«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, maio 20, 2007

Kimiko Yoshida no Centro das Artes

The Guernica Bride, remembering Picasso (auto-retrato) Kimiko copyright 2006

Depois de Rigo, eis a mostra de trabalhos que mais me impressionou no Centro das Artes - Casa das Mudas, na Calheta. Kimiko Yoshida interpela o pensamento além de provocar o prazer estético. Tudo o que não seja eu está patente até 26 de Agosto.

Uma selecção a partir dos textos de Jean-Michel Ribettes sobre a arte de Kimiko Yoshida:

"A arte é aquilo que transforma", diz. Transformação, será essa a palavra-chave de Kimiko Yoshida. “A transformação é, para mim, o valor último da obra. A arte tornou-se, para mim, no espaço do reviramento, da livre ressonância, da metamorfose mudável – mutação, permutação, transmutação. Os meus auto-retratos, ou o que é designado por esse termo, são apenas o local e a fórmula da transfiguração. Interessa-me tudo o que não seja eu. Estar onde penso não estar, desaparecer onde penso estar, eis o que importa.”

The Pekin Bride (auto-retrato) Kimiko copyright 2003

«Assim aparece, ao sabor das transformações de si realizadas por ela própria, a figura de uma africana, seguida de uma índia, de uma tibetana, com digressões pela Rússia, Palestina e Iémen… Uma mulher, seguida de outra mulher, seguida de outra… Aparecimento e desaparição, as figuras mudam e não mudam, trocam-se na noite dos tempos, juntam-se noutro sítio e de outra forma, indicam a saída do círculo. Epifanias e iluminações…»

«Kimiko Yoshida anexa as mitologias, desvia os rituais e transforma o significado destes; as suas experiências escrevem uma nova forma de viver, variegada, abundante, maleável, uma nova forma de explorar as culturas e as religiões, ora por dentro, ora por fora, ora nesta língua, ora nesta outra. Mostra a sua vida através da divisão, do fragmentário, da mistura dos géneros, da deslocação, da colagem. É a existência contemporânea mais livre, mais alegre e mais consciente, a experiência artística extrema, indivisível, que se afirma o único verdadeiro apogeu do real.»

The Afghan Bride (auto-retrato) Kimiko copyright 2005

«Ao transformar-se, Kimiko Yoshida oferece-se a oportunidade única de elevar o seu projecto até um impossível que o ultrapassa. Ao afirmar o direito absoluto a identidades sucessivas e simultâneas, ao mesmo tempo ficcionais (cada auto-retrato como Noiva fala de uma noiva celibatária) e contraditórias (A Noiva Rei da Judeia, A Noiva Demoiselle d’Avignon, etc.), ao afirmar o direito absoluto a desaparecer no apagamento e na metamorfose de si, Kimiko Yoshida afirma o único direito que é o inverso de qualquer poder, uma loucura necessária à única razão de ser da arte, que consiste em transformar aquilo que apenas a arte pode transformar.»

"Cada fotografia é uma cerimónia da desaparição. Os meus auto-retratos são naturezas-mortas." «Kimiko Yoshida reconduz tudo à ausência, à desaparição, ao apagamento. Mas tudo reside na transformação, nas ligações, nas inversões: metamorfose do corpo, mudança dos significados.»

The Green Tea Bride (auto-retrato) Kimiko copyright 2006

«A artista japonesa experimenta o enigma do mundo ao desapossar-se de si mesma, abandonando-se à impureza infinita da migração e da mestiçagem, nas profundezas do indefinido, na infinidade essencial do universal.»

«A arte de Kimiko Yoshida tende para o essencial; é uma arte que se dirige à sua essência, que não trata de reproduzir a figura do seu modelo, mas sim de compor com luz e cor uma figura que seja a imagem única de uma figura única, e não a figura de alguém.»

The Mao Bride (auto-retrato) Kimiko copyright 2006

«Kimiko Yoshida rejeita essa defesa mortífera, furiosa, arcaica da “identidade”, da comunidade, da nacionalidade – nisso consiste a sua “absoluta perfeição”. Nenhuma pertença a define, nenhuma família, nenhum clã. Manifestamente, não pertence nem adere a nenhum grupo étnico, religioso ou sexual. Vira as costas às epidemias contemporâneas da aflição identitária : pertença a um gueto religioso, câmaras mortuárias comunitárias, endogamia étnica, segregação humilhada do gender. A artista exclui-se do niilismo depressivo que caracteriza a ideologia e economia globais. A sua obra responde justamente à globalização das mercadorias e das imagens atravessando as culturas e religiões constituídas, misturando as referências entre elas, metamorfoseando-as. Opõe-se aos choques entre comunidades linguísticas e pertenças nacionais cruzando ritos e mitologias, que miscigena e transforma.»

The Bride Grand Commandeur de la Légion d'honneur (auto-retrato) Kimiko copyright 2006

«Kimiko Yoshida explica-nos que a identidade é uma fantasia, uma projecção imaginária, nada mais que uma sobreposição de sucessivos empréstimos identificativos. Pensa verdadeiramente que não existe identidade, apenas identificações.»

«Saberemos escutá-la? Nada é menos seguro.»

The Japonese Bride (auto-retrato) Kimiko copyright 2003

2 comentários:

  1. Também achei a exposição belíssima. Com sua licença, vou recomendar este post.

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  2. Não precisa de pedir licença. Eu apenas citei/editei/compilei informação, da autoria de terceiros, disponível na página da artista, para a qual fiz os respectivos links. É uma nota de divulgação motivada pela forte impressão que me deixou os trabalhos fotográficos (e não só) de Kimiko Yoshida.
    Saudações.

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