«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

terça-feira, abril 17, 2007

Did it need to be so high?*



Não há uma relação democrática adulta entre a governação e a sociedade madeirense.

Trata-se que uma relação entre um pai normativo, regulador de comportamentos, que tem aspectos positivos como a colocação de limites e exigência, mas quando atinge um ponto em que se torna um pai afectivo superprotector ou "big brother", possessivo e consumidor compulsivo de atenção, ainda por cima exigidas quase em exclusividade (quem não é a favor é contra, quem não é amigo declarado é declarado inimigo), torna-se demasiado presente. Torna-se uma relação desiquilibrada, pouco saudável e pouco estimulante para o crescimento e desenvolvimento, na potência máxima de vida, para ambas as partes.

Previligia-se a área de comunicação sentida (emotiva) e os madeirenses reagem quase sempre como uma criança submissa, que receia provocar a ira no pai. A normatividade gera, todavia, alguns rebeldes, mas poucos. Um sintoma da "criança" no madeirense é o queixume endémico. Quem se queixa procura afago e protecção. E assim se alimenta uma relação filial de (inter)dependência, sem que a idade adulta e a maturidade cheguem.

O mão de um líder forte, de um pai omnipresente e dominador, que em troca do seu empenho e protecção exige obediência, pode facilitar o exercício e controlo do poder, mas gera uma sociedade civil dependente, infantilizada, anquilosada, fechada, acrítica, sem iniciativa (capacidade empreendedora), sempre expectante e à espera que alguém lhe diga o que fazer e lhe coloque o pão na mesa. Cultivou-se a dependência e pouco a autonomia em casa, trave mestra da pessoa/sociedade adulta: em casa de autonomia política não faz sentido haver fome dessa e de outras autonomias - tem de acontecer e ser praticada - interiorizada e aprofundada - em qualquer sector da sociedade, independentemente do(s) partido(s) ou personalidade(s) que governem a Madeira.

Falta revolucionar posturas e mentalidades. Compreende-se que, face à mentalidade da sociedade madeirense, foi preciso encaixar-se nela e exercer um certo nível de controlo para tornar a Madeira governável (com estabilidade política e social), mas, passados quase 30 anos, deveriam já ter sido estimuladas - concedido espaço - determinadas mudanças (revoluções) culturais e cívicas que conduzissem a uma maturação e arejamento democráticos (desbloqueios), ao tal crescimento e expansão, na potência máxima de vida, da sociedade madeirense. Até por razões de desempenho (sobrevivência) ao nível económico.

Entretanto, no seio da nossa sociedade, não se geraram alternativas governativas e a Madeira caminha para um impasse ou alteração abrupta na governação. Esperemos que os madeirenses não acordem estremunhados e saibam agir com a maturidade democrática não vivenciada (aprendida).

Também por tudo isto, o comodismo é um atavismo regional. Como escreveu António Jorge Pinto, a «actual casta de madeirenses é de uma cepa muito mais acomodada. Sem objectivos. Sem opinião de nada e sobre nada. Gente que não se inquieta com o seu próprio quotidiano, o seu destino. As suas vidas. As vidas dos seus filhos. Gente dormente» (Tribuna da Madeira, 21 Abril, 2007).

Revolta da Madeira
Revolução cultural em falta
Espirrar é um acto político

*
Hush now baby, baby, dont you cry.
Mother's gonna make all your nightmares come true.
Mother's gonna put all her fears into you.
Mother's gonna keep you right here under her wing.
She wont let you fly, but she might let you sing.
Mama will keep baby cozy and warm.

Mother, did it need to be so high?

1 comentário:

  1. Nélio,

    A frase de António Jorge Pinto é inquietante, diria mesmo brutal. O pior, e digo-o com tristeza, é que corresponde, com as devidas diferenças, com a percepção que tenho. As generalizações são perigosas e não queria entrar no facilitismo das mesmas (apesar de já o ter feito) mas há um claro défice de discussão cívica, défice de participação crítica na política e, como está descrito na citação, défice de inquietação na região.

    Abraço,

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