O Prós e Contras de ontem, na RTP1, foi uma boa oportunidade para deixar mais à mostra da opinião pública as razões objectivas de queixa que têm os professores, neste momento, de certas decisões e modus operandi do Ministério da Educação.
O resultado é a falta de confiança e esperança por parte de muitos professores. O clima que se criou nas escolas não é bom para se poder construir algo.
Ficaram evidenciadas as fragilidades do modelo de avaliação, que nunca foi testado, e que contém soluções tecnicamente incorrectas e inexequíveis, numa teia burocrática, que irá sugar recursos humanos que deveriam estar ao serviço do ensino e educação das crianças e jovens. Há uma inversão dos papéis dos professores na escola. Alguns serão mais avaliadores do que professores.
Sem falar no facto de ser um modelo de avaliação que visa quebrar o ritmo de progressão na carreira, acima de tudo, como salientou Mário Nogueira da FENPROF. Não é uma avaliação para a melhoria do desempenho. Não é formativa, no sentido de superar dificuldades. Tem uma lógica punitiva. Para impedir que dois terços dos docentes chegue ao topo da carreira. Ponto final. Os jovens professores dificilmente progridem.
Diz-se que se destina a premiar o mérito e a distinguir os bons. Como é isso possível quando o mérito não cabe nas quotas? Há docentes com mérito que nunca serão premiados e distinguidos.
Recorde-se que os professores entram no sistema de ensino por mérito académico e profissional. Fazem um concurso com prova das suas aptidões (estágio) e qualificações. Não entram na profissão por cunha ou através de outros métodos tão portugueses...
Além disso, quer-se implementar tudo com muita pressa, seja de que maneira for. Sem testar, sem corrigir, sem formar os avaliadores, sem dar tempo às escolas para se reeorganizarem para a avaliação dos professores.
Outra falta importante é esta: para o Ministério da Educação parece que para avaliar professores basta ser professor, esquecendo que avaliar crianças e jovens no seu desempenho escolar não é o mesmo que avaliar o desempenho profissional de outros docentes.
O Ministério não está em condições que garantir, como salientou e bem Octávio Gonçalves do movimento PROMOVA, que os avaliadores têm mais mérito e competência do que os avaliados. É outro erro crasso. Quem me avalia tem de provar que tem mais mérito do que eu. É uma lei natural.
Acontece que, em Portugal continental, os professores titulares foram escolhidos através de um concurso, tendo em conta os seus últimos sete anos de serviço, e não através de uma avaliação da sua competência e mérito.
Até Álvaro Santos, presidente do Conselho de Escolas, criado pelo próprio Ministério da Educação, disse ser difícil pôr em prática o modelo de avaliação de professores como está previsto.
Ficou evidenciado ainda o golpe dado na imagem dos professores pela actual equipa ministerial. Por exemplo, a frase célebre da ministra, em que um aluno antes de abandonar a escola já foi abandonado pelo professor. Ou dizer que perdeu os professores e ganhou a opinião pública.
Erros crassos, que a levou mesmo a perder os professores. E implementar reformas no ensino contra os seus principais agentes no terreno é qualquer coisa que é, no mínimo, contraproducente.
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