Procura-se, agora, aliar o som digital (via iPod) a componentes tradicionais de alta-fidelidade, como se a falta de fidelidade a montante pudesse ser resolvida a juzante.
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«O som da música que ouvimos está cada vez pior», assim se intitula um artigo publicado ontem, no Público (Caderno P2), dando conta de que o progresso pode também significar regressão. O som do CD foi já um regressão muito bem vendida, porque soa pior que o vinil, mas o mp3 constitui um retrocesso ainda mais acentuado, em termos de qualidade sonora (alta-fidelidade).
No caso da qualidade do som das gravações, na era digital, a alta fidelidade parece não ser relevante. Está demonstrado que os formatos digitais têm pior qualidade, sobretudo o popular ficheiro mp3, devido à maior compressão do som.
A «revolução digital é irreversível, o CD ou o vinil caem, mas na era do mp3, apesar das inovações técnicas, a qualidade sonora piorou», refere o artigo citado. Numa época «quando quase já ninguém se parece preocupar com o som. Num artigo recente da revista Rolling Stone aludia-se à morte da alta-fidelidade.»
O Público cita um membro dos Radiohead. «Numa entrevista recente o líder, Thom Yorke, argumentava que o mp3 tem limitações. "Em vinil ou em CD o nosso disco soa melhor, o som é enorme, cheio. Em mp3, pelo facto de o som ser comprimido, algumas frequências desaparecem. O resultado é decepcionante."»
E diz-se mais no artigo assinado por Vítor Belanciano:
«Nos últimos anos a revolução tecnológica transformou a forma como os discos são produzidos, misturados e masterizados. Na maior parte das vezes para pior. Os engenheiros de som dizem que o som é comprimido, reduzindo a diferença entre sons altos e suaves, contribuindo para a perda de detalhes. O mp3 exclui informação. O poder emocional da música dilui-se e os ouvintes tendem a sentir-se fatigados, quando submetidos a audições contínuas, pelo facto de ouvirem música onde todos os elementos são subidos e rasurados. O ano passado, o veterano cantor Bob Dylan dizia mesmo que os álbuns modernos soavam todos iguais. "Não existe definição de nada, vozes ou instrumentos", concluía.»
O progresso e a evolução são ambivalentes e têm alguns efeitos nefastos. Não são uma garantia de melhor qualidade e felicidade.
Os melómanos que aliam a sua paixão pela música a um som de melhor qualidade, que proporcione maior prazer por um certo nível de detalhe e realismo do som, são já seres exóticos. Preenchem um nicho de mercado cada vez mais limitado.
Quando, num post anterior, se dava conta de questões relativas à alta-fidelidade e audiofilia, proporcionava-se um momento exótico, deslocado da onda digital e da baixa-fidelidade. E que vende muito bem, apesar da pior qualidade sonora. Quem se importa, afinal, com a qualidade do som da música?
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