Eduardo Prado Coelho, professor, escritor e ensaísta, de 63 anos, faleceu hoje de manhã na sua residência em Lisboa.
Fazia um comentário político quotidiano no jornal Público. O último comentário publicado, no derradeiro dia de vida, ontem, foi sobre a Madeira, mais especificamente a propósito do comício de Verão do PSD regional, no Porto Santo (clicar na imagem para ler):
«Cá temos o modelo perfeito do pensamento reaccionário: vai-se buscar um princípio suposto intocável, neste caso a "alma nacional" [ou a "vida humana"] para interditar qualquer debate racional e ponderado sobre estas matérias [casamento de homossexuais, aborto, entre outros] e não aceitar a pluralidade de posições.»
A recordar:
Madeira endémica espezinha tolerância e respeito
Portugal ficou muito mais pobre, culturalmente falando, com a morte do EPC, foi uma grande perda mas há que continuar a "luta" pela liberdade das ideias e das opiniões, pois essas vão ficar e as "bocas" de AJJ vão passar rapidamente à história, pelo menos é o que espero.
ResponderEliminarSaudações
Ainda bem que OLHO DE FOGO prestou esta homenagem a um intelectual público.
ResponderEliminarEis a sua última crónica, precisamente dedicada à Madeira:
"O Fio do Horizonte
A crónica de ontem de Eduardo Prado Coelho
Comício de Verão
No seu habitual comício de Verão do PSD/Madeira, lá tivemos Alberto João Jardim a vociferar com a habitual virulência e desfaçatez. Conseguisse ele imaginar o que a esmagadora maioria dos portugueses do continente pensa destas vistosas performances e talvez não exibisse tamanha arrogância. Mas não consegue, e, por isso, fica ali, naquele estardalhaço ensolarado, a vacilar entre o ridículo e o patético.
Para o ilustre presidente do PSD da Madeira, o alvo, desta vez, foram as chamadas “causas fracturantes”, que é o nome algo abusivo que foi atribuído aos temas que se ocupam de aspectos importantes da vida quotidiana das pessoas. Que um banco recuse um empréstimo a duas mulheres que vivem juntas, considerando que a situação de lésbicas não lhes permite qualquer solicitação nesse sentido, é algo que afecta o dia a dia de cada uma. E esses são problemas que não podem ser ignorados. Sobretudo com aquele inevitável argumento de que há assuntos muito mais importantes, como o desemprego ou as leis do trabalho (esta é a lengalenga habitual do PCP, que não tem particular simpatia por “temas fracturantes”, embora, às vezes, lá alinhe).
Que disse, então, Alberto João Jardim? Numa alusão à lei sobre a despenalização do aborto, declarou, segundo os hábitos enraizados do conservadorismo nesta matéria, que, “quando se fazem leis contra a vida humana, é um precedente que não podemos consentir para depois fazerem outros direitos ou se ofenderem outros direitos das pessoas em nome do Estado absoluto”. Não vamos discutir. Mas Jardim parece não ter entendido que a lei sobre a despenalização do aborto em determinadas circunstâncias é uma lei que aumenta a liberdade das pessoas, porque não obriga ninguém a fazer abortos, mas permite que quem quiser os faça e quem não quiser não faça. Falar em “Estado absoluto” é um contra-senso.
E falou sobre homossexuais. Para dizer que “querer o casamento de homossexuais e tudo isso que o Governo socialista prepara, essas não são causas, são deboche, são degradação, é pôr termo aos valores que nós, portugueses, a nossa alma nacional, temos desde o berço e que os nossos pais nos ensinaram”. Cá temos o modelo perfeito do pensamento reaccionário: vai-se buscar um princípio suposto intocável, neste caso a “alma nacional” ( Jardim ignora que “a alma é um vício”, como genialmente escreveu Agustina), para interditar qualquer debate racional e ponderado sobre estas matérias, e não se aceitar a pluralidade de posições.
Do berço não me recordo bem, mas lembro-me que os meus pais, felizmente, nunca me ensinaram estas coisas, bem pelo contrário, embora sempre permitindo que eu viesse a pensar o que achasse mais certo. E nada me leva a suspeitar que não fossem portugueses, que não fizessem parte deste demagógico “nós, portugueses” a que Jardim recorre. Os pais da minha mãe moravam na Rua do Noronha, por detrás da Imprensa Nacional, e os do meu pai na Correia Telles a Campo de Ourique. Terão sido menos portugueses por não pensarem o que pensa Alberto João Jardim? Como dizia Pacheco Pereira, se Jardim berrasse menos e pensasse mais…"
Vejam o que sancho Gomes escreveu no blog Conspiração a 8.9.06:
ResponderEliminar"Eduardo Prado Coelho, ou o Escriba do Regime Socialista
Digo-o desde já: abomino o cronista Eduardo Prado Coelho. Leio, sempre que posso, a sua coluna no Público porque gosto de saber o que dizem os outros. Mas de cada vez que leio, mais me convenço que tenho deixar de ler. E não sei o que mais detesto: se as suas dissertações abstrusas sobre Arte ou Filosofia (então não é que este senhor rotula Engels de nulidade?!), ou as suas incursões na Política. E irrita-me, não porque a sua opinião seja divergente da minha, mas porque o homem reclama para si a honestidade e isenção e sem qualquer pejo assume-se como um escriba súcia do mais básico quem me tem sido dado a conhecer.
Vem isto a propósito do seu escritinho, na passada quarta-feira. Quem o ler e não viver em Portugal pensará, com certeza, que estamos a ser governados pela elite política mundial, havendo apenas a lamentar a péssima qualidade da oposição. Aliás, se eu não vivesse no nosso país, acreditaria que era necessário acabar com o raio da oposição inútil e incompetente, e entregar o poder absoluto ao nobre líder político que dá pelo nome de José Sócrates.
Mas a culpa é minha: já devia ter deixado, há muito, de ler o que EPC escreve".
Sancho, é preciso ser míope para não reconhecer o valor intelectual de EPC, a que se rendem figuras de todos os quadrantes politicos e culturais do país.