«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

quarta-feira, março 21, 2007

Professores de luto e em luta 44: tomada de posição demolidora de Júlia Caré

A professora e deputada à Assembleia da República, ex-presidente do Sindicato dos Professores da Madeira, furou a disciplina de voto imposta pela maioria parlamentar relativamente ao Estatudo da Carreira Docente (ECD), como noticia hoje o Diário. Isto na votação em sede da comissão de Educação, na sequência da Apreciação Parlamentar do ECD (Decreto-Lei nº 15/2007, de 19/1) levada a plenário em 2 de Março último. Júlia Caré justifica a quebra da disciplina partidária ao considerar que a nova versão do ECD representa, em alguns aspectos do seu articulado, um «corte radical com o sentir socialista».

Na altura, fizemos votos que os «professores parlamentares não cuidassem apenas da disciplina partidária e dessem um qualquer sinal relativamente a algumas matérias no novo ECD». Um primeiro sinal surgiu, nessa altura, com a Educação a fracturar o PS. Mas, pelos vistos, parece que o partido socialista está a conseguir calar os professores deputados. Só Júlia Caré teve a coragem de furar essa disciplina, quando as ordens eram para chumbar todas as propostas de alteração da oposição. Não é fácil demarcar-se da política educativa do Governo quando se faz parte da maioria parlamentar que o suporta. Os partidos são, por vezes, pouco democráticos... Recorde-se que 36 professores têm assento na bancada parlamentar socialista, em São Bento.

Júlia Caré, nos últimos meses, tem sido confrontada e até atacada, por vezes de forma acalorada, devido ao facto de integrar a bancada do partido socialista na AR e ter sido, entretanto, aprovado um ECD pouco amigo não só dos professores como do ensino. Ontem, tomou uma posição clara. Após ter abandonado a sala para não se submeter à disciplina de voto, em sede de comissão parlamentar, regressou para entregar uma declaração de voto.

Nela criticou «duramente» a opção por duas carreiras na docência (professor e professor-titular) e valorização do exercício de cargos em detrimento do trabalho docente, sem esquecer as quotas de progressão, «artifício administrativo, arbitrário». Refere mesmo que as categorias e as quotas representam uma «profunda injustiça e um corte radical com o sentir socialista.» É muito crítica ainda quanto ao papel dos pais e da contabilização das taxas de abandono escolar na avaliação dos professores, ao se «responsabilizar os professores por tal flagelo, quando mais ninguém o é.»

2 comentários:

  1. Estamos a 1 mês e meio das eleições e a deputada vinha sendo acusada pelas hostes dos PSD-M de fazer vista grossa à nova versão do Estatuto da Carreira Docente.
    Será este um acto de coragem ou uma encenação autorizada pela máquina socialista?

    ResponderEliminar
  2. É um facto que o decreto-lei que aprovou o novo Estatuto da Carreira Docente não passou pela Assembleia da República. Foi aprovado em Conselho de Ministros, para evitar o embaraço político aos deputados professores e ao PS, que não quis arriscar indisciplina partidária.

    Só agora, por via de uma apreciação parlamentar, foi alvo de discussão em São Bento. O momento não foi determinado pela bancada do PS porque a apreciação do ECD foi requerida pelo PCP. A última coisa que o PS quereria era o incómodo de confrontar-se, em plenário, com as questões do ECD. Houve ordens quanto ao sentido de voto na comissão de Educação na AR, que chumbou as propostas da oposição.

    Além disso, se fosse uma encenação a tomada de posição não seria tão clara e dura. Os termos conhecidos da declaração de voto de Júlia Caré nem a brincar seria autorizada por uma máquina partidária. Estão em causa princípios.

    ResponderEliminar