precisa de abertura, emancipação e autonomia. A última coisa de que precisa são de estímulos (comer só do que gosta) para ficar na mesma.
Sim, a autonomia que muito se reivindica e quer aprofundar a favor da Madeira tem de ser concedida com fartura em casa. Para não confirmar-se o ditado "em casa de ferreiro espeto de pau". Em casa de autonomia política não faz sentido haver fome dessa e de outras autonomias. Tem de acontecer e ser praticada (interiorizada e aprofundada) em qualquer sector da sociedade. Independentemente do(s) partido(s) ou personalidade(s) que governem a Madeira.
É já altura de mudar.
ResponderEliminarSão 30 anos de poder manipulador, pese embora tudo o que de positivo se fez.
Desta vez o meu voto vai para o Jacinto Serrão.
Sectores de actividade que se desenvolveram após 20 anos de fundos comunitários, onde estão os empresários da ilha que beneficiaram com estes fundos, as empresas internacionalizaram-se... Ou estão todos do lado do poder instituído, e por lá vão ficar até que o estado privatize tudo o que andou a fazer... e decida cair mas boas graças.
ResponderEliminarPara depois pagarmos balúrdios se quisermos beneficiar de alguma coisa... Dependência publica é bom? Vamos pedir autonomia para depois nós vendermos aos Ingleses ou porque não aos Americanos...