Trago António Lobo Antunes na alma desde a leitura de Memória de Elefante, Os Cus de Judas, A Explicação dos Pássaros e Fado Alexandrino. O olhar clínico e realista sobre a condição humana e a vida cativaram logo.
Foi com tristeza que soube da notícia dada pela Crónica do hospital (VISÃO 12.04.2007), pela própria mão do escritor. Num momento difícil, íntimo, assume-se personagem da sua própria escrita e publica-a, no seu realismo desconcertante, na sua condição humana, encarando de frente a vida... a mortalidade física... «O cancro ratando, ratando.»
António Lobo Antunes procura ajustar-se às novas e inesperadas circunstâncias («isto alterou, de cabo a rabo, a minha vida»), da evidente dificuldade («momentos de muito desânimo e momentos de desânimo maior») e, no meio da incógnita («o que farei daqui para a frente, se existir daqui para a frente?»), as certezas da produção literária («livros, claro») e da luta pela sobrevivência («de uma forma ou de outra a gente luta sempre»).
Embora imortalizado na sua obra literária e, por conseguinte, na alma dos leitores, contamos com a sua presença física (e os livros que lhe dão alegria escrever) por muito tempo. Como afirmou certa vez, «é preciso cansarmo-nos, trabalhar muito para haver dias felizes.» Oxalá recupere esses dias felizes.
Sobre a escrita, Lobo Antunes disse: «no fundo, a nossa vida é sempre uma luta contra a depressão e, em relação a mim, escrever é uma forma de fuga ou de equilíbrio… Por outro lado, há a sensação de qualquer coisa que nos foi dada e que temos obrigação de dar às outras pessoas: quando não trabalho sinto-me culpado. Há ainda a sensação do tempo, ou seja, ter na cabeça projectos para 200 anos e saber que não vamos viver 200 anos...»
«As pessoas de quem gostámos e partiram amputam-nos cruelmente de partes vivas nossas, e a sua falta obriga-nos a coxear por dentro» (António Lobo Antunes, Segundo Livro de Crónicas, 2002: 217).
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